2 – Sobre humor, indignação, Finep e “ombridade” (sic)

Sobre a postagem que gerou a sua carta de “indignação” Ana Carneiro, que eu deduzo que seja a mesma Ana Cristina Rosado Carneiro*, Analista da Finep, lamento profundamente que uma bobagem como aquela tenha lhe causado tamanho mal-estar. Em função disso e me antecipando à possibilidade de algum dia a própria Finep vir a protestar contra a postagem – já que eu não sei se você me escreveu por procuração dela –  peço humildemente desculpas pelo inconveniente.

Agora quanto ao resto, sobre  o seu questionamento em relação aos meus “30 anos de profissão”, ou à minha “hombridade” ( sim, com h) pelo lamentável fato ocorrido, tenho a declarar o seguinte.

1 – Realmente tudo o que posso mostrar sobre o meu currículo profissional é o diploma de Bacharel em Comunicação Social. Estou longe de chegar ao pé do seu, que é vasto em títulos, espero que também em reputação. Nesse quesito prova de conceito você ganhou disparado. Agora vamos aos demais itens da sua carta que, até em tom grosseiro, questiona meu profissionalismo, a minha hombridade e até deixa margens para  questionar a minha honorabilidade.

2 – Os problemas da Finep ou da Ciência Brasileira são dignas de preocupação sim. Tanto é verdade, que se você olhar bem para o “print” da página no dia que publiquei a infeliz piada, ao lado havia a cobertura que fiz do Ministro Marcos Pontes (MCTIC) em comissão da Câmara dos Deputados, num audiência pública em que toda a comunidade científica esteve presente, justamente para falar de contingenciamento (cortes) no orçamento do ministério e dos fundos setoriais. Indago de você: em quantos sites especializados em Ciência e Tecnologia ou na grande imprensa você viu cobertura semelhante?

 3 – Ocorre Ana, que não foi eu que criou esses problemas de cortes orçamentários e muito menos acho que uma piada como a que publiquei contribuiu para agravar essa situação. Portanto, queixe-se da situação sim, mas não venha me responsabilizar pela crise que a Ciência esteja passando no Brasil. Por duas razões bem simples.

3.1 – A primeira razão é que eu não apoio este ou qualquer governo, enquanto jornalista. Portanto, não sou o porta-voz dele e se ele está criando confusão com cientistas, isso não me admira em absolutamente nada, dado o grau de intelectualidade dos seus representantes, que adoram Harvard sem nunca terem pisado lá, nem como turistas, suponho. Também não fui seu eleitor, portanto não me sinto responsável agora por tudo de ruim que ele possa estar produzindo na sua área.

3.2 – Em segundo lugar, se você deseja questionar comportamentos diante de uma crise, comece por questionar a representação da comunidade científica e tecnológica deste país. Não fui eu quem se precipitou e correu para ir bajular um presidente recém eleito e ministro recém indicado, ainda na fase da transição de poder, com direito a fotografia e tudo. E ainda por cima saindo de lá em rasgados elogios acreditando que, “agora sim, a Ciência Brasileira seria ouvida”. Não se comportaram bem desde o início. No afã de aderir, de bajular, se esqueceram de fazer o dever de casa, de cobrar do ministro Marcos Pontes, se naquela época ele já estaria preocupado com possíveis cortes no orçamento pela área econômica, que prometia um rigoroso “ajuste fiscal” (foto acima).

4 – Ahh antes que eu me esqueça, além da comunidade científica, o setor empresarial de Tecnologia também correu para aderir ao ‘bolsonarismo’ e hoje fica pelos cantos amuado e fazendo beicinho como se tivesse sido traído. Recomendo que todos deem às mãos e façam arminha, que os problemas irão desaparecer.

5 – Sobre a Finep e a sua recomendação, para que eu seja “mais cuidadoso com uma instituição tão relevante para o nosso país”, digo que não desconheço a relevância dela. Porém, já que me deu a oportunidade, tenho críticas a fazer quanto ao seu papel e os resultados alcançados.

6 – Para uma estatal, cuja missão é promover a Inovação no Brasil, creio que os resultados estão muito abaixo do esperado. Digo isso com base no IGI – Índice Global de Inovação de 2018, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Naquele ano, mesmo tendo subido cinco posições no ranking, o Brasil – a oitava economia do mundo – figurava apenas na 64ª colocação.

E isso num ranking de 126 países. Pior, nesse ranking, a liderança na América Latina em Inovação ficou com o Chile. 

7 – Então dona Ana Carneiro, diante deste cenário desanimador, questiono se seria papel da Finep, por exemplo, aplicar dinheiro público na Positivo Informática, para que a empresa pudesse ampliar a sua fábrica de notebooks, como ocorreu durante o Governo Lula. Que “inovação” tivemos com isso?

8 – Também indago se é papel da Finep participar de compra e venda de títulos públicos no mercado financeiro, se remunerando com  isso e pagando dividendos para o seu corpo funcional, quando deveria estar aplicando esses recursos em pesquisa científica.

9 – Questiono com base em relatório de Auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) de 2017, referente as contas da Finep em 2016. O órgão identificou que 28% das receitas auferidas pela Finep naquele ano, “decorrem da mera aplicação dos recursos do caixa da empresa em títulos públicos ou na própria conta única da Secretaria do Tesouro Nacional”.

10 – Por que a Finep preferiu ganhar R$ 565 milhões com operações de títulos públicos e valores mobiliários, um montante considerado pela CGU “bem superior ao lucro líquido da companhia (R$ 162 milhões)” ?

11 – Ou seja, senhora Ana Carneiro, o lucro apresentado pela estatal Finep no seu balanço referente as contas de 2016, não veio de sua intermediação como um agente financiador da inovação brasileira junto ao mercado empresarial, feito um pequeno banco de fomento. Veio foi da ciranda financeira, de bons resultados com a captação de títulos públicos a uma taxa estimada na época de TJLP+1%, e aplicado a Selic. Indago se a Finep continuou nessa ciranda financeira em 2017, 2018 e se pretende continuar agora em 2019, apesar dos cortes orçamentários. Aguardarei sua resposta.

12 – Em resumo Ana Carneiro, aquela publicação minha não passa de “besteirol”, aquelas piadas com memes que abundam a Internet e acredito que elas têm apenas um objetivo: divertir pessoas cansadas de tanto ódio, de tanta exposição, de tantos egos feridos, de tanta ostentação, politicagem, sacanagem, demonstrações de racismo, homofobia, pedofilia,  antissemitismo, etc, etc, etc…, que abundam as redes sociais.

*Ahh ía me esquecendo: nos divertem também contra a chatice dos rótulos propagados por pessoas mal humoradas ou mal resolvidas e extremamente arrogantes. Quanto à questão se tenho ou não “ombridade” (sic) , apenas prefiro declarar que esse substantivo feminino – que vem precedido pela letra “h” – tem diversas qualidades, mas eu prefiro declinar da honra de falar na primeira pessoa. Espero que algum dia alguém me faça justiça quanto a isso.

*Gráficos CNI. Imagens e foto capturadas na Internet.

Currículo da Ana Cristina Rosado Carneiro, Analista da Finep:

Graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993), especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro(1996), especialização em Engenharia Econômica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro(2002), especialização em DFA em Engenharia Civil – Ênfase Águas e Resíduos pelo Instituto Superior Técnico(2009) e mestrado em PEC – COPPE/UFRJ – Programa de Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro(2008). Atualmente é Analista da Financiadora de Estudos e Projetos / FINEP. Tem experiência na área de Engenharia Sanitária. Atuando principalmente nos seguintes temas: economia, educação, equidade.