FEI: “Apagões Digitais” alertam sobre dependência de infraestruturas invisíveis

Em outubro, duas das maiores empresas de computação em nuvem do mundo — Amazon Web Services (AWS) e Microsoft Azure — enfrentaram falhas que deixaram sites, aplicativos e até sistemas corporativos fora do ar por horas. No dia 20, uma interrupção em um dos principais centros de dados da Amazon, nos Estados Unidos, provocou instabilidade em sites e aplicativos de vários países, inclusive no Brasil. Já no fim do mês, um erro semelhante na estrutura da Microsoft afetou o serviço Azure, tirando do ar ferramentas como Outlook, Teams e OneDrive.

Essas companhias fazem parte do que especialistas chamam de hiperscalers, que são provedores globais capazes de armazenar e processar dados de milhões de usuários e empresas ao mesmo tempo. É nas plataformas dessas gigantes que funcionam lojas virtuais, aplicativos de bancos, redes sociais e serviços de streaming.

O que aconteceu foi uma espécie de “apagão digital”. As plataformas que guardam e distribuem informações para outros sistemas, como os servidores (EC2), os espaços de armazenamento (S3) e os endereços da internet (DNS), ficaram fora do ar por períodos que chegaram a 15 horas na Amazon e 8 horas na Microsoft, afetando usuários e empresas em diversos países.

Segundo a professora Leila Bergamasco, coordenadora do curso de Ciência da Computação e do CDIA (Ciência de Dados e Inteligência Artificial) da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), esses episódios revelam o lado frágil de uma estrutura altamente concentrada. “Quando poucos provedores concentram boa parte da internet, uma falha localizada pode ter reflexos globais”, explica.

Os impactos vão muito além da área de tecnologia. Plataformas de e-commerce, aplicativos de transporte e até serviços internos de empresas ficaram fora do ar. Em muitos casos, sistemas de pagamento e atendimento ao cliente pararam completamente.

Para o professor Ricardo de Carvalho Destro, também da FEI, os incidentes reforçam a importância de planejar alternativas. “É como depender de uma única usina para abastecer uma cidade inteira. Se houver um problema, tudo apaga”, exemplifica. Segundo ele, empresas precisam ter planos de contingência, cópias de segurança e mais de uma forma de manter seus sistemas online.

Os especialistas da FEI destacam que, com o avanço da digitalização, a nuvem tornou-se uma infraestrutura tão essencial quanto energia ou transporte. E, assim como ocorre em outros setores críticos, ela precisa de transparência, preparo e protocolos claros de resposta a falhas.

“Esses episódios devem servir de aprendizado. Não se trata de apontar culpados, mas de entender que o mundo conectado também é vulnerável e precisa de planos para reagir”, completa Leila.