O Ministério das Comunicações distribuiu hoje (24) a informação de que a pasta vai criar um “Grupo de Trabalho” com o Ministério do Turismo, para “mapear rotas turísticas brasileiras que não contam com internet ou com uma conectividade significativa”. A decisão foi tomada após encontro do ministro Juscelino Filho com a ministra do Turismo, Daniela Carneiro.
O anúncio de hoje soa estranho, já que o Ministério das Comunicações sabe exatamente onde há localidades carentes de sinal de Internet, o que dispensaria a criação de um grupo para estudar o assunto.
Além disso, o ministério parece que resolveu adotar o termo “Internet Significativa”, um eufemismo criado pelo setor de telecomunicações e fartamente usado no relatório do GT de Comunicações da Transição, para explicar a “bosta de internet” prestada pelas operadoras móveis longe dos grandes centros do país, conforme os usuários costumam qualificar o serviço, mesmo depois de mais de 20 anos das privatizações no Brasil.
Que curiosamente na avaliação da Anatel apresentam índices extraordinários, coisa de primeiro mundo. (cliquem nas imagens que elas irão ampliar)
Fernando de Noronha já estava conectada com banda larga 4G pelas operadoras Claro, TIM e VIVO, segundo o mapa de conectividade fornecida pela Anatel. Quem mora lá ou o turista que vá visitar a ilha, já conta com conexão de Internet de alta qualidade, índices de mais de 90% de recepção de sinal. Um luxo!
Não há nada de novo no anúncio de hoje. Ao contrário, mostra realmente que na natureza nada se faz ou se cria, tudo se transforma ou copia. Juscelino está copiando algo que na gestão do seu antecessor, o ministro Fábio Faria, já havia até inaugurado, como o caso dos pontos de Internet do programa “Wi-Fi Brasil” na ilha de Fernando de Noronha que contou com a presença no local do então ministro do Turismo, Gilson Machado. Aquele tipo de viagem de serviço que todo mundo odeia.
o Wi-Fi Brasil em Noronha foi amplamente divulgado pelo governo e pelo ex-ministro Fabio Faria em seu Twitter. A alegação oficial dada pelo Ministério das Comunicações na época foi que o governo estaria não apenas atendendo aos turistas, que reclamavam do sinal das operadoras móveis que era ruim em toda a ilha, mas também estaria contribuindo para o trabalho do Ministério do Meio Ambiente e, principalmente, aos cientistas que trabalham para o Projeto Tamar em pesquisas com as tartarugas marinhas.
O mais curioso nesse processo de “esquecimento” que vem ocorrendo no Ministério das Comunicações é a constatação de que a Imprensa oficial da pasta simplesmente apagou todo o conteúdo veiculado na época, com notícias, fotos, vídeos de inaugurações realizadas pelo programa Wi-Fi Brasil, e teria conectado através de parceria da Telebras com empresa privada 21 mil pontos de Internet via satélite em diversas localidades do país onde o sinal é praticamente inexistente. Ao que parece o novo governo quer simplesmente eliminar toda e qualquer iniciativa da gestão anterior, que possa amanhã servir de parâmetro para as suas realizações.
Até agora o ministro Juscelino Filho não deu uma única entrevista coletiva para explicar os seus planos futuros e se o programa Wi-Fi Brasil será encerrado definitivamente, pois apagado da memória coletiva no ministério ele já foi. Nem mesmo a Telebras se sabe se continuará atuando como empresa estatal ou será privatizada. O presidente Lula chegou a garantir que não venderia estatais. Resta saber se esse é o pensamento da maioria do seu ministério.
(Foto: Pablo Le Roy/MCom)