Não são apenas o Serpro e a Dataprev, as estatais que andam caminhando de mãos dadas com a Microsoft ou outras multinacionais como, por exemplo o Google, agora que se iniciou o Governo Bolsonaro. Diria até que elas estão atrasadas em relação a outros nichos governamentais.
E, neste aspecto, “viés político”, quando se trata de negócios, é o que menos importa. Dinheiro não tem bandeira, partido ou ideologia.
A empresa de Bill Gates já vem atuando agressivamente na área federal desde 2014, ainda no Governo Dilma Rousseff. Cujo discurso, da boca para fora na época, era o de apoio total à adoção do uso do open source. Ainda mais quando naquela época Dilma fez o maior Carnaval ao descobrir que estava sendo “espionada” pela NSA.
O próprio Serpro, que vinha desenvolvendo a sua versão de nuvem federal, na gestão Marcos Mazoni, baseada em open source, teve de acelerar o lançamento por causa do escândalo do ex-espião da NSA Edward Snowden. Mas a nuvem do Serpro nunca passou de espuma. Bastou ele cair do cargo para as ‘multis’ passarem a frequentar as dependências da estatal, na gestão de Glória Guimarães.
Com o desembarque do PT no governo federal a situação ficou mais fácil ainda para a Microsoft, que intensificou essa estratégia, empreendendo uma grande ofensiva para colocar o seu serviço de nuvem em diversas instituições federais, através do apoio que ganhou do extinto Ministério do Planejamento, juntamente com o da Ciência e Tecnologia.
Em 2014 a Microsoft fechou uma parceria com a RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, que garantiu o acesso ao Office 365 (nuvem) para 1.200 ‘campi’, instituições de ensino inclusive as universidades e escolas federais nas capitais ou no interior do país. Foi assinada na época por Ronan Damasco, diretor nacional de tecnologia da Microsoft Brasil e Nelson Simões, diretor-geral da RNP (foto).
O acordo com a RNP para garantir a Educação (leia-se uso de nuvem), na plataforma 365 da Microsoft, envolvia a liberação de serviços como e-mail e calendário (Outlook), conferências online e mensagens instantâneas (Skype), rede social corporativa (Yammer), editor de textos (Word), editor de planilhas (Excel), apresentação de slides (PowerPoint), caderno digital de colaboração em sala de aula (OneNote), armazenamento de arquivos (OneDrive) e colaboração em tempo real (Teams).
Não se tem notícia de quantas instituições são usuárias do 365, mas de 2014 para cá toda a produção científica brasileira pode estar hospedada na nuvem da Microsoft, sem que se saiba ao certo nada sobre o acordo além do divulgado na página da empresa.
Também não há informações sobre o projeto de uma nuvem criada a partir da doação de dois containers feitos pela Huawei, que gerou o “CDC Piloto Huawei”. Por questão de isonomia de tratamento, também é de se perguntar se a produção científica brasileira estaria resguardada dos inquietantes olhares chineses.
A RNP, assim como Serpro e Dataprev, deveriam ser mais claros, mais transparentes, quanto a esses acordos. Informando, inclusive, que salvaguardas têm em contrato, em ambos os casos, sobre o acesso às informações científicas e até particulares dos usuários da RNP, por essas empresas.
Devemos lembrar que desde que Edward Snowden denunciou o escândalo da espionagem da NSA no Brasil e no mundo, através do seu PRISM, um programa de vigilância global, ficou patente que o acesso às informações sigilosas era endossado por uma série de empresas norte-americanas – quer seja por meio de pressão do governo dos EUA ou não. E entre essas empresas americanas estavam no destaque a Microsoft, Yahoo!, Google, Facebook, Paltalk, YouTube, Skype e Apple.
Não se trata de ser contra a presença dessas empresas no governo. Este site apenas se reserva no direito, como veículo de Imprensa, a ter acesso às informações e aos contratos dessas parcerias.
O Sepro não pode se negar a fornecer, por exemplo, os contratos que têm com o Google, alegando que ali contém “sigilo comercial e informações estratégicas das empresas”.
*Afinal de contas, cautela e caldo de galinha não fazem mal à ninguém.