Em depoimento hoje (25) na CPI da Pandemia, a médica cearense e secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, acusou o jornalista de dados, Rodrigo Menegat, de ter feito uma “extração indevida” e gerado uma cópia do protótipo do aplicativo TrateCov, que permitia fazer simulações para conferir se o paciente era portador do Coronavírus.
Segundo Mayra, o jornalista passou a fazer a manipulação do aplicativo, com simulações fora do contexto epidemiológico que geravam resultados duvidosos quanto a capacitação da ferramenta de detectar sintomas da Covid-19. E quando o assunto caiu no conhecimento da imprensa, o Ministério da Saúde retirou o protótipo do ar. Mayra chegou a acusar o jornalista de prejudicar um trabalho do ministério que poderia “ter salvado vidas”.
Para corroborar a informação Mayra apresentou laudo feito por peritos que atestariam a ação do jornalista e registro de ocorrências feitos na Polícia Federal. Isso chamou a atenção de alguns senadores da CPI que questionaram o motivo do Ministério da Saúde, ao tomar conhecimento deste “acesso indevido”, não ter solicitado a investigação diretamente à Polícia Federal.
Este site/blog tentou ouvir o jornalista Rodrigo Menegat sobre as acusações da secretária Mayra na CPI da Pandemia sem sucesso. Mas no Twitter o jornalista comentou o episódio, deixando claro que apenas obteve acesso a um aplicativo que estava aberto ao público internauta.
Os indícios de que houve alguma manipulação no TrateCov, para direcionar o aplicativo a recomendar a Cloroquina, com base nas declarações dadas pela própria secretária à CPI, apontam para um outro rumo bem diferente.
Mas não para o jornalista.
De acordo com a secretária Mayra – também conhecida como “Capitã Cloroquina – o TrateCov foi desenvolvido na sua secretaria com apoio de técnicos do Datasus. E o trabalho de montagem do aplicativo foi feito sob a coordenação do diretor do Departamento de Gestão do Trabalho em Saúde – DEGTS, Vinícius Nunes Azevedo.
Vinícius tem perfil no LinkedIn e não consta que o médico conheça informática ou tenha trabalhado no desenvolvimento de aplicativos. Mas de acordo com as declarações da sua chefe, Vinícius foi o gestor do projeto, o que levanta a suspeita de que possa ter sido o responsável pela inserção de parâmetros no aplicativo pelos técnicos do Datasus, que acabavam direcionando as pessoas que buscavam informações com medo de sintomas de Covid ao tratamento precoce com a Cloroquina.
O médico Vinícius Nunes Azevedo não está no Ministério da Saúde à toa. Ele é integrante de um grupo de médicos brasileiros que defendem o uso da Cloroquina. No Facebook se apresenta como um ferrenho eleitor e defensor do presidente Jair Bolsonaro e afirma que “faz campanha de graça”, embora receba um DAS no Ministério da Saúde como cargo de confiança.
Sua devoção ao presidente Bolsonaro chegou ao ponto de até fazer campanha contra a indicação do senador Renan Calheiros (MDB-AL) para relator da CPI da Pandemia.
A acusação ao jornalista, Rodrigo Menegat, que a secretária Mayra Pinheiro sugere ter sido o responsável por divulgação falsa de um aplicativo que já estaria sendo testado no Amazonas, foi contestada e repudiada por vários profissionais que lidam diariamente com o Jornalismo de Dados.
Caberia agora a CPI da Pandemia esclarecer essa questão e convocar para prestar esclarecimentos o médico Vinícius Nunes Azevedo, já que ele teve participação ativa na criação do aplicativo TrateCov. Os técnicos do Datasus responsáveis pelo desenvolvimento também deveriam estar presentes nessa audiência, para que fosse estabelecido os limites de suas participações no desenvolvimento do software.
(Obs: as fotos do perfil do diretor no Facebook foram rasuradas por este site para preservar a imagem da família. A imagem central é da CNN Brasil)