Uma consulta pública está sendo realizada pelo Serpro desde ontem (11), com a publicação do aviso no Diário Oficial da União. A proposta da estatal visa contratar serviços de uma empresa, que ficará encarregada de fazer a atualização tecnológica dos sistemas legados. A estatal ainda opera sistemas baseados, por exemplo, na linguagem Cobol, que já foi “top de linha” para o processamento de grande porte há 61 anos.
Pela proposta em consulta, a estatal quer a conversão automática de todos os códigos-fonte e migração dos dados dos sistemas, mas de antemão informa que arquitetura dos sistemas convertidos não deve utilizar “componentes ou frameworks proprietários próprios ou de terceiros”. Ou seja, quem realizar o serviço entregará todos os códigos-fontes novos e a propriedade intelectual para o Serpro.
“Todos os componentes dos sistemas convertidos são propriedade da contratante (Serpro), juntamente com os respectivos códigos-fonte, documentação e quaisquer outros artefatos necessários para a manutenção evolutiva e corretiva pela futura contratante”, reforça a estatal em seu documento “Consulta Pública Eletrônica para Contratação de solução de migração de plataformas legadas”, que você pode acessar aqui neste link.
Conflitos internos
Querer fazer essa migração do legado no Serpro é uma coisa; concluir será outra história.
Para lograr algum êxito, a direção da estatal terá que contar com a boa vontade do corpo funcional, cuja média estimada de idade é de 53 anos. E essa mesma direção sempre contribuiu muito para acirrar esse conflito de gerações dentro da empresa.
O último episódio que vazou para a imprensa foi a desastrada declaração do Diretor de Desenvolvimento, Ricardo Cézar de Moura Jucá, que numa vídeoconferência interna ocorrida em 2019, bem antes da pandemia, ao falar sobre os planos da empresa para adotar o Teletrabalho, declarou: “velho não tem que ser teletrabalho, tem de ir para casa”. A área sindical reagiu interpelando a direção da estatal sobre o episódio, mas o caso foi parar na gaveta.
Então indaga-se: a empresa que ganhar esse contrato, cujo preço do serviço ainda não foi definido, contará com a boa vontade dos “velhinhos de 50 anos”?
A desatualização tecnológica no Serpro é uma realidade, mas não por culpa da faixa etária dos funcionários ou por pressão deles para nada ser renovado. Foi a resultante de a empresa passar longos anos sem investimentos sérios e focados no futuro, tanto do ponto de vista dos seus ativos, quanto do seu corpo funcional; misturada com incompetência administrativa. Sem esses investimentos, o Serpro parou no tempo e foi obrigado a contar cada vez mais com um corpo funcional envelhecido (tecnologicamente). Sem esse grupo a empresa já teria paralisado diversas atividades.
Soma-se aos problemas um certo nível de arrogância da ala mais jovem, sobretudo a comandada pelo diretor Jucá, que se acha competente para assumir uma empresa com tantas complexidades como o Serpro. Exemplos de que não estão com essa bola toda ocorreram ainda neste mesmo governo. Basta relembrar a confusão que ocorreu no Siscomex, escândalo que acabou empurrado para debaixo do tapete.