O presidente da Telebras, Jarbas Valente, deverá ser comunicado oficialmente hoje (09) numa audiência que terá com o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que está sendo exonerado do cargo. Para o lugar dele já foi escolhido o nome de Frederico de Siqueira Filho, que é Diretor de Vendas Corporativas da Oi Soluções.
O nome de “Fred” – como é conhecido no setor de telefonia – já foi encaminhado ao Comitê de Elegibilidade da Telebras. Falta também ser homologado pelo Conselho de Administração da estatal.
É no mínimo curiosa a mudança na direção da Telebras, na qual sai um presidente nomeado pelo PSD de Gilberto Kassab, para ingressar um ex-dirigente da Oi, concessionária de telefonia fixa e prestadora de serviço de banda larga ADSL na região Norte/Leste, que entrou pela segunda vez em recuperação judicial.
Pode ser o prenúncio de um furacão que deverá ocorrer no setor de Telecomunicações nas próximas semanas e envolve a permanência da concessionária Oi no mercado. A companhia, segundo analistas, não tem mais como se manter em pé. Entendem que a empresa está à beira da falência com um passivo em torno de R$ 44 bilhões.
O Ministério das Comunicações mandou a Anatel preparar um estudo que indique qual o melhor caminho que o governo deverá seguir para impedir a quebra em definitivo da companhia, o que levaria a um apagão de serviços prestados por ela para milhões de brasileiros.
Duas hipóteses serão estudadas pela Anatel:
1- a caducidade da concessão, pelo argumento da possibilidade de a empresa estar deteriorando a qualidade dos serviços de telefonia fixa e banda larga (ADSL) prestados à população das regiões Norte e Leste do país. Com o fim da concessão, o governo volta a reassumir o controle de uma companhia após anos de privatização. Trabalharia num processo de saneamento das contas da Oi, que envolveria a União de alguma forma ter de desembolsar recursos. Ao final da recuperação com a intervenção, a Anatel abriria um edital para encontrar um novo investidor que deseje entrar no mercado na prestação dos serviços.
2 – a segunda hipótese seria a intervenção, com o governo assumindo as operações da Oi através de uma nova diretoria formada por integrantes do Poder Executivo, com o objetivo encontrar uma saída financeira para a recuperação da empresa, missão que parece ser quase que impossível dado o tamanho do passivo da companhia.
Nos bastidores, os comentários sobre esse enrosco em que o governo se meteu também esconderia o desejo de ajudar a “V-Tal”, empresa apartada do conglomerado Oi e comprada pelo banco BTG Pactual, que teria a incumbência de construir uma nova rede de fibras ópticas para a concessionária. A Oi só dispõe de banda larga ADSL (serviço de acesso à Internet prestado através de sua rede telefônica fixa), considerada obsoleta.
A eventual quebra da concessionária e o fechamento das portas levaria a V-Tal para o buraco juntamente, já que a Oi é o principal cliente dela. Então, dentro do governo há quem defenda que a solução a ser dada para a Oi estará intimamente ligada à da V-Tal, e passaria por um acordo que envolva uma parceria com a Telebras. Essa parceria resolveria dois problemas para a empresa construtora de redes de telecom.
O primeiro é que abriria as portas para a V-Tal passar a prestar serviços diretamente ao governo, por intermédio da Telebras, graças à contratação por dispensa de licitação. A Telebras já dispõe de uma rede montada de mais de 30 mil km de fibras ópticas, obtida através de acordo que mantém com a Eletronet, porém tem pouca penetração na última milha ( na entrada de capitais e dos municípios), justamente onde a Oi tem capilaridade através de rede ADSL, além de acordos com provedores locais.
Outro atrativo para a realização desse acordo é que a Telebras foi designada gestora da futura rede privativa do Governo, compromisso assinado pelas operadoras móveis com a Anatel após comprarem as licenças do 5G. A V-Tal como parceira seria a empresa a criar essa nova rede. Além disso, a estatal aguarda que a agência reguladora forneça uma faixa de frequência para operar telefonia móvel da rede privativa. Numa eventual parceria com a Telebras, a Oi/V-Tal acabariam não apenas ganhando acesso a uma rede de fibras ópticas, mas também voltariam ao mercado de telefonia móvel, vendida lá atrás pela Oi para fazer caixa para pagar dívidas.
No momento tudo é visto como “especulação de mercado”. Mas fica a seguinte indagação: por que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que manteve todo o corpo funcional remanescente da gestão Fábio Faria (que hoje trabalha no BTG Pactual), decidiu mudar a direção da Telebras, substituindo por nomes vindos da OI?
*O nome de Frederico Siqueira para presidente da Telebras já é a segunda indicação vinda dos quadros dessa concessionária que o governo pretende salvar.