Por: Márcio Martin* – Neste novo cenário mundial, em que ser net zero passou a ser um objetivo dos negócios, a tecnologia pode contribuir para reduzir o impacto ambiental. Como se preparar para o próximo ano?
Esta é uma questão central nos projetos corporativos atuais. E não se trata apenas de uma pergunta à mesa do “pessoal da TI”, mas discutida pelas altas lideranças das empresas — de startups a grandes corporações. Afinal, a adoção de tecnologias verdes faz parte da estratégia das companhias que querem se manter competitivas no mercado e gerar mais valor às suas marcas.
O fato incontestável é que o nosso estilo de vida está se tornando cada vez mais digital, assim como os negócios. A pandemia acelerou essa transformação digital: testemunhamos a explosão das vendas online (inclusive de produtos físicos tradicionais como apartamentos) e a ampliação exponencial do teletrabalho, das aulas online e do uso das redes sociais para substituir os encontros presenciais.
A pesquisa TIC Domicílios 2020 (Edição COVID-19 – Metodologia Adaptada), divulgada pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br) em agosto deste ano, comprova este movimento no país. Aumentaram os números de domicílios e indivíduos conectados à internet, a procura por serviços públicos online e a realização de transações financeiras digitais em comparação com 2019. Atualmente, somos 152 milhões de brasileiros conectados à rede mundial — há dois anos éramos 134 milhões.
Paralelamente, o mundo vive uma mudança cultural relacionada ao uso versus a posse de produtos, em que progridem os serviços de assinatura online de carros e residências, ao tempo que se multiplicam os streamings de tv, vídeos e músicas.
Portanto, os negócios atuais demandam mais infraestrutura digital, abrangendo dispositivos corporativos e pessoais, redes de comunicação e data centers. Os equipamentos de tecnologia da informação e de telecomunicações se multiplicam para dar suporte às crescentes demandas por processamento de dados e, apesar de ganharem eficiência energética nos últimos anos, aumentam o consumo de energia do setor.
Portanto, a redução da pegada de carbono da infraestrutura digital se tornou uma agenda relevante na estratégia de ESG (Enviromental, Social and Governance ou Ambiental, Social e Governança) das companhias. Como o processamento de dados pode contribuir para reduzir o impacto ambiental das operações, neste contexto em que se discute descarbonização, neutralidade de carbono ou net zero como um dos objetivos de negócios?
Ao gerenciarmos mais de 300 data centers no Brasil e em outros países da América Latina, constatamos que a maioria está abaixo dos níveis de eficiência energética que poderiam atingir.
Um dos recursos mais assertivos e econômicos para gerar economia de energia imediatamente nas estruturas já instaladas é a implantação de um plano de ação multidisciplinar (MAP), que pode diminuir até 60% do consumo.
O MAP envolve diversas ações combinadas que começam, naturalmente, com a revisão e renovação dos sistemas de energia e refrigeração do local, passam pela adoção de equipamentos e procedimentos operacionais para diminuir a PUE (Power Usage Effectiveness) e vão até o monitoramento em tempo real de ativos físicos e virtuais em um único banco de dados, com uma solução moderna de DCIM (gerenciamento de infraestrutura de data center), com suporte técnico remoto e no local 24 horas por dia, 7 dias por semana, para a tomada de decisão de eficiência energética baseada em dados.
Os data centers representam o coração das operações, mas a tecnologia sempre exige um olhar sistêmico para a solução de desafios. Portanto, a acelerada transformação digital pela qual estamos passando, exige uma reflexão sobre a matriz energética que alimenta toda a cadeia de tecnologia da informação e comunicação.
Nosso país tem condições de tirar proveitos inigualáveis do grande potencial de geração de energia a partir de fontes renováveis, como solar e eólica. Elas permitem desenvolver infraestruturas digitais mais verdes, por meio do uso inteligente dos recursos naturais.
Uma das grandes lições que tiramos da COP26 é que a indústria global de TI precisa estar totalmente comprometida com os objetivos prioritários da cúpula climática: adaptação, mitigação, financiamento e colaboração. Portanto, precisamos fazer a nossa parte, nos adaptando à nova ordem mundial sustentável, mitigando os impactos negativos no ambiente, investindo na própria transformação e colaborando com a evolução deste mundo mais digital e sustentável.
*Márcio Martin é vice-presidente comercial da Green4T na América Latina.