O depoimento da médica Infectologista e Mestra em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, Luana Araújo, teve um efeito demolidor no discurso à favor do tratamento precoce contra o Coronavírus, na CPI da Covid. Mas o mérito maior talvez tenha sido a médica conseguir um feito inédito: calar momentaneamente a rede bolsonarista no Twitter.
De acordo com análise feita a partir do acompanhamento do comportamento da rede durante o depoimento da médica, o Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo, Arcelino Neto, pode constatar a desmobilização bolsonarista.
Ele analisou os dados das 156.665 interações feitas por 40.057 internautas usando as seguintes hashtags para a busca dos dados: “cpidacovid”, “cpidogenocidio”, “cpidapandemia”, “cpidacovid”, “senadocontracovid19” e “Luana Araújo”.
E também deu destaque para veículos alternativos de informação e influenciadores no Twitter: “Midia Ninja”, Erikak Hilton”, “Tesoureiros do Jair”, “Desmentindo Bozo”, “Jair Me Arrependi” e “Mari Varella”.
E constatou no Twitter essa baixa presença bolsonarista na reação contrária ao depoimento da médica que combateu o tratamento precoce da Covid-19:
O depoimento da médica Luana Araújo demoliu de forma cabal o principal dogma do discurso bolsonarista, que seria o direito das pessoas buscarem tratamento precoce contra o Covid-19. “Delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”, foi como a médica reagiu ao ser indagada diversas vezes sobre o tema.
Foi o contraponto ao depoimento ocorrido no dia anterior dado pela médica Nise Yamaguchi, que defendeu o tratamento precoce, com o uso de Cloroquina (usado para o combate à Malária), sem ter apresentado nenhum estudo científico relevante para comprovar a tese e mostrando claro desconhecimento sobre o vírus, já que não atua nessa área.
“Acredito que o esvaziamento tenha se dado pelo domínio da narrativa. O que estava em evidência nos dois casos (Nise e Luana) era o discurso científico. A rede bolsonarista tem como estratégia a desinformação, discurso de ódio, etc. Nos dois casos, a narrativa foi pautada por um lado técnico da Ciência”, comentou Arcelino.
De fato, ao longo do depoimento da médica que apoia o presidente Bolsonaro, ficou evidenciado que Nise Yamaguchi relutava em confirmar de forma categórica a tese do tratamento precoce, inclusive de Cloroquina. Mesmo quando confrontada com vídeos apresentador pelo relator Renan Calheiros na CPI, nos quais ela fazia essa defesa. Isso pode ter deixado a rede bolsonarista sem entender, com clareza, qual a narrativa proposta para atacar Luana na rede.
A retomada da atividade desse grupo só foi sentida após os principais influenciadores e políticos ligados ao presidente Bolsonaro partirem para a ataque à CPI, criando a narrativa da forma grosseira como Nise foi tratada na comissão, tendo sido impedida de falar.
Ao contrário do depoimento da médica Luana – que foi contundente nas explicações que dava aos senadores, deixando até os parlamentares ligados ao presidente Bolsonaro sem reação – Nise foi constantemente interrompida pelos senadores contrários à tese do tratamento precoce. Porém ela deixou margem para ser cobrada pelos senadores, porque enrolava nas respostas, tentando ganhar tempo.
A rede bolsonarista só voltou para o “ringue” contra os influenciadores da esquerda, quando viu a oportunidade de explorar emocionalmente o tratamento supostamente diferenciado dado à médica defensora da Cloroquina, em relação à especialista na área de infectologia, que critica o tratamento precoce da doença por meio desse remédio.