Anatel: Huawei não passa em requisitos de governança para atuar na rede privativa do governo

Aos olhos da Anatel não há impedimento de ordem técnica para aquisição de equipamentos da Huawei no Brasil. Mas o regulador lembrou que, pela atual regulamentação vigente no país referente à governança corporativa de companhias de capital aberto listadas pela CVM e a B3, a fabricante chinesa não atende aos requisitos impostos para todas as companhias. Portanto, do ponto de vista legal, ela terá problemas em participar de futuros processos de compras para a rede privativa do governo federal.

As declarações da Anatel foram motivadas pela Telebras, que decidiu consultar o regulador sobre a questão por meio do Ofício nº TLB-OFC-2023/01073 (SEI nº 10762981). A preocupação da Telebras – gestora oficial da rede privativa do governo – se baseava em saber se haveriam restrições técnicas que pudessem impedir a participação da Huawei no fornecimento de equipamentos de comunicação da futura “Rede Privativa de Comunicação da Administração Pública Federal”. A agência respondeu às questões em dois ofícios encaminhados para a estatal.

Ficou claro que a resposta da agência reguladora, do ponto de vista técnico, foi “não”:

“Em complementação ao Ofício nº 75/2023/PR-ANATEL, de 24 de agosto de 2024, informa-se que até o presente momento esta Agência não tem conhecimento de elementos técnicos que justifiquem uma restrição ao uso dos equipamentos da referida empresa”, declarou a agência reguladora, em correspondências trocadas entre os presidentes, Frederico Siqueira (Telebras); e Carlos Baigorri (Anatel).

Restrição regulatória

Mas, do ponto de vista legal a situação se inverte ( em resposta ao Ofício nº TLB-OFC-2023/01073 (SEI nº 10762981). O problema contra os chineses de participarem de futuros processos de compras pela Telebras, segundo avaliação da Anatel, estaria em como foi descrito o parágrafo 10, alínea b, inciso VII do artigo 2º da Portaria nº 1.924 do Ministério das Comunicações, que entrou em vigor na gestão de Fábio Faria, durante o Governo Bolsonaro.

Ficou patente que o ex-ministro atendeu a um pedido da ala ideológica/militar quando publicou a Portaria MCOM nº 1.924; na qual excluiu a Huawei do processo de aquisição de equipamentos da rede governamental.

Como agora o Governo Lula irá resolver esse pepino é que será a grande questão a ser avaliada. Lula quando esteve na China chegou a visitar a gigante chinesa das telecomunicações, acompanhado do ministro das Comunicações, Juscelino Filho e de Janja.

O Regulamento do Novo Mercado instituído com a criação da B3 prevê uma série de requisitos de governança pelas quais as companhias devem operar no Brasil no mercado financeiro cumprindo todos à risca. Ou acabam arranhando sua imagem perante o investidor através de gradações que demonstram se cumprem ou não essas normas. Também é um alerta prévio da CVM e da B3, que eventuais contratos com empresas que não atendam à esses requisitos, será uma decisão que fica por conta e risco exclusivo dos compradores.

“Observa-se que são vários os requisitos exigidos, os quais ao se consultar o sítio eletrônico da Huawei do Brasil Telecomunicações LTDA, não é possível se constatar o devido atendimento. Como exemplo cito a questão da divulgação de relatórios de acompanhamento e a divulgação mínima de informações relativas à dispersão societária do seu quadro de controladores”, informou a Anatel no ofício.

Essa discussão mostra que o governo, embora esteja silencioso sobre quando começa efetivamente a construção dessa rede, está debatendo internamente os prós e contras da participação de futuros fornecedores em processos licitatórios. A Rede Privativa foi uma condição imposta de investimento feito pelas operadoras móveis em favor do governo, quando elas disputaram o leilão das frequências do 5G.