Na semana passada o presidente Jair Bolsonaro foi ao Rio Grande do Norte, terra do ministro das Comunicações, Fabio Faria. Lá ele participou da inauguração do projeto “Wi-Fi na Praça”, na comunidade de Angélica, que fica no município de Ipanguaçu (RN).
A pequena comunidade é a primeira do país a receber o programa de conectividade, graças a uma antena instalada no local pela Telebras. Ela permitirá que a pequena localidade possa ter uma conexão com a Internet de forma gratuita, com velocidade de 20 Mbps, num raio de cobertura de 200 metros.
Para um Brasil conectado há anos, isso pode parecer pouco. Porém, para um brasileiro excluído, à margem de uma sociedade, que não tinha água para beber e muito menos acesso à informação, isso pode significar tudo.
O “Wi-Fi na Praça” usa o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), até agora praticamente sem utilidade fora da área militar, mas consumindo milhões de reais em combustível no espaço. Foi negligenciado pelo então ministro astronauta, Marcos Pontes, quando ainda estava sob sua esfera de controle. Para não entrar em atritos com o Ministério da Economia, que só pensa em privatizar, Marcos Pontes lavou as mãos para a empresa.
Curiosamente a estatal também foi deixada de lado pelo atual secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Vitor Menezes, quando este ocupou a Secretaria de Telecomunicações no MCTIC – Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Menezes preferia fazer acordos duvidosos de conectividade com a RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa.
Discursos contraditórios
Houve uma mudança de postura no governo, que contradiz com o discurso de Marta Seillier, do Ministério da Economia, que continua fiel ao “ex-chefe” Salim Mattar e defende a privatização desta estatal. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, não parece interessado em vender nada, porque tem um satélite nas mãos para potencializar o governo em políticas públicas de conectividade:
Faria pode entregar ao presidente um projeto, que não somente o beneficiará politicamente no Estado, mas resgata um papel histórico que marcou a recriação da Telebras no final do Governo Lula. Que acabou negligenciado pelos demais governos para não prejudicar o “bom relacionamento” com as empresas de telefonia.
Deu à estatal o poder de mostrar que, com uma simples antena instalada numa comunidade pobre, pode garantir o fim da exclusão digital da população daquela localidade. Foi para isso que a Telebras foi recriada, para levar a banda larga aonde as empresas de telefonia não vão porque não dá lucro.
A isso se dá o nome de “política pública”, coisa que os burocratas dos Governos Dilma, Temer e, parte do Ministério da Economia no Governo Bolsonaro, desconhecem. Pois nunca tiveram problemas com água e Internet. Em seus confortáveis gabinetes, não sabem que existem dois países no Brasil: os que têm tudo e os que não tem nada, os excluídos.
Esperar que Marta Seillier ou Vitor Menezes saiam dos seus confortáveis gabinetes para tentar entender isso é um tanto demais. Que ela gaste o seu salto-alto numa comunidade pobre – antes de sair pregando as privatizações nas TVs fechadas ou Vitor lavando as mãos para elas – será uma tarefa difícil. Mais fácil é levar o sinal de satélite para lá.
Porque simplesmente esses burocratas não estão preocupados com a população, não se sentem obrigados a pensar nos carentes. Apenas querem bajular o “chefe da vez”. E se este quer vender tudo, não importa o custo social disso, pouco se importam. Porque o único objetivo deles é se dar bem, seja em que governo for.
Caberá à Fábio Faria, como político, entender o alcance da decisão que tomou e repeti-la no resto do Brasil ainda carente de serviços básicos como o acesso à Internet, que se tornou um direito fundamental para todo cidadão. Tem uma oportunidade de ouro de deixar este ministério de cabeça erguida, podendo dizer: “eu mudei uma realidade cruel que existia no Brasil, onde a Internet não era para todos”, fazendo piada com um velho e desgastado slogan de adversários que só ficaram no blábláblá político.
Bolsonaro tem agora os elementos para compreender que, se a sua futura canetada for pela privatização da Telebras, isso significará deixar milhões de brasileiros sem um serviço, sem informação e conhecimento, à margem da sociedade. Agora ele pode compreender o significado político das tabelinhas que Marta Seillier e Salim Mattar empurraram para ele, para obrigá-lo a tomar uma decisão sem conhecer a realidade do país.
Já à Telebras, se posso dar um conselho, segue este: não dá para a empresa não aproveitar essa oportunidade de mostrar na prática o seu valor.
Onde está a Comunicação desta empresa que não se deu nem ao trabalho de atualizar a sua página no Twitter? Vão esperar que o ministro também faça isso? Fui nela atrás dessa notícia e a última atualização que vi foi a postada logo abaixo.
*Tomem vergonha na cara e justifiquem os seus salários!