Marcos Pontes e a inversão de valores no MCTIC

Ouço reclamações sobre o atraso tecnológico brasileiro e concordo. Mas indago se a culpa é do cientista ou do agente governamental nomeado para trabalhar na solução do problema, ou seriam as escolhas políticas feitas nos últimos anos e este sentimento disso aqui ser a “casa da mãe Joana”, proporcionada por ações nos altos escalões ministeriais?

Vou dar mais um exemplo disso. Hoje saiu no Diário Oficial da União a nomeação de dois técnicos (suponho que sejam, dada a natureza dos cargos que irão assumir). Vejam quem são:

Com base nesse “print” do DO vocês indagam: “e daí, o que isso tem a ver com o enunciado seu acima”?

Respondo, mas não com o objetivo de denunciar alguma coisa. Apenas quero constatar um fato e estabelecer o debate com vocês:

1 – Felipe Belluci (não o conheço) está sendo chamado para ocupar o cargo de “Coordenador-Geral de Desenvolvimento e Inovação de Tecnologias Estratégicas” por um salário de R$ 10.373,30.

Suas atribuições nessa função serão coordenar as atividades inerentes ao Departamento de Planejamento Estratégico:

I – avaliar o cenário estratégico do desenvolvimento de ciência e tecnologia no Brasil e no exterior, visando a apoiar a tomada de decisões e o gerenciamento de riscos no planejamento das atividades do Ministério;

II – desenvolver, implementar, monitorar e avaliar, em articulação com os órgãos da Administração Pública Federal, políticas, programas e planos estratégicos relacionados à ciência, tecnologia, inovação e comunicações, compatibilizando as diretrizes estratégicas do Ministério aos instrumentos de planejamento, de avaliação de desempenho institucional e de gestão de riscos corporativo; e

III – avaliar a viabilidade de projetos de tecnologia apresentados ao Ministério.

2 – Já Eder Torres Tavares (também não o conheço) que irá ocupar o cargo de “Coordenador de Tecnologias Convergentes e Habilitadoras”, terá um salário de R$ 3.411,34, para exercer a função de avaliar o andamento da “produção inteligente nos mais diversos setores produtivos desde eletrônicos a setores tradicionais como a agricultura e a saúde”. Que são eles:

(i) Nanotecnologia, tecnologia transversal, disruptiva e pervasiva dedicada à compreensão, controle e utilização das propriedades da matéria na nanoescala (1,0×10-9m, que equivale a 1 bilionésimo do metro), que possui a capacidade de revolucionar produtos, processos e prestação de serviços, com inovações até pouco tempo inimagináveis;

(ii) Fotônica, campo da ciência dedicada a estudar a luz (fóton), sua geração, aplicação, detecção e manipulação da emissão, transmissão, modulagem e processamento de sinal;

(iii) Materiais Avançados, que apresentam novas estruturas, propriedades diferenciadas, combinações de propriedades e/ou melhor performance de suas propriedades. O Brasil é um dos maiores detentores em termos de diversidade de materiais; e

(iv) Manufatura ou Indústria Avançada ou Indústria 4.0, caracterizada pela integração e aplicação das tecnologias convergentes e habilitadoras em elementos diversos conectados em rede por sistemas ciberfísicos.

Ou seja, significa que os dois juntos ganharão um salário total de R$ 13.784,64. Juntando os salários chegarão aos R$ 13,6 mil que recebe todos os meses a “seguradora oficial de celular para transmissão das aparições” do ministro Marcos Pontes, a sócia Christiane Correa.

Então falar de atraso tecnológico num cenário em que, quem define os rumos da inovação e de tecnologias estratégicas para o país, ganham salários menores do que uma “aspone de luxo” e até boa vontade de quem estiver criticando.

O ministro Marcos Pontes terá de explicar a nomeação de Christiane Correa, sua sócia, no MCTIC na Câmara dos Deputados. Espera-se que a deputada do PT de Minas Gerais, Margarida Salomão, autora do pedido de audiência publica, questione se não há uma inversão de valores no Brasil., Que no fim nos leva à condição de ser comprador de tecnologias ou exportador de insumos, porque o dinheiro é gasto com apadrinhados políticos.

*Já aos cientistas da ABC, SBPC e outros penduricalhos que acomodam egos latentes na Ciência Brasileira, tratem de parar de puxar o saco de ministros e passem a questionar os rumos que este país anda tomando. Sair em foto com ministro, só faltando fazer “arminha”, não é melhor escolha ou opção de vocês. Ou então desocupem a moita para outros cientistas, que querem ver esse país realmente grande