Quem esteve ontem no Espaço Cultural da Anatel, mesmo que tenha pouca sensibilidade política, como eu, não pode deixar de reparar o tamanho do prestígio do novo conselheiro Jarbas Valente. Foi uma cerimônia típica de um futuro candidato à presidente da agência reguladora.
Jarbas reuniu no auditório os três ingredientes necessários para se consolidar uma futura candidatura: Apoio político, empresarial e popular, sendo este último, na figura do corpo funcional da Anatel.
Terá os próximos meses para trabalhar essa candidatura nos bastidores do governo, pois a recondução do Embaixador Ronaldo Sardenberg ao cargo é considerada como improvável. Além disso, os demais nomes do conselho diretor não parecem ser do ‘agrado’ do Palácio do Planalto. Certamente poderá contar com o apoio do ministro Hélio Costa (Comunicações), que ontem mais uma vez saiu fortalecido pela campanha que fez na indicação de Jarbas.
A não ser que…
O próximo ministro-chefe da Casa Civil seja o atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Neste caso, as cartas do jogo político favorecerão o conselheiro João Batista Rezende.
Rezende justamente deixou o Ministério do Planejamento para ocupar uma vaga no Conselho Diretor da Anatel.
* É preciso levar em consideração ainda, que o Embaixador Ronaldo Sardenberg deverá sair da Anatel ao longo deste ano. Neste caso, existe a hipótese, já levantada pela Telesíntese, de André Barbosa – atual Assessor da ministra Dilma Rousseff – acabar indicado para a vaga na Anatel. Teríamos aí mais um forte candidato, que poderá atrapalhar os planos de Jarbas Valente de alcançar o mais alto posto da sua carreira.
Conciliação…
O discurso de posse de Jarbas deu a tônica da sua ambição política, que certamente não irá parar na escolha de seu nome para integrar o Conselho Diretor da Anatel. Ele disse que irá buscar a conciliação com os demais conselheiros, para que a Anatel recupere o espírito de colegiado, convergindo para decisões unânimes nas futuras votações.
Tarefa difícil, pois Jarbas não tem mantido uma relação digamos, amistosa, com a conselheira Emília Ribeiro, enquanto ocupou a Superintendência de Serviços Privados da Anatel. Emília ontem não conseguia disfarçar o seu desconforto de estar participando da cerimônia de posse de Jarbas. Mas cumpriu a liturgia como Deus quis.
Mas para ser candidato forte ao cargo de presidente do Conselho Diretor, Jarbas Valente sabe que seu nome tem de chegar ao Palácio do Planalto como pessoa que ‘agrega a casa’ e não como mais uma peça mal acomodada e que só gera confusão. Qualidades técnicas para exercer o cargo de conselheiro e até de presidente já demonstrou ter nos vários anos que exerceu funções importantes na agência. Resta agora comprovar que tem capacidade política de ‘engolir sapos’ e de exercitar a arte da negociação, condição fundamental para sagrar-se o vencedor dessa disputa.
De resto, a posse de Jarbas Valente saiu como manda o figurino. O nome mais apoiado pelas empresas de telefonia teve o seu dia de glória, com direito a abraços esfuziantes e tapinhas nas costas, de presidentes de operadoras, como se ‘ungido pelas bases’ tivesse sido.