A reportagem do Correio Braziliense sobre o comodato de um equipamento da multinacional Oracle, que deveria rodar em caráter experimental, mas foi “colocado em produção” por determinação do presidente do Serpro, Marcos Mazoni, carece de falta de documentação.
O Correio alega ter em mãos documentos que comprovam que Marcos Mazoni teria dado a ordem para atropelar um processo de testes de um Hexadata da Oracle, para colocá-lo em operação no data warehouse da Receita Federal.
Curiosamente o Correio, tendo uma bomba nas mãos como essa, optou apenas por dar seguimento à reportagem, sem mostrar tal documento. E baseada numa ata de 27 de março deste ano, tenta comprovar que Mazoni deu tal ordem aos demais diretores e superintendentes do Serpro.
Por que? Somente o Correio poderia explicar.
Nesta reportagem não tinha uma fonte oficial. Mário Evangelista o ex-superintendente do Serpro que perdeu o cargo e passou a denunciar corrupção na empresa, tomou chá de sumiço. Ficou a impressão de que o Correio “comprou” uma informação para sustentar seu escândalo contra a direção do Serpro, sem dispor de uma prova contundente para comprovar a acusação.
Má fé ou amadorismo
O correio valeu-se de uma declaração do redator da Ata da reunião José Edson, do dia 27 de março deste ano, para corroborar a tese de que a fraude na aquisição do equipamento teria partido do presidente Mazoni: “Reforcei que a premissa de ter o ambiente DW em produção no equipamento Exadata, em comodato, era determinação da presidência do Serpro”.
Mas omitiu que essa decisão pressupõe que seja um teste e também partiu de outros representantes da diretoria da empresa.
A frase completa do coordenador da reunião José Edson, tem um sentido diferente da publicada pelo Correio: “Reforcei que a premissa de ter o ambiente DW em produção no equipamento EXADATA em comodato, era determinação da Presidência do Serpro, em parceria com as Diretorias de Operações e de Relacionamento com Clientes, e com a plena concordância dos Superintendentes da SUNAC e da SUPCD”.
Dificuldade até para testar
A Ata de 27 de março foi deturpada pela reportagem, pois se lida na íntegra, ficaria comprovado que, se Mazoni deu ordem para simplesmente “atropelar” uma licitação e passar a usar o Hexadata no ambiente DW da Receita, ela teria sido descartada pelos demais funcionários do Serpro.
A reunião justamente foi criada com o objetivo de discutir a premissa de testes, segundo o que diz a própria Ata redigida pelo coordenador da reunião José Edson: “termos os dois ambientes em paralelo (DW em Risc com Unix e DW em Exadata com Linux)”.
Na Ata fica até claro que o Serpro nem teria condições de ter colocado o Hexadata para produção imediata do DW da Receita, pois primeiro a empresa teria de vencer uma série de problemas internos, identificados para a executar essa tarefa:
1 – Necessidade de capacitação das equipes de Suporte e de Produção, tanto de S.O. quanto de Bancos de Dados.
2 – Necessidade de envolvimento das áreas de Negócio e de Desenvolvimento, tanto no planejamento quanto na execução e posterior acompanhamento, manutenção e evolução do novo ambiente.
3 – Implantar Backup para esse novo ambiente.
4 – Migração dos scripts de produção atuais para a nova tecnologia, bem como formação de profissionais para futura evolução e melhorias desses scripts.
5 – Manutenção do sincronismo das bases de dados no ambiente atual e no EXADATA.
6 – Escassez de discos para criação de ambientes clones.
Dois ambientes
O próprio redator da Ata José Edson volta a explicar, de forma mais clara, que a premissa original era colocar o equipamento da Oracle em teste:
“De posse da relação de problemas e dificuldades acima, realizamos áudio com o Superintendente da SUPCD para posicioná-lo e para que fosse, mais uma vez, referendado a premissa. Ouvimos do senhor José Gomes Júnior, Superintendente da SUPCD a orientação de termos os dois ambientes em paralelo (DW em Risc com Unix e DW em Exadata com Linux), com vistas a atender determinação da Diretoria do Serpro”.
* Cadê, então, o “papel”, com a ordem de Mazoni para atropelar todo esse processo? Com a palavra o Correio Braziliense e o paladino da ética pública Mário Evangelista.