Por Alex Mauricio Tenorio Magalhaes* – Poucas empresas estão se dando conta disso, mas a implantação do Pix deu início ao que podemos chamar de revolução digital base do Open Banking brasileiro. Além da aceleração dos processos de digitalização da economia trazida pela pandemia, ela representa a abertura do mercado financeiro que está mudando completamente o modo como fazemos negócios.
A criação do Open Banking foi apenas o primeiro passo desta revolução. Com ele, clientes de produtos e serviços bancários podem compartilhar suas informações com mais de uma instituição. Na prática, isso significa que este cliente pode realizar movimentações financeiras em diversas plataformas e não mais apenas no banco em que tem conta.
Essa possibilidade, por si só, já deve estimular a criação de novos modelos de negócio por parte dos bancos, que agora deverão concorrer continuamente pelos clientes produto a produto. Mas a mudança não para por aí. O próximo passo, já em curso, é o Open Finance. Falamos agora de um sistema financeiro aberto, onde o cliente vai decidir que instituições poderão acessar suas informações sobre investimentos, fundos, seguros etc. Mais que isso, caberá também ao cliente definir para quem este acesso será concedido e por quanto tempo.
Não se trata apenas de ampliar a concorrência entre as instituições já estabelecidas, mas de abrir o mercado para novos modelos de produtos e serviços. Estes poderão ser oferecidos também pelas fintechs ou outras empresas do setor privado que, com mais informações disponíveis e autorizadas pelos próprios clientes, poderão intermediar operações de empréstimos e financiamentos, reduzindo juros e taxas e aumentando as linhas de crédito e, claro, a competição.
Um exemplo do que poderá ocorrer: uma pequena empresa que tenha recebíveis e que já os utiliza como garantia para empréstimos, ficará visível e poderá receber ofertas dinâmicas buscando a melhor taxa. Com o Open Finance, mesmo que estes recebíveis tenham sido emitidos por um determinado banco, eles poderão ser oferecidos.
Estamos falando de um mercado que vai operar com o compartilhamento padronizado de dados e serviços e isso terá que ser feito, a partir do consentimento do cliente, por meio da abertura e integração de sistemas. Essa integração deve garantir a reciprocidade e a interoperabilidade entre todos os participantes, sejam eles do mercado financeiro, de capitais, de seguros, de previdência ou de capitalização.
A revolução está aí. Na possibilidade de criar uma rede integrada que permita a clientes e empresas utilizarem estas informações. Um exemplo de oportunidades está na área de comércio eletrônico. Somente no ano passado o setor cresceu 16% no Brasil, com o cartões de crédito representando quase 45% dos valores transacionados.
A criação do Pix e a digitalização financeira devem estimular ainda mais o Open Finance, alavancados pela tendência da eliminação do uso de dinheiro em espécie. Para se ter uma ideia, o uso de dinheiro em pontos de venda vem caindo desde 2018 e a previsão é de que, até 2024, ele represente menos de 25% dos pagamentos feitos no varejo.
O cenário está desenhado e o futuro parece bem claro. Aproveitar as oportunidades que estas mudanças trarão, no entanto, exige a construção de uma infraestrutura de integração que permita à empresa — seja do setor financeiro ou não — trocar informações com os demais players do mercado. Esse desenvolvimento não é core de nenhuma delas, independente do tamanho, o que torna necessária a busca de um parceiro, distribuidor de conhecimento e soluções, capaz de atuar como um portal propulsor para a criação e manutenção desse ecossistema de negócios e inovação. É este parceiro que vai funcionar como fio guia entre clientes e empresas, fintechs, startups, cooperativas e demais instituições.
Sua empresa já está pronta para isso?
*Alex Magalhães é diretor de Financial Services da Solutis.