
Começou a circular hoje nas redes sociais uma nova produção midiática da Secretaria de Comunicação Social (SECOM), com um “tweet” do ministro Paulo Pimenta. Nela, o governo anuncia suas 30 primeiras “realizações” com apenas um mês de mandato do presidente Lula. E encerra afirmando: “Se já fizemos tudo isso em um mês, imagine em 4 anos”.
Das 30 realizações alegadas como sendo “ações de governo”, pelo menos umas seis são questionáveis. E em uma delas é de até se admirar que a SECOM crie uma narrativa que considere como um grande feito ou realização governamental, em contraponto a um momento que maculou a História do Brasil. Que demonstrou o quanto as instituições democráticas ficaram tão abaladas com apenas quatro anos de mandado de Jair Bolsonaro.
Pois a SECOM trouxe para o roll das realizações do Governo Lula a “Caminhada da Democracia”. Um evento que foi suprapartidário, que teve a iniciativa dos Três Poderes e serviu como resposta aos ataques do bolsonarismo no dia 8 de janeiro.
Ali não havia uma manifestação de apoio ao governo, mas uma resposta de toda a sociedade que não tolera o fascismo propagado pela extrema direita, que tentou incentivar os militares a participar da aventura de um golpe de Estado, não apenas do governo.
Curiosamente o vídeo simplesmente ignora todo o pacote da Democracia instituído pelo Ministério da Justiça, que visa combater o avanço do fascismo no Brasil. Será que a SECOM faz restrições ao pacote de Flávio Dino?
Acho que a SECOM ainda não sentou para discutir claramente o que pretende fazer em termos de Comunicação. E ela não se restringe às redes sociais. Lula não foi eleito por elas, isso é um ledo engano da esquerda que teima em seguir a cartilha da extrema direita nessa área, mas não dispõe nem de equipe qualificada para isso, muito menos um propósito.
Não se enganem, a extrema direita age nas redes com método, sabem exatamente o que fazer e conta com um exército de gente que embora padeça de déficit cognitivo, atende ao interesse de potencializar o discurso por mil.
Tratar a reunião de governadores com Lula como outra “ação de governo”, só mostra como o governo é capaz de fazer leituras erradas de movimentos políticos. Os governadores atenderam a um convite de Lula para a reunião apenas para ouvir dele o compromisso de não prejudicar ninguém por questões ideológicas. Pois esperam que Lula trabalhe como presidente da República de forma isonômica, dando tratamento igual para todos os Estados, mesmo aos que são e serão oposição ao seu governo. Isso até pode ser considerada como uma intenção do presidente, não necessariamente uma ação de governo. Lula está acima de seus auxiliares pela experiência política que tem após dois mandatos como presidente. Sabe que não terá todos como aliados, mas espera não tê-los como inimigos, quando precisar de apoio para a aprovação de pautas de interesse do país.
No campo da pirotecnia política, o simples contato que Lula fez com Biden e Macron, respectivamente presidentes dos EUA e da França, acabou se transformando em “ações de governo”. É evidente que a chegada de Lula ao comando do Brasil como presidente tenderá a abrir as portas brasileiras para diversas pautas que foram abandonadas por Bolsonaro, e levou o país à condição de pária internacional.
Lula já demonstrou nos dois primeiros governos que o Brasil quer ter papel relevante na política internacional, isso não é novidade. Simplesmente a movimentação feita por ele apenas sinaliza que o Brasil retomará futuros acordos e compromissos internacionais que levaram o país à condição de estar na vanguarda de algumas agendas de interesse mundial nos campos ambiental e econômico, por exemplo. Mas fica a dúvida: receber o chanceler alemão Olaf Scholz é “ação de governo?”
Da mesma forma o movimento de Lula em direção aos países latino-americanos sinaliza o compromisso do Brasil de retomar antigas agendas interrompidas há mais de seis anos quando um golpe tirou os governo do PT do comando do país. Mas ainda há muito chão pela frente, a viagem de Lula foi muito bem recebida por quase todos os países, mas não significam compromissos no momento que ultrapassem apenas o desejo de impedir que o fascismo retorne à região.
Mas Lula terá de gastar muita saliva no Cone Sul, por exemplo, pois com o afastamento do Brasil do Mercosul no Governo Bolsonaro, isso levou alguns países como o Uruguai a buscarem alternativas de comércio com outros países fora do bloco, como a China. Há ainda um episódio não esclarecido: a ausência da Venezuela até agora nos encontros, dado o fato de que por duas vezes Maduro acabou deixando de se encontrar com Lula. O que de fato está ocorrendo nos bastidores e que ainda não veio a público?
No campo das ações de governo há um caso clássico de desinformação, que gera expectativas que não poderão ser beneficiadas a curto prazo. A SECOM através do ministro Paulo Pimenta, pela segunda vez insiste em informar nas redes sociais, que as verbas de R$ 5 bilhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) foram recompostas pelo governo. Desde a Transição havia um alerta nessa direção e a recomendação urgente para revogar uma Medida Provisória que represava esses recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
A ministra Luciana Santos cochilou nessa questão e durante 15 dias demorou para tomar uma atitude, mesmo com todos os avisos que recebeu. Não só perdeu esses recursos na aprovação do Orçamento de 2023, mas expôs Lula perante a comunidade científica, quando ele foi obrigado a vetar o repasse por força da Medida Provisória não revogada antecipadamente.
Agora aguardam a queda da vigência da MP no início de fevereiro (dia 5), quando tentarão reaver parte do dinheiro para o orçamento do ministério. Pelo menos metade dos R$ 5 bilhões irão para a Finep para uso nos financiamentos de inovação de empresas e não necessariamente para o MCTI. Portanto dizer que haverá uma “recomposição integral” do FNDCT para o ministério trata-se de uma meia verdade.
A retirada da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e da Petrobras foi uma decisão acertada nos primeiros 30 dias de Governo Lula. Porém ainda pairam dúvidas sobre o motivo de Lula ter revogado apenas essas privatizações numa canetada e deixado as demais na condição de “reavaliação” pelo Ministério do Planejamento.
Paulo Pimenta e a SECOM poderiam esclarecer isso, mas até o momento o ministério apenas segue a mesma estratégia bolsonarista, de só criar a sua narrativa e prestar contas para o seu público cativo nas redes sociais. Não se submetendo às entrevistas diárias como as que ocorriam nos dois primeiros governos do PT com a imprensa (raríssimas hoje em dia). Podem até alegar que o mundo mudou, que a Internet chegou, que há novos mecanismos de Comunicação mais ágeis.
Conversa inventada pela Comunicação nascida no bolsonarismo para vender a versão deles, não os fatos. Ao que parece o Governo Lula seguirá a mesma cartilha, já que muitas das empresas que prestam serviços para os ministérios ainda são as mesmas que serviram ao governo anterior.
E essa turma ganha muito bem, os gastos do governo estão na casa dos milhões de reais com essas empresas que estão e querem continuar lá ditando as regras da Comunicação Social. Decidiram vender a imagem do governo tal como se fosse um sabonete. Não estão lá para necessariamente prestar o serviço de informar.
*É de se questionar se Lula foi eleito por engajamento de rede social.