Por Sigmar ‘Sig’ Frota* – Se você perguntar a um mineiro-raiz qual é o maior pecado cometido depois de um bom almoço em Minas, é quase certo ouvir dele um “Uaísô… é comer goiabada sem um queijim. Presta não! ”
Romeu e Julieta não é só título de peça de Shakespeare escrita no sec.XVI. Na Terra Brasilis é também uma tradicional sobremesa mineira dos tempos do Brasil colonial, quando os portugueses começaram a produzir queijo por aqui: o queijo representando o Romeu e a goiabada sendo a Julieta.
Boas histórias são carruagens onde viajam mensagens e ruídos, juntos, há algum tempo. Longe de ser assíduo em Shakespeare, acredito ter entendido a negative capability (expressão cunhada pelo poeta romântico inglês John Keats em 1817) utilizada na narrativa do autor em seu clássico Romeu e Julieta.
Bora resumir a treta desse clássico. Seu plot tem uma aparência de exaltação ao amor, quando, #navera , estaria mais para um aviso trágico aos que se deixam levar por paixões repentinas e extremadas. Reparem na esteira resumida dos beats da trama. Romeu era apaixonado pela prima de Julieta, a jovem Rosalina. Quando conhece Julieta, Romeu larga #naboa e #nahora o amor que dizia sentir por Rosalina. O primeiro encontro dos protagonistas se dá na noite de um domingo. Na madrugada da segunda, Romeu e Julieta se casam. O primeiro e único #borapracama rola pouco depois no mesmo dia. No restante da segunda, terça e quarta acontecem todos os tipos de sub-tretas resultantes da repentina e conturbada paixão do casal. Na quinta-feira, Romeu e Julieta estão mortos. Como conclusão de roteiro temos: um jovem de 17 e uma moça de 13 anos vivendo uma paixão delirante, numa duração que vai de seu início no domingo e término em seu fim trágico na quinta-feira; tempo suficiente para uma narrativa que inclui uma paixão, um casamento, uma relação sexual e … seis mortes.
A estrutura dramática é ponto alto em Romeu e Julieta; muito por conta do balanço e comutação de elementos de comédia e tragédia que têm o efeito de aumentar a tensão. É uma das peças mais populares de Shakespeare e, ao lado de Hamlet, veio a ser uma das suas obras mais executadas em palcos do mundo inteiro. Em tempo: taí um artista que conduziu sua obra ao clímax por saber, como poucos, unir visão de beleza artística (a mensagem) à confusão, precariedade, contradição e incerteza intelectual (ruídos) da época que retratou em seu acervo e legado. Assim, em Shakespeare, amor e morte andam #juntoemisturado como goiabada e queijo por conta do sabor distinto que, apenas se estiverem juntos, produzem.
Perto de concluir, deixo o meu ponto de insight para aplicação prática do leitor no contexto de hoje: nos meios de internet e de redes sociais, a essência da efetividade em comunicação – seja a pacífica e formal ou a que tem potencial para se tornar treta ou ativismo – passa por não cometer o erro de tentar separar mensagem e ruído. Na genialidade de Shakespeare ou na simplicidade do mineiro-raiz insisto que o melhor da goiabada é ser sempre servida #juntaemisturada com o queijo.
Minha sugestão é que o leitor comece a considerar a inclusão da negative capability como seu melhor recurso de efetividade e compreensão da comunicação – ou ativismo de ideias – em um meio caótico como o da internet e das redes sociais.
Por fim, aprecie a contradição, a divergência e a anomalia de mensagem e seu ruído no próximo post , tweet, foto de Instagram e comentário de facebook que for fazer. Serve pra quem mita. Serve pra quem lacra.
*É isso 😎 😎 😎
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* Sigmar ‘Sig’ Frota é profissional de TIC com mais de 30 anos de atuação nas áreas de Vendas, Marketing e Comunicação em ambientes corporativos. Mantém-se em constante movimento na forma de um baby boomer digital e molda seu mindset pela máxima …”os únicos dinossauros não extintos foram os que entenderam que um meteoro gigante mudou tudo… e que não havia alternativa a não ser : (a) diminuir muiiiito seu tamanho e (b) criar penas.” . #BoraVoar #BoraCorrer