Em que pese o primeiro dia do evento ter sido bom e a discussão relevante (alguns assuntos publicarei ainda hoje aqui) o TecFórum promovido pela Brasscom me deixou com uma certa dúvida.
Onde estavam alguns personagens que por lá passaram ontem, e deixaram para o público uma mensagem muito parecida?
O discurso recorrente era praticamente o mesmo, embaladas em mensagem de otimismo: “este governo, enfim, vai destravar os nós regulatórios que por anos impedem o país de crescer”.
Ouvi isso sair da boca, por exemplo, de um Julio Semeghini – atual secretário-executivo do MCTIC, quase um vice-ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. Também repetiu esse mesmo discurso a doce e bela Camila Tapias, vice-presidente de Assuntos Corporativos e Regulatórios, Institucionais, Sustentabilidade da Telefônica Vivo.
Eu não estou dizendo que isso não possa ocorrer, que este governo não tenha um discurso bem sedutor, que é o de tirar o peso do Estado na Economia. No setor de Telecomunicações, por exemplo, que ele não tenha a disposição de corrigir erros do passado, que engessaram o setor com amarras regulatórias até ultrapassadas pelo avanço da tecnologia.
O que eu estranho é que “esse governo”, dito ontem, ainda é o “mesmo governo” que ocupa a moita desde os tempos em que o “grande satã Partido dos Trabalhadores” comandava o país, na primeira gestão Dilma Rousseff, que começou em 2011. Se lembram?
Sim, os representantes do extinto Ministério das Comunicações, incorporado pelo da Ciência e Tecnologia no Governo Bolsonaro, ainda são os mesmos desde 2011. Na pasta pouquíssima coisa mudou, houve uma ligeira dança de cadeiras, se muito, ou apenas mudanças de nomenclaturas de diretorias.
Na Anatel, então, nem se fala. Foi criada após a privatização do setor de telefonia, justamente pelo partido do secretário Semeghini: o PSDB. E de lá para cá, nem com o PT no poder a tucanada largou o pirulito.
Vou ficar só no nome de Semeghini para cumprir a liturgia do cargo. Mas peguem a programação da Brasscom e vejam os nomes que estão por lá. É a mesmíssima turma que ditou as regras regulatórias do setor de Telecomunicações nos últimos 10 anos, pelo menos.
Então gente, vamos manter um discurso otimista de que em breve o Brasil vai parar de discutir o que fazer com orelhões ou como a Internet vai chegar na casa do cidadão que mora lá em “São João da Caixa-Prego”, e partir para uma coisa mais efetiva.
Eu quase tive uma crise de gargalhadas ao ouvir Semeghini dizer que, enfim, o ministro e astronauta Marcos Pontes destravou o acordo da base de lançamento de foguetes de Alcântara.
Não que isso não seja mérito de Marcos Pontes. É sim. A gargalhada quase explodiu porque ouvi Semeghini reclamando de algo, que começou a ser travado no governo de um presidente ao qual ele serviu como deputado federal pelo PSDB: Fernando Henrique Cardoso. Isso foi um tanto demais para o meu senso de humor.
Paro por aqui. O que ocorrer, se ocorrer, será mérito, sim, do Governo Bolsonaro. Esse mesmo governo que tem a capacidade de ficar brigando no Twitter enquanto a terra plana gira em torno do seu eixo. Caso para diversos tipos de estudos pelos próximos anos.
*Mas daí virem dizer “agora vai” porque o presidente mudou, respeitem os meus cabelos que já estão começando a ficar brancos. Taoquei?