A avaliação é do sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC, além de ativista das redes digitais, Sérgio Amadeu da Silveira. Para ele, o Brasil ao adotar a política de transferir grandes volumes de dados para desenvolvedores de plataformas de Inteligência Artificial, além de estar abrindo mão de resguardar informações estratégicas em data center brasileiros, está aprofundando o fosso que separa aqueles que detém a tecnologia e os que serão meros usuários e eternamente dependentes dela.
Amadeu proferiu palestra na Fundacentro sobre o tema “O modelo de negócio das Big Techs no âmbito do serviço público, o Colonialismo Digital e aplicação da inteligência artificial em compras públicas”.
Sérgio Amadeu entende que o discurso da “nuvem soberana” no Brasil está seguindo por premissas erradas, sem contar que grandes empresas como a Oracle e a Microsoft, já se apropriaram dessa proposta para vender serviços no país. O que torna o Brasil num grande armazenador de dados no exterior, além de mero fornecedor para treinamento de Inteligência Artificial dessas grandes empresas.
Segundo ele, capacidade intelectual para desenvolver uma plataforma de IA nacional como deseja o presidente Lula o país tem. Porém, o que falta é foco e uma política pública voltada para isso porque custa caro. Para ele gestor público se viciou em comprar o que é barato vindo do exterior, sem levar em conta que tal decisão cada vez mais afasta o Brasil da possibilidade de ter sua prórpria tecnologia, quando poderia usar o seu poder de compra para fazer isso no Brasil.
Um exemplo dessa tese apontada por ele é o portal da administração pública federal “Sou Gov”, que acaba expondo os dados do funcionalismo público em nuvens baseadas no exterior, e facilitando o aprendizado de modelos de Inteligência Artificial pela plataforma “Watson”, da IBM. Ou seja, fornece o insumo e depois compra o produto acabado para customizá-lo dentro do país. Essa política está exposta nos “Termos de Uso” da aplicação do governo:
https://www.gov.br/servidor/pt-br/assuntos/sou-gov.br/termo-de-uso-e-politica-de-privacitade-sougov.br
Amadeu, que já foi presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) no primeiro governo Lula, e comandou todo o processo de implantação da Infraestrutura de Chaves Públicas ICP-Brasil, não poupou críticas à decisão governamental de estar alimentando grandes plataformas internacionais com dados brasileiros, para treinamento de novos modelos de IA.