
De acordo com Luciano Fialho, da Scala Data Centers, a empresa levou 24 meses para a operação, entre portaria do MME e energização de subestação em Tamboré (SP), com um investimento já superior a R$ 14 bilhões e plano de expansão para 1 GW. Para manter a janela de oportunidades na era da IA, entretanto, o executivo defende acelerar o acesso à Rede Básica, garantir confiabilidade e ajustar o custo das garantias financeiras exigidas pela Resolução 1.122 da Aneel.
Em depoimento durante painel do setor elétrico, o executivo responsável por desenvolvimento corporativo — que inclui energia — relatou que o campus de Tamboré (Barueri/SP) soma 600 MW e alcançou um marco de conexão em 24 meses: do estudo de mínimo custo global e portaria do MME ao parecer de acesso, assinatura do CUST e energização da subestação de 500 MW.
“Encontramos no regulador, na agência e no operador parceiros para a conexão. Sei que hoje há mais pedidos e desafios, mas isso é recorde em qualquer lugar do mundo”, disse. O site já recebeu R$ 14 bilhões e tem mais R$ 10 bilhões previstos para concluir a primeira etapa. O plano é expandir para 1 GW.
O grupo montou um time de energia com quase 30 profissionais (regulação, subestações, transmissão) para encurtar prazos e coordenar obras.
Corrida global da IA
Segundo o executivo, estudo da McKinsey projeta que, em cinco anos, a infraestrutura digital voltada à IA pode demandar US$ 3,7 a 7,9 trilhões no mundo — com US$ 2,6 tri em obras e equipamentos de data center, US$ 4,7 tri em chips (GPUs/CPUs) e cerca de US$ 600 bi no restante do ecossistema.
Na América Latina, a capacidade sairia de ~1 GW para ~8 GW em 10 anos (IA + cloud), podendo chegar a 13–14 GW se a região — liderada pelo Brasil com ~60% do mercado — “fizer a lição de casa”.
Nos Estados Unidos, a saturação de polos tradicionais (Virgínia, Califórnia) empurra novos parques para áreas com energia disponível. “Não vou mais onde tem fibra; vou onde tem energia. Disponibilidade virou o critério nº 1”, resumiu.
A escala também mudou: campos que eram de 50–100 MW agora têm 150–200 MW; a mediana deve ir a 250–300 MW em 5 anos e 350–400 MW em 10 anos. Enquanto isso, o “time to market” encolheu: demandas que pediam 20–30 meses em 2020 hoje exigem 10–16 meses. “Já erguemos um data center de 24 MW em 11 meses. O desafio é casar esse ritmo com o tempo de conexão do sistema de transmissão”, disse. Segundo ele, são três as condições para o Brasil não perder a janela, segundo o executivo:
1 – Acesso mais rápido: reduzir o descasamento entre o prazo de conexão e o prazo do cliente.
2 – Confiabilidade: quedas de energia seguem como principal causa de interrupção em data centers; resiliência do grid é decisiva.
3 – Competitividade: preço de energia renovável e estável por 10 anos (modelos take-or-pay) pesa tanto quanto incentivos para equipamentos. “Competimos com Austrália e zonas americanas; custo de energia faz muita diferença.”
Garantias: crítica à dosagem
A Scala concorda com as garantias previstas na Resolução 1.122 da Aneel, que ajudam a expurgar oportunistas que “reservam” capacidade para revender. Mas pede ajuste no instrumento e no peso financeiro. Segundo avaliação feita por Luciano:
1 – Carta-fiança como padrão onera o balanço e “pode inviabilizar campos de 300–400 MW”.
2 – Seguro-garantia (seguro-fiança) seria alternativa off-balance e menos onerosa, preservando o objetivo da norma.
Como exemplo, no Rio Grande do Sul (projeto próximo à SE Guaíba 3), com 10 milhões de m² e portaria do MME para 1,8 GW (rampa a 5 GW), o custo da garantia superaria R$ 250 milhões e o impacto no balanço ultrapassaria R$ 1,4 bilhão. “Queremos dar garantias; o ponto é ajustar a dosagem”, afirmou.
Em síntese
Conexão-recorde (24 meses) mostra que o Brasil consegue entregar quando instituições se alinham.
A janela da IA exige acesso, confiabilidade e energia competitiva — com regramento de garantias que filtre especulação sem matar projetos “giga”.
“Se fizermos a lição de casa, o país consolida posição de hub de processamento na América Latina e atrai a diferença entre 8 GW e 13–14 GW na próxima década”, destacou Luciano Fialho da Scala Data Centers.
Fialho participou do workshop “Horizonte Renovável: A era dos Data Centers no Brasil”, promovido pela Aneel.