Por Jeovani Salomão* – Participei do meu segundo evento presencial depois do início da pandemia. O primeiro foi a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, onde lancei, presencialmente, meu livro “O Futuro é Analógico”. Apesar de adorar ler e ter um carinho muito especial por Recife, foi um momento estranho. Havia muito mais gente que eu esperava no centro de convenções, mas a concorrência era enorme. Autores aclamados, best sellers e promoções por todos os lados.
Por outro lado, os eventos que fiz virtualmente, com o mesmo propósito, lançar minha obra, foram bem mais calorosos. As pessoas participaram por interesse em meu livro ou, eventualmente, para me prestigiar. O que aconteceu pessoalmente foi frio, enquanto o on-line foi caloroso. O avesso do esperado.
Neste segundo evento, a história já foi diferente. Estava em um habitat conhecido, tanto em função dos temas quanto dos participantes. O “Brasília mais TI”, ocorreu entre 24 e 25 de novembro no Clube de engenharia de Brasília, organizado pelo GForTI, grupo que congrega as principais entidades de tecnologia do DF. Seguindo a tendência do momento, realizado de forma híbrida, alguns participaram presencialmente e outros acompanharam as transmissões pela internet.
Ao final, encerrando o espetáculo com chave de ouro, ocorreu o 11º Prêmio SINFOR, cujo presidente da comissão organizadora foi o estimado Alex Vieira, que já havia contribuído como painelista, quando fez posicionamentos extremamente sóbrios e úteis sobre captação e retenção de talentos . A solenidade, mais uma vez, proporcionou-me imensas alegrias. Em primeiro lugar, por ver um “filho” prosperar, dado que a criação do prêmio ocorreu em 2009, quando o sindicato estava sob minha gestão. Em seguida, por vê-lo sendo retomado, depois da pausa forçada em decorrência da crise provocada pela covid, por fim, em função da minha empresa ter sido premiada na Categoria ESG – Environmental, Social and Governance.
Não é fácil retomar eventos presencias, neste momento do tempo. O que era normal, agora não é tanto assim, tem apenas um tom de “normalidade”, como se fosse o avesso do avesso. Neste cenário, cabe ressaltar a luta dos muitos que tornaram o sonho realidade, sob a liderança do querido amigo e atual presidente do SINFOR, Ricardo Caldas, em nome do qual congratulo a mais de uma dezena de pessoas que trabalharam com imenso afinco.
Aspecto relevante foi a nítida percepção que um erro grotesco do governo anterior, que afastou os empresários do projeto do Biotic, está sendo corrigido no governo atual. Os representantes oficiais presentes no evento demonstraram um desejo pelo diálogo e uma vontade de que o projeto tome as dimensões merecidas. O estrago da miopia pretérita foi gigante, mas sempre há tempo para uma recuperação. Urge que o parque abrigue as empresas o mais rápido possível. Apenas programas, como o belíssimo “Centelha” apresentado pelo Hideraldo Almeida no decorrer do congresso, não são suficientes para a criação de um ecossistema poderoso. Encontros casuais, conversas não agendadas, convívios mais frequentes são os responsáveis por aquecer o ambiente colaborativo.
No conjunto de boas novidades, fiquei bastante feliz ao deparar-me com algumas startups da cidade que começaram a ter sucesso, como é o caso da Vamos Parcelar, da Avaliz e da Instabuy. Torço pelo triunfo destas empresas locais e, quando tive a oportunidade, deixei para aquelas que estão começando o meu recado. Tive a honra de dividir o palco no painel “Empreendendo no Setor de Tecnologia – Uma Visão de Futuro” com o craque Antônio Valdir, superintendente do SEBRAE e com David Leonardo, responsável pelo e-sports na rede pública de ensino do DF. Fomos moderados pelo caríssimo Luiz Queiroz, o qual, de um jeito leve e dinâmico, conseguiu extrair de nós um cativante debate. Minha mensagem para os novos empreendedores foi: “Concentrem-se nos seus clientes. Encontrem problemas reais e os resolvam, gastem a maior parte do tempo descobrindo como melhorar a vida de quem vai usar seus produtos ou serviços, o investimento virá em seguida”. Disse isto, com muita ênfase, no intuito de me contrapor a aqueles startupeiros que gastam a maior parte do tempo pensando em como captar dinheiro e se esquecem da essência dos seus negócios.
Merece reconhecimento, também, o conteúdo de altíssimo nível, contando iminentemente com a “prata da casa”, com a coordenação do amigo, diretor do SINFOR e jornalista Renato Riella. Uma mostra de que Brasília de fato tem o setor como vocação. Mesmo correndo o risco de cometer injustiças, pelas quais desculpo-me antecipadamente, não posso deixar de mencionar a brilhante palestra de abertura feita pelo Eduardo Levy, um dos maiores conhecedores de Telecom do país. Ele explicou com sobriedade e didatismo a chegada do 5G no Brasil e suas implicações para o futuro, ainda, em um ato de pura benevolência, teve a gentileza de fazer referência, mais de uma vez, ao meu livro.
Outros ocuparam posição de relevo, como o amigo Paulo Foina, presidente da ABIPTI – Associação Brasileira de Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação e sua explanação sobre o relatório produzido pela Delloite cuja tema é o “Impacto de Institutos de Ciência e Tecnologia Privados no Brasil”, título da obra, cuja leitura recomendo fortemente. Mais um que se evidenciou foi o professor Gislane Santana, participante de diversas das entidades do GForTI, defensor incansável de projetos sociais (particularmente, eu conheço e apoio os projetos dele há mais de 20 anos) e um dos docentes que mais tem contribuído para a inserção de alunos de graduação de tecnologia da informação no mercado de trabalho (apenas na minha empresa tenho 12 alunos dele contratados e vou contratar mais 5 nos próximos dias).
Por fim, reservei a derradeira menção ao painel que abrilhantou a conferência: “A Presença da Mulher no Mercado de Trabalho no Setor de TI”. Glória Guimarães, presidente do AYO Group e detentora de vasto currículo de sucesso, da qual sou um grande fã, ladeou o palco com duas gigantes, Cristiane Pereira, empresária e VP da ASSESPRO DF e Aline D´Alessandro diretora da IDEALINE e do SINFOR. O debate foi conduzido de forma esplêndida pela Dora Gomes, mostrando os desafios e, principalmente, as superações destas mulheres extraordinárias para se transformarem em evidências do setor. Palmas e mais palmas merecidas para a organização.
*Jeovani Salomão é fundador e presidente do Conselho de Administração da Memora Processos SA, Membro do conselho na Oraex Cloud Consulting, ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional e escritor do Livro “O Futuro é analógico”.