Ontem (11) o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, participou de uma coletiva de imprensa que não houve. Falou sozinho por cerca de 59 minutos e não foi questionado por ninguém. Apenas a sua platéia ministerial o aplaudiu. Cena patética, que nenhum jornalista que eu conheça se prestaria a isso.
Ele fez um balanço das ações de sua gestão em Telecomunicações, no mesmo estilo de um governador em fim de mandato, que anuncia obras que só serão inauguradas pelo seu sucessor. Assim mesmo, sentiu o gostinho de dizer que a ideia foi dele.
Por exemplo, até a construção do prédio do Centro de Operações do Satélite Geoestacionário da Telebras, em Brasília, valeu para acalmar o ego ferido do ministro, que só soube que perdeu a área de Telecomunicações quando a Medida Provisória que recriou o Ministério das Comunicações já estava a caminho da Imprensa Oficial.
Só que Marcos Pontes não conta que esse prédio, de alta tecnologia, começou a ser construído muito antes dele sonhar em ser ministro do “mito”.
E não terá nem o gostinho de inaugurar porque a data prevista desse evento é o próximo dia 23, e deverá contar com a presença do novo ministro das Comunicações Fabio Faria. Pontes nem deveria ser convidado a estar presente, já que não moveu uma palha em favor da empresa. Detalhe: kassab, quando foi ministro do MCTIC, brigou muito por verbas para a conclusão da obra, que ironicamente voltou agora para o controle do seu partido.
Conectividade
Na ‘palestra’ sobre “entregas” de projetos que está sendo obrigado a repassar para o Ministério das Comunicações, ficou claro na parte que tratou da Telebras, que simplesmente Pontes escanteou a empresa estatal, pois julgava que seria privatizada ou extinta. Ideia cada dia mais distante, depois que a pasta foi entregue a Gilberto kassab do PSD.
O ministro nem se constrangeu de mostrar na apresentação, que ignorou o papel da Telebras em políticas públicas de inclusão digital. Todos os projetos de conectividade do país apresentados como “entregas” de Marcos Pontes ao Ministério das Comunicações foram repassados para a RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa.
Agora a RNP tem um pepino nas mãos, pois terá de convencer ao futuro Secretário de Telecomunicações (se o novo ministro for sensato, não aproveitará Vitor Menezes), que os projetos de conectividade que estão em suas mãos são viáveis e de interesse público, já que o orçamento deverá passar para o novo Ministério das Comunicações.
Terão de ser bem convincentes, porque estavam usurpando o papel da Telebras na condução dessas políticas, e o cacique, Gilberto kassab, já tinha deixado claro que a estatal deveria ser melhor aproveitada nessa área.
Já sobre o grandioso esforço do Ministério da Ciência e Tecnologia, na conexão de postos de saúde, outra vez feito com apoio da RNP, estaria paralisado desde a saída do ministro da Saúde Mandetta, segundo informações na imprensa.
Venda da Telebras
Marcos Pontes ainda faltou com a verdade. A apresentação deixa claro que a Telebras não estava melhorando seu desempenho administrativo e financeiro com o objetivo de ter uma gestão mais eficiente. O que estava sendo feito era a preparação para a venda da estatal e ele lavou as mãos. Não fez o mínimo esforço para demover a área econômica do governo da ideia de privatização da Telebras. Os slides tinham cara de apresentação de vendedor de empresa estatal.
Os militares da área da Defesa foram os reais responsáveis por arrastar o processo de avaliação, até conseguir força política para impedir a venda. Conseguiram manter a estatal apenas no PPI – Programa de Parceria de Investimentos. Agora ganharam força com a chegada do PSD no Ministério das Comunicações, pois o cacique, Gilberto Kassab, já declarou ver a privatização como “um crime”.
E nas “diminuições” de despesas que apresentou, boa parte da redução dos “custos” dizia respeito a redução dos custos com pagamento de juros do adiantamento que tiveram de aumento de capital da empresa. Concretizada a medida, que demorou meses para ser efetivada, acabou o “custo”. Não era necessariamente “enxugamento” de gastos administrativos. Pura maquiagem contábil, caro ministro.
No fim, a apresentação de Marcos Pontes sobre as “entregas” de projetos grandiosos que está fazendo ao novo ministro das Comunicações, fica apenas o registro da frase solta ouvida por todos que assistiram a transmissão, provavelmente feita por algum técnico desavisado que esqueceu o microfone aberto: “fala pra caramba”.
*Jesus, que fase…