Por Allan Conti* – Os líderes da área da saúde em todo mundo seguem enfrentando inúmeros desafios, como por exemplo, o esforço para atender às necessidades de uma população idosa em crescimento, ao mesmo tempo em que buscam controlar os custos. E esse cenário se agrava ainda mais devido ao fato de que temos atravessado um momento em que o envelhecimento populacional é caracterizado por condições crônicas.
Para se ter uma ideia, o Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi), divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta que 69,3% das pessoas com 50 anos ou mais sofrem de pelo menos uma doença crônica, sendo hipertensão, dores na coluna, artrite, depressão e diabetes os diagnósticos mais frequentes.
À medida que os seres humanos vivem mais, os custos associados a essas estatísticas se tornam ainda mais significativos, mas, embora a questão seja desafiadora, é possível atender às necessidades das populações mais idosas de maneira financeiramente sustentável, permitindo que os pacientes tenham acesso aos melhores cuidados em todos os lugares, mesmo enquanto seguem envelhecendo, contando com um artifício poderoso: a tecnologia.
Cuidando de uma população idosa em expansão
As pessoas estão vivendo mais hoje do que nunca, e a taxa de população mais idosa tende a aumentar, o que fortalece ainda mais o desafio de fornecer assistência à saúde de uma maneira financeiramente sustentável. Inclusive, um levantamento realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) reforça o impacto econômico que o envelhecimento populacional deve gerar às operadoras de saúde, com um crescimento de 11% na despesa assistencial até 2031.
De modo geral, os tratamentos de longo prazo, especialmente em países reconhecidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), representam um problema econômico global. Um relatório de 2020 da OCDE revelou que os países gastam, em média, 1,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em serviços de cuidados médicos, de enfermagem, pessoais e assistenciais.
Nesse contexto, países escandinavos e os Países Baixos representam as taxas mais altas, em torno de 3,5% do PIB, enquanto outros países de alta renda, como França, Suíça, Reino Unido e Alemanha, gastam cerca de 2% a 2,5%.
O poder da transformação digital na saúde
O Conselho Global do Fórum Econômico Mundial sobre Envelhecimento Saudável e Longevidade destaca a importância de preencher a lacuna para os idosos que podem ser deixados para trás à medida que os serviços se tornam cada vez mais inovadores.
Para isso, as recomendações incluem promover uma tecnologia inclusiva que reduza as barreiras que os idosos enfrentam com a digitalização; acabar com o ageismo, o qual representa um desafio significativo para a inclusão digital; e garantir o acesso à saúde para prevenir e gerenciar condições como doenças articulares, deficiência visual e problemas cognitivos, a fim de obter resultados aprimorados sobre a saúde populacional e superar os obstáculos para o uso e o sucesso de serviços e dispositivos digitais.
Felizmente, as instituições de saúde têm diversas maneiras para evoluir com esses esforços. Entre as medidas que os líderes do setor podem adotar estão abordar problemas clínicos conhecidos para populações idosas usando a força de tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) e algoritmos avançados para detectar condições comuns mais precocemente e com maior precisão, a fim de melhorar os resultados dos pacientes, as medidas de qualidade e, ainda, o desempenho financeiro da organização.
O impacto das ferramentas de suporte à decisão no cuidado a população mais velha
As soluções de suporte à decisão clínica também têm sido utilizadas em hospitais de todo o mundo para superar os desafios do setor, já que, com a implementação de diretrizes clínicas baseadas em evidências, os profissionais de saúde podem seguir um conjunto consistente de práticas recomendadas, reduzindo a variabilidade do cuidado e melhorando os resultados clínicos e econômicos.
As organizações de saúde também estão utilizando IA e modelos preditivos para reduzir a escassez de pessoas e diminuir as cargas de trabalho, ampliando em algumas áreas. Outra medida importante nesse sentido é a aprimorar a parceria com os pacientes, os quais podem ser os maiores aliados nos esforços das organizações para reduzir custos, ao mesmo tempo, em que melhoram os resultados.
Nesse sentido, ao apoiar os pacientes com planos de cuidados personalizados, conteúdo informativo e acompanhamento individualizado, os provedores de saúde podem contar com parceiros engajados em suas jornadas – o que também pode ser feito com o apoio da tecnologia, aproveitando insights de dados e transformando-os em estratégias acionáveis baseadas em evidências.
Assim, à medida que a expectativa de vida aumenta e as doenças crônicas em populações idosas continuam a elevar os custos com saúde e a sobrecarregar uma força de trabalho já desafiada, as organizações do setor precisam investir cada vez mais em soluções e processos.
Desta forma, ao adotar a transformação digital para atender às necessidades dos pacientes mais idosos, é possível reduzir custos e, ao mesmo tempo, otimizar os resultados e a qualidade de vida dessa população.
*Allan Conti é Diretor Comercial da Wolters Kluwer Health no Brasil.