Por Mônica Cerqueira* – O mercado acompanha atento o caso das Lojas Americanas, quando foram encontrados R$ 20 bilhões em inconsistências contábeis nos balanços da empresa. Muitos falam em rombo, mas isso não corresponde à realidade. O que houve foi uma somatória de lançamentos contábeis feitos de forma errada nas demonstrações financeiras da varejista.
Alguns erros: a Americanas tinha um volume da ordem de R$ 15 bilhões a R$ 17 bilhões de financiamentos a fornecedores feitos por via bancária e que, portanto, deveriam constar como dívida financeira no balanço. Em 2016, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) chegou a divulgar um ofício orientando as varejistas a abandonar essa prática contábil e a fazer os lançamentos da forma correta — justamente para evitar distorções.
No caso das Americanas, esse volume de dívida bancária não estava nem mesmo totalmente refletido na chamada conta de fornecedores, que traz os valores devidos. No balanço do terceiro trimestre, essa conta era da ordem de R$ 5 bilhões. Ou seja, a conta de fornecedores da empresa foi reduzida na ordem de bilhões de reais, mascarando a situação real da companhia.
Outro problema é que quando uma empresa paga juros de dívidas bancárias, isso precisa ser demonstrado em seus resultados como despesa financeira. No caso das Americanas, com os juros pagos aos bancos sendo usados para reduzir a conta de fornecedores, eles não foram lançados da forma correta. A confusão foi tamanha que ainda não é possível saber qual será o impacto negativo no patrimônio líquido da empresa.
Sem dúvidas, essa é uma história capaz de deixar qualquer tomador de decisão de cabelos em pé. Afinal, como foi possível errar durante tantos anos (os especialistas estimam que seriam mais de quatro)? Como a auditoria da própria companhia, a PwC, não apontou nenhum problema nos balanços? Foi ou não foi fraude?
A natureza dos equívocos ainda será apurada, mas uma coisa já é possível afirmar: existem mecanismos de tecnologia suficientes para auxiliar companhias no que diz respeito à transparência e à qualidade das informações contábeis, independentemente do porte. Vale lembrar que os R$ 20 bilhões fazem parte de um ecossistema composto por muitos períodos. Se os dados do balanço estivessem à disposição dos clientes e investidores, seria muito mais fácil para os tomadores de decisão avaliarem os dados financeiros, administrativos e contábeis de forma 360, facilitando mais revisões dos números e tornando os equívocos mais evidentes. Quanto mais pessoas têm acesso a eles, mais holofotes, mais controle e, consequentemente, menos erros.
Na minha visão de especialista, os dados captados precisam ser criticados; precisam de análises para entender como a empresa se comportou no que diz respeito aos fornecedores, aos clientes e à estrutura de negócios. Quais foram os critérios de distribuição? Quais as atribuições de cada ator? Quais as responsabilidades?
A tecnologia é a fórmula da transparência porque permite mais controle. Uma vez que temos dados imputados e criticados, uma situação de erros ou de fraudes pode ser mitigada em até 85%.
Os outros 15% são informações que fazem parte do dia a dia e das áreas de decisão da companhia; é possível inclusive deixar à disposição dos principais executivos business intelligence interativos que possam ser consultados sempre que necessário. De forma disruptiva, uma companhia consegue estruturar o passado, o presente e o futuro para que todo e qualquer desvio seja calculado em formato de previsões.
Atualmente, existe a possibilidade de as empresas terem um business intelligence cognitivo, ou seja, ele consegue acompanhar as movimentações em tempo real e com isso, os tomadores de decisão conseguem perguntar e avaliar a qualidade dos dados. Por exemplo, existiu a emissão de um documento fiscal, entender a periodicidade do cliente, qual a saúde financeira no que diz respeito as condições de pagamento ou até mesmo entender vantagens competitivas. Então, os desdobramentos faz com que o business intelligence ajude a aumentar a interação entre clientes e fornecedores, aumenta a produtividade de coleta de dados, programação financeira e ocorre a otimização de operação.
Não se trata de solução mágica, mas sim de manter todos antenados. Existe tecnologia para isso, e com ela – sejam erros ou sejam fraudes – tudo fica mais difícil de passar despercebido.
*Mônica Cerqueira é CEO da Make the Way