TrateCov não foi “violado” por jornalista, conclui TCU

Ao responder à consulta feita pela CPI da Covid-19, o relator do processo, ministro Vital do Rego, com base em investigação feita pela Secretaria de Fiscalização de TI, concluiu que o TrateCov – aplicação do Ministério da Saúde que recomendava tratamento precoce com uma série de medicamentos sem eficácia comprovada – não foi violado pelo jornalista de dados Rodrigo Menegat.

O jornalista foi o primeiro a denunciar nas rede sociais, que o código-fonte do TrateCov estava aberto e disponível para quem quisesse pesquisá-lo. O TrateCov foi lançado em versão experimental no início do ano em Manaus, em cima da crise de oxigênio que assolava a capital amazonense. Basicamente o aplicativo é uma espécie de calculadora que ajudava o interessado a fazer um diagnóstico se tinha ou não Covid.

Porém Menegat constatou que a aplicação direcionava o paciente para o tratamento precoce da Covid-19 com os seguintes medicamentos: ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, sulfato de zinco, doxiciclina, zinco e dexametasona. Fosse qual fosse a pesquisa, o resultado era sempre a indicação de um desses remédios que o bolsonarismo costumava defender para tratamento precoce da doença.

Após a denúncia, o Ministério da Saúde retirou o aplicativo do ar e passou a trabalhar com a narrativa de “ataque hacker”, segundo a versão dada pelo então ministro da Saúde, general Pazuello.

A confusão foi parar na CPI da Covid-19 e, quando chamado para dar a versão, Pazzuello sustentou a mesma informação. Não satisfeitos, os senadores da CPI convocaram depois para prestar maiores esclarecimentos, a médica cearense e secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida popularmente como “Capitã Cloroquina”.

Jornalista/hacker

Na CPI, Mayara afirmou no dia 25 de maio que o TrateCov, desenvolvido por interesse da sua secretaria, teria sido “violado” por um jornalista. E apresentou uma perícia na qual apontava que Rodrigo Menegat teria feito uma “extração indevida” e gerado uma cópia do protótipo do aplicativo que permitia fazer simulações para conferir a presença dos sintomas do Coronavírus. Para corroborar as suas afirmações, apresentou um parecer técnico assinado pelo presidente da Associação Nacional dos Peritos Forenses, que não tinha valor legal.

Ontem (29) em sessão plenária do TCU, o ministro Vital do Rego rechaçou as acusações de Mayara e Pazzuello, após a equipe técnica da Sefti constatar que não houve violação alguma da aplicação.

Agora, de posse do parecer do TCU, a CPIda Covid-19 tem de esclarecer publicamente essa acusação feita a um jornalista por Pazuello e Mayara.

E talvez fazer novas convocações dos dois para arrancar maiores explicações sobre como, por exemplo, a Polícia Federal não foi chamada para investigar a acusação de violação do aplicativo, se ambos tinham tanta certeza de que houve um “ataque de “hacker/jornalista” desmentido agora pelo TCU.

Resta também aos senadores tentarem entender o porquê de uma associação de peritos aceitar apresentar um laudo, que além de não ter valor legal para sustentar a farsa do Ministério da Saúde, acabou contestado pelos técnicos do TCU.

Este Blog continua defendendo que a CPI deveria convocar todos os técnicos de informática do Datasus que possam estar envolvidos com a construção dessa versão de “ataque hacker” e do aplicativo, em si. Além do então diretor do Departamento de Gestão do Trabalho em Saúde – DEGTS, Vinícius Nunes Azevedo, apontado por Mayara como responsável pelo desenvolvimento do aplicativo e demitido logo após a descoberta da fraude pelo jornalista de dados.

*Em tempo: o médico Vinícius Azevedo, que nem especialista em informática é, apagou o seu perfil no Linkedin tão logo seu nome surgiu na CPI da Covid-19.