Os interesses comerciais por trás do discurso político da InterID

O Instituto Internacional de Identificação – InterID, teve seu CNPJ ativado na Receita Federal em 26 de agosto de 2022 para a atividade econômica: “organizações associativas ligadas à cultura e à arte”. A empresa é a promotora do CertForum, evento que reúne o mercado de certificação digital e sempre foi incentivado pelos governos desde a gestão Lula -1 quando foi criado o ITI e a ICP-Brasil. Em seu estatuto informa ser uma “sociedade civil sem fins lucrativos”, mas entre diversos serviços que oferece destaca-se o de consultoria para empresas. A InterID tem dentro do seu quadro de governança empresas interessadas em impedir um convênio entre a Dataprev e os cartórios de registro civil, que será a base da tecnologia de identificação da Carteira de Identidade Nacional (CIN).

Célio Ribeiro criou um slogan que virou a bandeira de luta da InterID no esforço governamental pela implantação da nova Carteira de Identidade Nacional: “CIN, nosso maior instrumento de cidadania”. Tornou-se porta-voz do mercado de registro e certificação digital e vem atuando contra qualquer iniciativa que possa desagradar empresas. O acordo entre a Dataprev e cartórios de registro civil, por exemplo, foi objeto de ataques da instituição. O termos dessa parceria entre o governo e os cartórios ainda não foram revelados e nem aprovados pelo CNJ – Conselho Nacional de Justiça.

O presidente da InterID, Célio Ribeiro, é o único dono dessa instituição, mas conta com outros dois “fundadores”. Um deles é Carlos Collodoro, dono de uma empresa de TI que é parceira da operadora de cartões de crédito Mastercard na área de identificação digital.

Custos operacionais

A InterID não informou ao blog quem estaria bancando seus custos operacionais. Porém, no seu estatuto a instituição deixa claro que eles podem ser pagos pelas empresas que representa, sem dizer exatamente quais. Classifica esses contribuintes como “mantenedores”, que seriam “pessoas físicas ou jurídicas que assumem o compromisso de fazer contribuições financeiras ao Instituto com o intuito de viabilizar a sua manutenção, o seu funcionamento e o alcance de seus objetivos”. No site da instituição não é possível verificar quanto as empresas já contribuíram para o funcionamento da InterID e nem se a instituição vem faturando algo com os serviços de consultoria que está habilitada a fazer. Ainda não foi tornado público um balanço financeiro da instituição.

Interesses empresariais

Na página da InterID embora não conste informações sobre os “parceiros” que estão contribuindo financeiramente para o trabalho que vem sendo executado, é possível identificar ao menos uma empresa, com ligações umbilicais com o instituto: a Idp Br Digital Identity Provider, do engenheiro Carlos Alberto Collodoro, um dos três fundadores da InterID. Suas referências profissionais obtidas pelo blog junto ao mercado são as melhores possíveis. Não há nenhuma informação que desabone o empresário. No entanto, por ser empresário, é óbvio supor que ele tem interesse comercial na Carteira de Identidade Nacional. Um serviço que poderá ficar concentrado na Dataprev como empresa de TI, mas que também terá apoio técnico da empresa Confia, ligada à ARPEN, associação que representa os cartórios de registro civil.

A idp Br Digital Identity Provider, de Collodoro, está ativa desde 21/07/2021. Sua principal atividade econômica registrada na Receita Federal é o “tratamento de dados, provedores de serviços de aplicação e serviços de hospedagem na internet. Possui um capital social de R$ 5.000,00. Em sua página na Internet é possível verificar que a idp Br é a “emissora de identidade digital reutilizável Self ID” – uma solução que, segundo ela, “simplifica o processo de identificação (com a guarda de senhas), reunindo todos os dados do usuário no seu smartphone, com segurança e privacidade”.

Carlos Collodoro também é dono da empresa X-Barra Tecnologia e Participações Ltda (CNPJ 42.150.535/0001-99), ativa na Receita Federal desde 31/05/2021; com Capital Social de R$ 120 mil e endereço na cidade de Monções (SP). Sua atividade econômica principal é “Consultoria em tecnologia da informação” e nas secundárias constam atividades como, “Holdings de instituições não-financeiras” e “Outras sociedades de participação, exceto holdings”.

Foi por meio da X-Barra Tecnologia e Participações, que Carlos Collodoro criou uma holding em sociedade com o empresário, Leonardo Alam da Costa, denominada “ID Master Participações Ltda” (CNPJ 43.066.842/0001-59). Leonardo Alam da Costa foi diretor de Tecnologia da Informação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) entre 2013 e 2020. Essa holding tem o Capital Social de R$ 5.000 e sede em Brasília.

Além dos sócios Collodoro e Leonardo Alam, como pessoas físicas, a holding ID Master tem na sua composição um emaranhado de empresas: a X-Barra Tecnologia e Participações Ltda (CNPJ 42.150.535/0001-99); Nove do Quatro Assessoria e Consultoria em Tecnologia da Informação Ltda (CNPJ 07.181.454/0001-55) e LM Tecnologia e Participações Ltda (CNPJ 42.726.989/0001-65). Porém, tirando a X-Barra, que é de propriedade de Collodoro, as demais empresas são de Leonardo Alam ou de parentes.

A sociedade de Collodoro com Leonardo Alam ocorre na empresa IDC BR Digital Identity Channel LTDA (CNPJ 42.884.832/0001-68), que tem capital social de R$ 5.000 e endereço em Brasília. O quadro societário é formado por Carlos Collodoro, Leonardo Alam da Costa e a ID Master Participações Ltda. Que já tem ambos os empresários como proprietários. Haja participação cruzada!

Parceiros Mastercard

A holding ID Master de Carlos Collodoro e Leonardo Alam passou a atuar como parceira na prestação de serviços da plataforma “ID Network”, que vem a ser a tecnologia de identificação por meio de biometria denominado “rede de identidade digital reutilizável” da operadora de cartões de crédito Mastercard. Essa tecnologia vem sendo testada em Brasília.

E chegou a ser apresentada em junho de 2022 pela  vice-presidente sênior da Identidade Digital da Mastercard, Sarah Clark, que participou na capital federal de um evento de lançamento da plataforma no complexo comercial Brasil 21. Evento que contou com as presenças de Leonardo Alam (ponta esquerda de quem olha para a foto) e Carlos Collodoro (ponta direita de quem olha para a foto). Ambos sócios na ID master a holding que comanda a idp Br e a IDC BR em que os dois são sócios.

Alam chegou a emitir declarações como CEO da IDC BR para o jornal Metrópoles, que cobriu o evento de lançamento da Mastercard/ID Network no Brasil 21: “Hoje foi um marco na vida do projeto. Foi o dia em que a Mastercard nos validou. Depois do evento, várias empresas procuraram a IDC para entender e participar do piloto”, disse ele.

De fato, a parceria da holding ID Master com a Mastercard parece estar lastreada pela IDC br. Em sua página na Internet a empresa de Leonardo Alam, que também tem Collodoro como associado, informa ser “a porta de entrada oficial para a ID Network, rede de identidade digital reutilizável da Mastercard”. Ou seja, está tudo em casa.

PowerPoint

A parceria com a Mastercard num projeto piloto em Brasília está sacramentada num “PowerPoint”, que a ID Master vem mostrando em busca de novos clientes no mercado. Uma versão dessa apresentação está em poder do blog e mostra que a ID Master pretende conquistar o Brasil. Não são poucos os grandes clientes desejados pela empresa.

Na apresentação a ID master também mostra os serviços que podem prestar via a plataforma ID Network da Mastercard. Esses serviços estão dividos pelas empresas “idp Br” de “IDC BR” dos sócios leonardo Alam e Carlos Collodoro. E a expectativa de faturamento se ancalçarem essa meta será chegar a algo em torno de R$ 7 bilhões.

Mas é preciso deixar claro que este blog não identificou nenhum movimento direto da operadora de cartões de crédito Mastercard, na direção de se tornar uma plataforma dos serviços de identificação para a Carteira de Identidade Nacional (CIN).

Se tal ambição existe, esta ocorre pelas relações comerciais que mantém no Brasil com os parceiros Carlos Collodoro e Leonardo Alam. Mas é evidente que, para a Mastercard, uma eventual participação deles em projetos do governo de identificação biométrica de cidadão só seria benéfico para os negócios dela. Tanto, que todos já estiveram juntos em evento da operadora para falar de identidade digital. Uma coisa é certa, a operadora não mandou sua vice-presidente de TI ao Brasil para passear.

Procurado na segunda-feira para falar dessa ligação da InterID com empresas parceiras da Mastercard, o presidente da Instituição, Célio Ribeiro, primeiro informou que estava viajando. Depois se colocou à disposição para responder perguntas por escrito ou fazer uma videoconferência. O blog optou pela videoconferência. Mas ontem à noite Célio retornou mensagem afirmando que não responderia mais a nenhuma pergunta, por entender que o blog o atacou numa nota publicada ontem.

Na contramão de Célio, o fundador da InterID, Claudio Machado, concedeu uma longa entrevista ao blog, na qual ele expôs seus pontos de vista. O conteúdo desta conversa sairá na edição desta quinta-feira.