O Serpro anunciou no último dia 30, a celebração de uma “parceria” com a Prefeitura de Florianópolis (SC), na qual o sistema de Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) do município passou para o ambiente de nuvem da estatal: o “Serpro MultiCloud”. Como é de praxe nesta estatal desde o Governo Bolsonaro, o valor desse contrato e o que ele representa para as contas da empresa não foram revelados. Porém, a Multinuvem do Serpro é apontada como uma das mais caras do país, segundo pode constatar a Secretaria de Governo Digital do Ministério da Gestão, o que pode significar que a estatal se deu bem em cima dos “trouxas tecnológicos” catarinenses.
O que não deveria ser a verdade dos fatos, já que o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), também é dono de empresas na área de informática e call center. Portanto, deve saber bem o que é um serviço cobrado mais caro do que deveria, embora quem irá pagar seja o contribuinte catarinense e não ele.
Topázio Neto é o dono da Flex Gestão de Relacionamento S/A, que por sua vez é sócia majoritária da Code 7 Software e Plataformas de Tecnologias LTDA, uma empresa de TI que encontra-se em recuperação judicial, e segundo o SINDPD-SC está sendo processada no judiciário catarinense por diversos problemas como, Assédio e danos morais, falta de pagamento de FGTS, horas extras e, pasmem, até por expor trabalhadores a contraírem sarna.
“Na Justiça do Trabalho de Santa Catarina há inúmeras condenações das empresas de Topázio Neto por assédio moral, danos morais, não pagamento de 13º salário, férias, FGTS, contribuição previdenciária e horas extras, pela inadimplência do pagamento de verbas trabalhistas e rescisórias”, denuncia o sindicato em nota oficial do dia 12 de junho deste ano. Que também informou condições insalubres em uma das empresas levando os trabalhadores a contraírem sarna.
A conclusão dos trabalhos de migração do sistema emissor de notas fiscais da Prefeitura de Florianópolis para a nuvem do Serpro levou toda a cúpula bolsonarista da estatal para um encontro com Topázio Neto. Além do presidente do Serpro, Alexandre Amorim, também estiveram presentes os diretores Andre de Cesero (Relacionamento com Clientes) e de Operações, Leandro Garcia. E todos com direito a registro na página oficial da estatal, sobre a grande sacada da empresa em atuar nos municípios, sobretudo naqueles ligados ao PSD de Gilberto Kassab, de quem Alexandre Amorim é apadrinhado politicamente.
Tem sido recorrente as viagens de Amorim e Cesero para o Sul do país, onde o presidente do Serpro e seu diretor de Relacionamento com Clientes vêm tentando inserir na estatal contratos com prefeituras locais, sobretudo naquelas onde o prefeito será candidato à reeleição. É o caso de Topázio Neto em Florianópolis e ele tem chances de ganhar mais um mandado, em 2024.
Além disso, quando o Serpro fecha um acordo com uma prefeitura, de quebra também abre caminho para empresas de informática locais que estejam interessadas em participar como candidatas a prestadoras de serviços na rede multinuvem da estatal. A depender do conteúdo desenvolvido por elas voltado para governo digital, a chance dessas startups poderem interagir com o governo federal através do Serpro é enorme e com dispensa de licitação.
Além de Santa Catarina, o Serpro de Alexandre Amorim tem grande interesse pelo Paraná. Pois foi lá que ele também ganhou o apoio político do prefeito de Curitiba Rafael Grecca, não por acaso filiado ao PSD de Gilberto Kassab. Mas não se trata apenas de política. Amorim quer usar a estatal para amplificar a participação do Instituto Cidades Inteligentes no setor de serviços de informática.
Essa “parceria” foi discutida pelo diretor André de Cesero em agosto deste ano (de paletó sem gravata ao lado direito do presidente da entidade) com a cúpula do Instituto das Cidades Inteligentes (ICI). Amorim já presidiu o ICI em 2021 e deixou após a vitória de Lula na eleição presidencial, quando foi indicado pelo Centrão e Gilberto Kassab para presidir o Serpro, em março deste ano.
*A campanha eleitoral antecipada, disfarçada de grandes negócios, vai de vento em popa no Governo Lula.
(Imagem de reuniões: Comunicação do Serpro)