Em carta dirigida ao presidente Lula e ao vice, Geraldo Alckmin, o Setorial Nacional de Ciência e Tecnologia do PT decidiu apoiar o nome de Marcos Mazoni para retornar à presidência do Serpro. Ele presidiu a estatal entre 2007 e 2016. Na carta os integrantes deixam claro que compreendem que o momento “é de fortalecimento institucional, diálogos incessantes na tentativa de conseguir maior apoio da base aliada e, acima de tudo, focalizando na atração de mais parceiros, defensores e executores do projeto de governo eleito”. Mas alerta que a escolha dos integrantes do governo nas estatais deve ter como foco evitar “rupturas com a base de apoio popular e partidária que tanto lutou para a nossa vitória nas urnas”.
A carta de apoio ao nome de Mazoni vem assinada por diversos deputados e senadores, além de prefeitos e governadores, todos representantes de siglas como PT, PSB, PV, PSOL, PC DO B, REDE, MDB, PSD e PSDB. O texto básico foi desenvolvido pelo setorial do Paraná, que sempre apoiou a indicação de Mazoni quando este presidiu o Serpro pela primeira vez.
Carta paralela
Entretanto, numa carta paralela produzida pelo Setorial de C&T do PT no Ceará, além do apoio a Mazoni, consta também o pedido de nomeação para uma diretoria técnica na Dataprev do funcionário Roberto Carneiro da Silva, que se aceito poderá ocupar ou a Diretoria de Tecnologia e Operações ou a de Produtos e Soluções. Na Dataprev o presidente já foi escolhido e anunciado pelo Ministério da Gestão e marcará a volta de Rodrigo Assumpção ao comando da empresa. Ele somente deverá assumir a função em março e até lá estará montando a sua equipe. A conferir como ele receberá a notícia de que sofre pressão para ceder ao setorial um dos cargos de direção. A carta de Fortaleza conta com o apoio da Fenadados e de sindicatos.
Estranho no ninho
Curiosamente o Setorial de C&T do Ceará decidiu encampar também a candidatura para presidente da Telebras – que não faz parte do foco de atuação da entidade – do ex-deputado federal, Jorge Bittar, sob alegação de que o engenheiro e ex-parlamentar seria “o nome dos sindicatos de Telecomunicações”.
Se for, os sindicatos de Telecomunicações precisam se informar um pouco melhor sobre Jorge Bittar. Ao alegarem que ele inclusive participou da equipe de transição e definiu os rumos do setor de Telecomunicações, se esqueceram de cobrar dele uma participação mais efetiva em favor da estatal.
Ao contrário, as declarações de Jorge Bittar durante a Transição foram desencontradas, totalmente apartadas dos interesses da estatal. A ponto de a equipe de Transição que se debruçou na área de Comunicações, após 34 páginas de relatório, sequer traçar algum objetivo concreto para a estatal.
Emitiu apenas um alerta em favor da liberação dos R$ 800 milhões de seu caixa, que foi represado quando ela tornou-se dependente do Orçamento da União, a mando do Ministério da Economia. Mas sequer informou para quê.
A Transição apenas informou o óbvio: a Telebras, estatal do setor de Telecomunicações, poderá contribuir “para a expansão da infraestrutura, em articulação com diferentes provedores, em especial de pequeno porte”. Não levaram em conta que bem ou mal essa política já vem sendo executada na empresa. Nem sequer lembraram o sucesso do programa Wi-Fi Brasil executado pela Telebras em parceria com empresa privada, que já conectou 25 mil localidades remotas com Internet via satélite.
Bittar apenas se limitou a dizer para jornais e veículos especializados com quem mantém relações de amizade, que o “papel da Telebras deveria ser revisto”, sem explicar porquê.
Em paralelo, sempre defendeu subsídios com recursos do FUST para compra de celulares pelos usuários de baixa renda ou para baratear o custo da conexão de Internet das empresas de telecomunicações. Tudo o que as teles e os fabricantes desejam: universalizar a Internet desde que o contribuinte pague por ela duas vezes: 1 – no imposto como incentivo fiscal ou subsídio via FUST a ser repassado para elas como “política pública” e, 2 – na conta de telefone quando forem acessar a Internet.
Portanto, parece que o Setorial de C&T cearense resolveu dar um tiro no pé da estatal ao apoiar um nome que não guarda nenhuma relação com a Telebras, embora já tenha presidido a estatal no Governo Dilma e não se tem notícia de nada de relevante que tenha feito no comando dela.
Aliás, se Bittar estivesse tão preocupado com a Telebras, teria usado seu prestígio político para retirar a empresa da lista de privatizações. A estatal continua no limbo político, pois permanece como empresa pronta para ser vendida pelo governo, mesmo depois de ter sido nomeada a gestora da rede privativa de telecomunicações do governo federal.
Rede que foi totalmente ignorada pelo GT de Comunicações da Transição. Em 34 páginas de relatório não há uma única menção sobre a construção dela e a gestão a ser feita pela Telebras.