Por Sigmar ‘Sig’ Frota* – It is all about… attention, diríamos no idioma de Shakespeare. E cada vez é mais disso mesmo. A maioria que reflete sobre a expressão Attention Economy tem como sua referência mais consolidada o artigo da edição de dezembro/1997 da revista Wired. Com o título “Attention Shoppers! ” o autor, Michael Goldhaber, descreve como a moeda da Nova Economia – que já lançará suas bases no fim dos anos 80 e acelera em seu clímax tracionado pelo boom da internet – não seria o dinheiro em si, mas a atenção; e que isso seria seguido de uma transformação radical nas trocas de valor numa nova sociedade.
A tese do autor parte da observação de que a economia de nações industrializadas nos anos 80, especialmente a dos Estados Unidos, experimentava um aumento expressivo em número de trabalhadores não mais envolvidos diretamente na produção, transporte e distribuição de bens materiais; e que, em vez disso, estavam gerindo ou lidando com informações como “trabalhadores do conhecimento” – um novo agente no contexto econômico que alguns autores à época ensaiaram chamar de Economia da Informação.
Goldhaber rejeita esse rótulo, uma vez que, em definição simples, a economia é o estudo de como uma sociedade usa e lida com recursos escassos – e com o advento da internet a escassez definitivamente não seria de informação. Em vez disso, o autor propõe a atenção como o item escasso e usada como moeda no cyberspace; uma vez que ninguém teria o trabalho e o custo de produzir e disponibilizar na internet qualquer coisa de valor sem a esperança de obter alguma outra coisa em troca.
Pois é. A força do argumento do autor no seu artigo de 1997 é, em certo ângulo, simples de confirmar em 2019. Humanos modernos têm um ciclo de atividades distribuído em 24 horas; parte dele dormindo, outra parte tocando sua vida e uma final prestando atenção em algo que traga valor adicional ao seu trabalho, vida em geral e suas relações. Logo, se uma empresa consegue atrair e reter por maior tempo à atenção da audiência de humanos com seu conteúdo, mais bem-sucedida ela é no contexto da Economia da Atenção.
Como resultante direto dos meios e fins desse contexto, é certo afirmar que o produto em circulação é você… e o tempo despendido com o que as empresas colocam diante de você como audiência. (Obs: a charge da figura acima expõe, com humor apropriado, a narrativa do cliente/usuário como o produto na Economia da Atenção)
Em um ambiente para lá de competitivo, empresas e suas tecnologias buscam ferozmente aprisionar usuários com sofisticados artefatos cuidadosamente engenhados com o fim de reter sua audiência. O ambiente é de guerra pela atenção; tanto que é dito, em inglês, que tais artefatos são concebidos como weaponized by design (concebido/projetado como armamento).
Cito aqui um exemplo simples de funcionalidade de artefato( vide abaixo):
Qual é a sua reação ao receber, em seu e-mail, no seu navegador no desktop ou na forma de notificação no seu smartphone, a mensagem do box acima? Quantos de vocês, leitores, já receberam uma mensagem assim ou parecida? E qual a sua reação mais imediata? 🙄 Well… no meu caso, confesso: não consigo deixar de clicá-la na hora para investigar o teor/razão da menção feita por um amigo/pessoa no contexto embutido no box . Pronto: minha atenção foi capturada pelo artefato.
Cabe outro exemplo: repare na engenhosidade da UX/UI em funcionalidade conhecida por “notificações”, ao gerar uma ligeira anomalia (ou ruído) visual persistente sobre os ícones da interface; que ativa uma coceirinha (em inglês small itch) cognitiva causadora de tensão e que demanda ser resolvida. Aqui, na figura abaixo, mostro o artefato em ação capturada enquanto escrevia esse post; na forma de print-screen de duas telas do meu smartphone num intervalo de 35 minutos; tempo usado para “dar conta” das anomalias geradas na minha UI:
E assim segue a disputa feroz – no detalhe e muito sútil – pela sua atenção; em um aberto uso tecnologias e design que criam hábitos aprisionantes na forma de clicks , scrolls e swipes… que custam e consomem tempo… o seu tempo!
Por fim deixo pra pensar o apropriado comentário do personagem Merovíngio em seu primeiro encontro com Neo, Morpheus e Trinity no filme Matrix Reloaded, de 2003, sobre o paradoxo de alguém não ter tempo:
“Who has time? Who has time? But then if we do not ever take time, how can we ever have time?” .
É pra pensar. #Borapensar.
*É isso 😎 😎 😎
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* Sigmar ‘Sig’ Frota é profissional de TIC com mais de 30 anos de atuação nas áreas de Vendas, Marketing e Comunicação em ambientes corporativos. Mantém-se em constante movimento na forma de um baby boomer digital e molda seu mindset pela máxima …”os únicos dinossauros não extintos foram os que entenderam que um meteoro gigante mudou tudo… e que não havia alternativa a não ser : (a) diminuir muiiiito seu tamanho e (b) criar penas.” . #BoraVoar #BoraCorrer