Dataprev: fim da era mainframe e perspectiva de mineração de dados e monetização

A Dataprev anunciou hoje (19), que deu o primeiro passo para o fim da era mainframe e a consequente dependência tecnológica da Unisys. Embora no momento alegue que considera a ideia “distante da atual necessidade da empresa” e afirme que não há nenhum plano pronto para a estatal passar a trabalhar com mineração dessa ou de outras bases de dados, visando fins lucrativos, o presidente da empresa, Rodrigo Assumpção, entende que num futuro não tão distante a Dataprev poderá dar uma guinada nessa direção.

“Eu acredito que à médio prazo a discussão da propriedade, dos direitos, da classificação, da certificação não somente dos dados pessoais como hoje de certa maneira já é discutido, mas os dados que você apontou, que são dados sobre transações relacionadas entre indivíduos e instituições, isso será objeto de muito debate na sociedade brasileira. E, sim, acho que é um elemento muito importante para discutir a nossa inserção nessa economia de dados. E a Dataprev certamente estará envolvida no meio desse processo”, afirmou o presidente da Dataprev.

Enquanto esse debate não chega a estatal consegue, enfim, substituir os pesados e custosos mainframes da Unisys e passar a processar a folha de pagamentos do INSS em plataforma baixa. Cuja performance gera maior rapidez de execução do serviço, tem uma arquitetura mais amigável já que os sistemas são compatíveis e aderentes às novas linguagens de programação, além de uma maior capacidade de segurança e manutenção.

Para se ter uma ideia do custo operacional e a tensão que a tarefa exigia, pois em 48 anos nunca houve atrasos pela Dataprev no pagamento de 38,3 milhões de aposentados e pensionistas, a equipe técnica da estatal levava em torno de 96 horas para realizar todo o processo de elaboração da folha. Com a substituição do mainframe, passará a consumir apenas 48 horas do seu tempo, com a liberação do corpo funcional para atender às outras demandas.

A migração de dados da plataforma alta para baixa faz parte de projeto de modernização dos sistemas previdenciários. “Todos os meses fazemos os cálculos de todas as remunerações da folha da Previdência [maciça]. Implementamos em nossos ambientes na plataforma baixa e comparamos, mensalmente, os resultados obtidos com os da plataforma alta”, detalhou o diretor de Produtos e Soluções da Dataprev, Flávio Sampaio.

“Funcionalmente, a Nova Folha agrega recursos como o novo sistema de validação de créditos, o qual permite maior segurança na avaliação dos processamentos”, explicou o analista de TI, Solon Lucena, que tem monitorado e acompanhado de perto as ações de modernização pela Presidência da Dataprev.

Cerca de 100 empregados da Dataprev contribuíram para essa conquista ao longo do processo de desenvolvimento, homologação e piloto da Nova Folha. Atuaram profissionais de diferentes localizações e áreas, desde as equipes atuais de desenvolvimento, até de suporte, operação, arquitetura, análise de desempenho e banco de dados.

A Dataprev possui equipes em sete estados do país, onde os times atuaram de forma integrada. Como exemplo dessas atividades, temos uma parte importante da solução construída pelas equipes da unidade do Rio Grande do Norte: módulos de integração de cadastro e créditos, além do apoio no processo de automatização das execuções. O trabalho de desenvolvimento do núcleo da Nova Folha foi executado pelas equipes lotadas no Ceará, onde atuam até hoje em melhorias e manutenções.

Porém, coisas inexplicáveis ocorreram ao longo desse processo, que nunca foram devidamente esclarecidas pela empresa durante a última gestão. Como o caso da Accenture, que chegou receber R$ 50 milhões para execução desse serviço de rebaixamento da plataforma mainframe, mas acabou tendo o contrato cancelado de “forma amigável” pela estatal, sem que nenhuma punição tenha ocorrido pelo serviço supostamente não executado.

Nos bastidores da empresa na época se comentava que a estatal não podia aplicar uma sanção administrativa, pois a Accenture era a empresa de um consórcio que foi contratado pelo BNDES, justamente para elaborar estudos que pudessem estabelecer um preço de venda do Serpro e da Dataprev. Eventual punição teria gerado uma dor de cabeça enorme ao então Ministério da Economia.

Além disso, o anúncio de agora do presidente Rodrigo Assumpção, não necessariamente coloca um fim na dependência da Unisys. A estatal está presa sob contrato pelos próximos três anos a pagar R$ 100 milhões à multinacional, pois ainda necessitará manter o mainframe em atividade para outras funções da empresa.

Problemas à parte, enfim a Dataprev dá o primeiro passo concreto para cumprir um “Termo de Ajustamento de Conduta” que assinou em 2009 com o Ministério Público Federal, justamente para acabar com a dependência tecnológica na estatal. Esse abacaxi na época caiu no colo do então nomeado presidente da empresa, Rodrigo Assumpção. Quis o destino agora que ele voltasse à estatal para anunciar o capítulo final que dará um fim nessa novela.

O anúncio de hoje contou com as presenças do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto e do secretário de Governo Digital do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Rogério Mascarenhas.

*Com informações da Assessoria de Imprensa da Dataprev. Foto: José Cruz/Agência Brasil.