Por Denise Marconi* – Ainda precisamos falar sobre o dia das mulheres. Principalmente quando se trata da presença (ou a falta delas) no mercado de trabalho em postos de tecnologia e cargos de liderança. De acordo com levantamento feito pela Catho, no início do último ano, as mulheres têm ocupado 23,6% dos postos no setor de tecnologia, e os homens 76,4%.
E isso não é de hoje, infelizmente. As meninas não são estimuladas, e muitas são desestimuladas, a seguirem determinadas carreiras desde a infância, o que faz com que essa disparidade na presença de profissionais mulheres na tecnologia seja, entre outras coisas, mais um reflexo de comportamentos sociais enraizados. Até hoje cursos como engenharia, matemática, física, computação, são vistos como áreas masculinas, o que cria um gap enorme para o mercado de trabalho, para o desenvolvimento profissional de inúmeras mulheres e consequentemente um impacto macroeconômico e no rendimento e faturamento de muitas empresas.
Se hoje temos poucas mulheres liderando projetos de tecnologia, em cargos de gestão de TI ou como CIOs, é preciso olhar para trás e ver o copo meio cheio. Há uns 20 anos, isso era ainda pior. Quando comecei minha carreira como trainee fazendo implementação de sistema financeiros em 1995, dava para contar nos dedos quantas mulheres me faziam companhia nessa função.
Não há uma ciência exata para que isso aconteça e nem uma única resposta para resolvermos. É uma somatória de fatores como os citados anteriormente e com o fato de que é mais fácil querer lidar e gerir os iguais do que ter uma pluralidade e diversidade na equipe. Algumas amostras feitas por times de RH indicam que os líderes tendem a avaliar melhor quem é parecido com ele. Trazendo isso para o mercado de tecnologia, como temos mais líderes homens, é mais fácil avaliar outros homens e seguir com esse ciclo.
Atualmente, muitas empresas já estão fortalecendo a conscientização sobre a importância de investir – de fato – na diversidade e como isso traz benefícios significativos para o negócio, tanto em aspectos financeiros e de produtividade, como de bem-estar dos colaboradores. E colaboradores satisfeitos, produzem mais e melhor. Para essa equação, a conta é até simples.
É preciso quebrar paradigmas e vieses inconscientes que estão arraigados na sociedade e no mercado de trabalho de forma geral. Temos que fazer acontecer e não nos acomodar com a realidade que temos, pois ela não é imutável, mas exige persistência e resiliência. E quando falamos de tecnologia, é um caminho um pouco maior, com uma subida mais íngreme, mas possível.
Aqui na EY temos algumas iniciativas que reforçam essa preocupação, como o Women in Tech, um grupo de afinidade global que tem como propósito fazer com que meninas e mulheres entrem, permaneçam e prosperem no mundo da tecnologia, buscando mitigar o gap de gênero na área de tecnologia com ações voltadas para promover o ambiente e manter as mulheres engajadas e com uma rede de apoio estabelecida. E dessa forma, conseguimos aumentar a presença de mulheres em posições de tecnologia, inclusive profissionais originárias de outras áreas de atuação, como advogadas, psicólogas e até enfermeiras, que se interessam pelo mundo da tecnologia, mas que, por alguma razão, ainda não haviam tido a oportunidade de se engajar nele.
Uma coisa que não há dúvida é que a pandemia foi um importante impulsionador para a tecnologia e com isso, novos postos de trabalho foram criados e conceitos como Inteligência Artificial, 5G, Internet das Coisas, vêm se tornando cada vez mais próximos das pessoas. O processo de transição de carreira, profissionalização em TI e suas diferentes vertentes se tornou uma possibilidade mais factível. De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a previsão é de quase 800 mil novos postos na área até 2025, abrindo diversas oportunidades para quem quer atuar nesse mercado.
Não é tarefa fácil, mas nós, mulheres, temos o instinto de resiliência e persistência. O primeiro passo para enfrentar todas as dificuldades é colocar a síndrome da impostora na gaveta e acreditar no próprio potencial, conhecimento e vontade de crescer e fazer acontecer. Se não deu certo, não desista! Vale a pena investir em programas de mentorias e ter uma boa rede de apoio para conseguir equilibrar os diferentes pratos que temos no nosso dia a dia: mulher, mãe, profissional, filha, irmã, dona de casa, esposa, amiga e por aí vai.
Buscar o equilíbrio entre as diferentes frentes de atuação que temos é um dos caminhos para que possamos evoluir como sociedade e conseguir conquistar novos espaços, mudarmos mindsets e quebrarmos paradigmas. Não deixe a síndrome da impostora sair da gaveta e se una com outras mulheres que possam te fortalecer!
*Denise Marconi é sócia da EY Brasil responsável pela aliança com a SAP e Technology Consulting Leader na América Latina Sul.