Não, ele não parece ser o demônio que Zuckerberg infiltrou na antessala de Haddad

A coluna da jornalista Andreza Matais no UOL traz uma informação de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem entre os seus principais assessores – aqueles que deverão se debruçar na regulamentação das Bib Techs e na criação de um imposto – um ex-auxiliar de Mark Zuckerberg do Grupo Meta. É verdade, o chileno Pablo Bello Arellano foi nomeado no dia 9 de outubro de 2024 para o cargo de “Assessor Especial” da Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda. E, sim, ele foi “Diretor de WhatsApp e Política de Mensagens do Grupo Meta para a América Latina”, conforme ele mesmo define a sua passagem pela plataforma no seu perfil do LinkedIn.

A partir daí, toda e qualquer avaliação sobre qual será o papel de Pablo Bello em sua passagem pelo Governo Lula é mera especulação jornalística e sempre passível de pelo menos duas interpretações. A primeira boa notícia neste caso é que Pablo não esconde o seu passado. Ele registra categoricamente que teve um contrato de trabalho com a Meta e dirigiu uma área que manteria contatos com governos e tentaria adequar a plataforma às legislações locais sobre Internet. Ele mesmo foi governo, quando assumiu a pasta de vice-ministro de Telecomunicações do Governo do Chile durante os anos de 2006 a 2010. 

Traduzindo o que Pablo escreveu no seu perfil, sobre a sua passagem pelo Grupo Meta, ele afirma que liderou as políticas públicas do WhatsApp voltadas para a América Latina, com a responsabilidade de gerenciar a equipe que atuou nessa área.

Desenvolvi e executei estratégias bem-sucedidas para aumentar a boa vontade e mitigar riscos políticos, construindo confiança com governos e reguladores. Fortaleceu relacionamentos sólidos com legisladores e sociedade civil, incluindo a criação da Aliança pela Criptografia na América Latina. Coordenou os principais esforços de integridade, com especial ênfase nas eleições e no uso indevido da plataforma. Conseguiu uma narrativa sólida sobre a responsabilidade da plataforma e a sua contribuição positiva para o progresso social e económico. Gerenciei equipes multifuncionais, incluindo Jurídico, Comunicações e outras áreas, e coordenei o grupo de trabalho responsável por acelerar a vertical do Governo em Mensagens Empresariais”.

Andreza informa que ele esteve em algumas ocasiões com outros integrantes do Grupo Meta participando de reuniões no Ministério da Fazenda. “Nesses encontros, Arellano estava acompanhado de outros executivos da Meta que atuam contra o projeto de fake news e a regulamentação e taxação das big techs”, afirma a jornalista.

Não descarto a possibilidade, mas não tenho como garantir que tais reuniões – que de fato ocorreram e foram registradas publicamente – trataram diretamente sobre esses assuntos. O que posso assegurar é que a participação do Ministério da Fazenda no tema regulamentação das plataformas nunca foi relevante, pois existem outros agentes mais atuantes e ligados ao assunto dentro do governo. Sobre taxação, sim, o Ministério da Fazenda tem interesse e vem discutindo o assunto com o Ministério das Comunicações. Mas, como disse ontem, acho improvável passar algo nessa direção no Congresso Nacional. Vamos acompanhar.

Não conheco Pablo Bello Arellano e não estou defendendo a sua biografia. Apenas estou concedendo o benefício da dúvida e realçando as qualificações profissionais que têm para assumir o cargo. Já vi outros bons nomes serem “queimados”, porque algum dia estiveram do outro lado do balcão.

Neste e em outros governos anteriores, sempre existiu uma penca de gente “desinteressada” dando palpites em regulamentação de plataformas. Gente que não mostrava claramente para quem estava trabalhando, nem como se beneficiava financeiramente por isso. Mas que em algum ponto de suas carreiras tiveram ligações com ONGs que ganharam financiamento do capital norte-americano interessado em dominar e monopolizar o ambiente da Internet.

*O ministério e o próprio ministro já se manifestaram sobre o assunto minimizando algum impacto político que isso possa ter causado. O lobby das empresas em Brasília vai muito além do que tentar infiltrar um “conselheiro” dentro do governo.