A entrevista concedida ontem (07), na CBN, pelo secretário Especial de Desestatização, Desinvestimentos e Mercados, do Ministério da Economia, Salim Mattar, é a constatação de que um locador de veículos foi posto no governo para bagunçar de vez com o mercado de Tecnologia da Informação e Comunicações. Não se sabe ainda em nome de quem.
Mattar falou por quase 20 minutos naquela emissora de rádio e defendeu o fim das estatais de TI, num misto de ignorância do mercado brasileiro e o governamental, com o deslumbramento por um modelo norte-americano de compras governamentais que sequer estamos próximos de ter algo similar nos próximos anos.
O secretário, por exemplo, argumentou que o Pentágono tem seus dados guardados em empresas privadas e não precisaria de um Serpro ou Dataprev para tanto.
Sério?
Seja por desconhecimento ou má-fé, o secretário omitiu o fato de que em 2017 o Departamento de Defesa norte-americano (ao qual o Pentágono está vinculado) deu uma mancada e expôs 1,8 bilhão de informações postadas por cidadãos norte-americanos, que estavam armazenados desde 2009 em servidores da Amazon Web Services (AWS).
E o problema só foi resolvido quando a equipe de risco cibernético da empresa UpGuard alertou para o problema. Pois, se dependesse do Pentágono…
A guarda dos dados dos cidadãos brasileiros não estará em melhor ou pior situação se estiverem em servidores governamentais ou privados. “Incidentes” de segurança, os vazamentos de informações sempre ocorrerão em qualquer situação, pois a tecnologia avança e os criminosos digitais ou os exércitos da ciberguerra não estão parados.
Não é o modelo estatal ou privado que irá garantir a segurança dessas informações. É o desejo político de mantê-los seguros ou no mínimo mitigar os problemas quando ocorrerem. E aí eu pergunto: quem investe pesado para mantê-los, independentemente do lucro? As estatais ou as empresas privadas?
Se o modelo privado de guarda dos dados fosse a oitava maravilha do mundo, como sugeriu o secretário Mattar, este governo já teria um caso de sucesso em suas mãos para mostrar agora em defesa do discurso da privatização. Bastava apresentar a Nuvem Federal, criada aos trancos e barrancos no apagar das luzes do Governo Temer pelo Ministério do Planejamento, que foi herdada pelo Governo Bolsonaro, inclusive com a mesma equipe que a criou.
Ao contrário, a Nuvem Federal – cujo consórcio privado escolhido, também aos trancos e barrancos, da qual fazem parte as empresas Primesys (leia-se: Embratel) e AWS ( leia-se: Amazon Web Services, a mesma do episódio do vazamento no Pentágono) – seria um estrondoso sucesso.
E não estaria encalhada na Justiça, com baixíssima adesão dos 200 organismos federais que compõem o SISP – Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação. E isso, mesmo depois da Secretaria Especial de Governo Digital ter tentado forçar a barra para todos aderirem à essa “nuvem”.
*Secretário Mattar, a tua sorte é não ter um louco, como eu, participando de entrevistas em “rádios que tocam notícia”