Parecia um dia de Twitter da vida real. Após o festival de trocas de insultos que vem ocorrendo desde ontem (28) entre oposição e governo na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, problema que se repetiu na sessão desta quarta-feira (29) pela manhã; na parte da tarde foi a vez da Comissão de Comunicação (CCOM) repetir os mesmos episódios lamentáveis, que obrigaram o presidente, deputado Amaro Neto (Republicanos-ES), a encerrá-la antes que os parlamentares partissem para um octógono de Jiu-Jitsu.
A sessão da CCOM teve troca de ofensas vindas de ambos lados, fruto do discurso ideológico de cada lado. O que se viu na sessão de hoje deixa margens para dúvidas se a criação da Comissão de Comunicação nessa legislatura foi uma decisão acertada do presidente da Câmara, Arthur Lira. Em apenas duas reuniões ela já deu elementos suficientes para se dizer que não, pois deu claros sinais de que a polarização política pretende tumultuar ainda mais o processo e o ambiente legislativos.
A confusão começou logo no início das votações de requerimentos. Ao analisarem o Requerimento nº 10 de autoria da deputada Carol Dartora (PT/PR), os deputados que compõem a bancada oposicionista, – formada por integrantes do bolsonarismo e parlamentares evangélicos – rejeitaram o pedido dela. A deputada petista solicitava a inclusão das ONGs “Coalizão Direitos na Rede; Instituto Vero e Artigo 19”, na relação dos convidados que irão debater em audiência pública a “institucionalização da censura no Brasil”, proposição de autoria do deputado Gustavo Gayer (PL-GO) (requerimento nº1).
Para debater esse tema Gayer convidou o ex-ministro do STF, Marco Aurélio Mello e o jurista Ives Gandra Martins, assim como os jornalistas que defendem o ex-presidente Jair Bolsonaro: Allan dos Santos; Alexandre Garcia; Ana Paula Rodrigues Henkel (Comentarista Política); Barbara Zambaldi Destefani (Comentarista); Camila Abdo Calvo (Jornalista) e Zoe Maria Fernandez Martínez (Comunicadora). Na sessão extraordinária que aprovou o requerimento outros dois nomes foram inseridos na relação: os jornalistas Rodrigo Constantino e Paulo Figueiredo Filho.
Carol com base no regimento da Câmara e da comissão solicitou a inclusão das ONGs e, a partir daí, a sessão da CCOM virou campo de batalha bem ao estilo de uma rede social. No vídeo vê-se claramente que a oposição e os parlamentares governistas travavam um debate civilizado, com cada um expondo seu ponto de vista, até que o deputado Bibo Nunes (PL-RS), não satisfeito apenas em declarar a sua posição contrária à presença das ONGS, começou a fazer um discurso político de dedo em riste apontado para Carol:
Já com alguns ânimos exaltados, os deputados da Comissão de Comunicação da Câmara passaram a votar um novo requerimento. Desta vez, o requerimento nº12, de autoria do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), no qual solicita informações para o ministro da Secretaria de Comunicação Social (SECOM), Paulo Pimenta, sobre “o encontro do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e da Primeira-dama, Rosângela da Silva, com influenciadores digitais e celebridades no dia 08 de fevereiro de 2023”.
No requerimento, Nikolas quer saber se “foram empenhados gastos públicos específicos com o encontro realizado pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e da Primeira-dama, Rosângela da Silva, no encontro com influenciadores ocorrido no Palácio do Planalto”.
Nos 31 minutos seguintes da sessão o bate-boca foi geral, inclusive com troca de ofensas de ambos os lados. O clima esquentou ainda mais, quando o deputado Nikolas Ferreira disse que desde ontem vinha sendo atacado em sua honra pela bancada governista, rememorando o episódio da Comissão de Constituição de Justiça do dia anterior e que voltou a se repetir na manhã desta quarta-feira na CCJ.
Recebeu o apoio do deputado Filipe Barros (PL-PR), que até então fazia um discurso oposicionista moderado, e os demais parlamentares do PL. Se valendo do regimento interno Filipe pediu a palavra por oito minutos como líder de bancada e, ao defender Nikolas, passou a atacar também o presidente Lula, num discurso fora do contexto daquele momento da sessão.
A partir daí a comissão perdeu controle.
Os deputados governistas contestaram Nikolas Ferreira e os demais integrantes da bancada do PL. A gota d’água foi quando o deputado Fabio Teruel (MDB-SP), disse que a comissão estava tentando aprovar um requerimento de um deputado que “se colocava como vítima”, mas era “o maior propagador de ódio do Brasil”, se referindo a Nikolas Ferreira.
O clima fechou de vez. Assista ao vídeo contendo toda a confusão, até que o presidente Amaro Neto, teve que primeiro suspender a reunião, para logo em seguida encerrá-la.
A TV Câmara ainda chegou a deixar “no ar” alguns minutos de sessão encerrada, na qual se podia ver que o bate-boca entre governistas e oposição continuou. A íntegra do vídeo da sessão o leitor pode acessar no seguinte link:
https://www.camara.leg.br/evento-legislativo/67392