No dia 30 de julho de 2020, o Conselho de Administração da Ceitec SA decidiu “recomendar” a diretoria parar com a pesquisa sobre criação do sensor de testes, uma plataforma para identificar diversas doenças, entre elas, a Covid-19. A pesquisa, segundo contam funcionários da empresa, estava na reta final para ser concluída e ter a submissão do pedido de registro da patente.
A pressão contra o prosseguimento do trabalho teria vindo do conselheiro Jose Luiz Guimaraes Ferreira Neto, segundo contam funcionários da Ceitec. Ele foi o representante do Ministério da Economia. Sua passagem pelo Conselho de Administração da estatal foi polêmica desde o início, pois ele teria entrado com a recomendação de agilizar ou a venda da Ceitec ou o processo de extinção. Que seria de forma sumária, sem nem levar em conta que a empresa desenvolveu tecnologias e era necessário preservar as patentes registradas.
Apesar a “recomendação”, a diretoria da Ceitec decidiu manter o projeto em andamento, batendo de frente contra uma maioria que simplesmente lavou as mãos para o destino da empresa. Como a diretoria dispunha de um teto orçamentário que poderia gastar sem a necessidade de pedir autorização ao Conselho de Administração, partiu então para custear o fim do projeto com esse orçamento, cuja estimativa de gasto teria sido algo em torno de uns 500 mil.
José Luiz Guimarães Ferreira Neto deixou o Ministério da Economia em novembro de 2020, na debandada de técnicos ligados ao ex-secretário Mattar. Foi parar no Conselho de Administração do Serpro, onde se diz “Diretor Executivo/Gerente Geral, segundo o seu perfil no LinkedIn. Cargos que nunca ocupou e o Serpro nem tem claramente em seu organograma.
A Ata desta reunião com informações públicas sobre os motivos desta paralisação foi retirada do site da Ceitec na Internet e não está sendo fornecida pela empresa nem mesmo através de pedido com base na Lei de Acesso à Informação. Apenas consta no site um extrato dos assuntos tratados no encontro dos conselheiros, mas omitiram informações sobre o episódio.
Por que o Conselho de Administração da estatal decidiu cancelar uma plataforma de detecção de doenças como a dengue, por exemplo, que também era capaz de apontar a presença de Covid-19?
Essa caso tende a nunca ser esclarecido. Não há interesse de ninguém, nem mesmo da CPI que investiga a omissão do governo no combate à pandemia, de tentar entender e esclarecer o motivo. Funcionários têm procurado senadores na CPI para pedir apoio nessa investigação e que leve o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, para prestar depoimento. Até agora sem sucesso.
Enquanto o Conselho de Administração tentava forçar a diretoria a encerrar a pesquisa da plataforma, Pontes anunciava na imprensa o sucesso nas pesquisas com um vermífugo, que o Ministério da Saúde em janeiro deste ano decidiu não incluir na relação de remédios como eficazes para tratamento precoce da doença.