Por Jeovani Salomão* – Netscape, Excite, Cadê?, Intershop, ICQ, Kodak, Blockbuster, você se lembra dessas marcas? Talvez, caso você faça parte da geração Z, ou seja, nascido no século XXI, sequer tenha ouvido falar desses dinossauros, embora nem todos estejam extintos.
O Netscape Navigator foi o primeiro browser popular na WEB, criado a partir do primeiro navegador gráfico, o Mosaic. Marc Andreesen, que era líder do projeto do Mosaic, demitiu-se e criou a Netscape Communications Corporation em outubro de 1994, em um tempo que nem Bill Gates acreditava muito nesse nicho de mercado. No ano seguinte, a Microsoft se reposicionou ao adquirir o Internet Explorer da Splyglass inc. A guerra comercial entre as empresas levou a Netscape à falência, que no processo abriu seu código e deu origem ao Mozilla, enquanto popularizava cada vez mais o uso da web.
O Excite foi primeiro motor de busca da web. Difícil imaginar como era navegar antes disso. Ou você tinha o link ou nada feito. Em 1994 surgiu o Yahoo, que é considerado o primeiro ápice dessa tecnologia. O Brasil entrou no cenário em 1995 com o Cadê?, que atualmente pertence ao Yahoo Brasil. Em 1996 tudo mudou com a Google, as buscas com palavras combinadas começaram a funcionar melhor, os sites que se encontravam não eram apenas aqueles dos anunciantes, os quais, inclusive, tiveram que se adaptar a novos modelos de negócios.
Antes do lançamento da Amazon, registros na Internet apontam para a Intershop, empresa alemã, como a primeira empresa a explorar o comércio virtual. ICQ (I seek you) foi lançado muito antes da diversidade de aplicativos de mensageria, como WhatsApp e Telegram, a Kodak foi a primeira empresa a tratar adequadamente as fotos digitais e a Blockbuster foi, no final do século passado, a maior empresa de locação de filmes do mundo. Em particular, nesse ramo, quase nem mais se encontra empresas que façam locação física de mídias. Muito melhor uma assinatura na Netflix, na Prime Vídeo ou no Spotify se estivermos falando de música.
Em resumo, as marcas que iniciaram o texto, em algum momento do tempo, foram precursoras de sua área, em sua maioria com destaque mundial, no entanto, foram superadas por outras marcas muito mais poderosas que se consolidaram e, por vezes, destruíram as concorrentes originais.
Tal fenômeno foi analisado e é debatido ricamente no excelente livro “Originais”, de Adam Grant, o qual recomendo com ênfase. Curiosamente, o capítulo que trata o tema se inicia com uma reflexão sobre a correlação entre procrastinação e originalidade. Segundo o autor, que se baseia em pesquisas acadêmicas, o ato da criação pode ser incrementado pelo retardamento deliberado da ação. Para exemplificar a tese, ele cita o caso de discursos famosos, como o de Martin Luther King Jr., bem como faz menção a uma frase do ex-presidente Woodrow Wilson: “Se é um discurso de 10 minutos passo duas semanas inteiras preparando-o. Se posso falar pelo tempo que quiser, não preciso de preparação alguma. ”.
Para mim, fazer o que tem que ser feito o quanto antes gera muitos resultados, motivo pelo qual, esse pensamento que valoriza a procrastinação é desafiador. No entanto, quando se fala de empresas e modelos de negócios, os números apontam que é melhor chegar depois. Ainda no livro, são apresentados os resultados de pesquisas muito interessantes. A primeira, efetuada por Bill Gross, fundador da Idealab, que ao analisar o lançamento de 100 empresas, detectou que o fator mais relevante de sucesso é o “timming” e não a originalidade da ideia ou o modelo de negócios. Para completar, cita os estudos feitos por Peter Golder e Gerard Tellis que compararam o desempenho de centenas de empresas ou produtos pioneiros versus aqueles que entraram mais tarde no mercado, chamados colonizadores, em 36 diferentes segmentos. Os resultados são espantosos, a taxa de fracasso dos primeiros chega a 47% contra apenas 8% dos “retardatários”. Mesmo quando tem sucesso, o espírito desbravador tem desempenho pior. Conquistam em média apenas 10% do mercado contra 28% daqueles que surgem depois. Ao que tudo indica, esperar os pioneiros pode ser uma estratégia vencedora.
A pandemia do coronavírus nos afetou de forma significativa. No aspecto pessoal, impossível não lamentar a grande quantidade de mortes, inclusive de pessoas próximas. Amigos e parentes de amigos se foram, muitas vezes, de forma prematura. Em contrapartida, há uma modificação positiva em termos de solidariedade, de empatia, de relações humanas em geral e, em particular, das familiares. Alguns gigantes, como o amigo Henrique Andrade e a maestrina Rejane Pacheco, redobraram seus esforços em atender ao próximo nos projetos que lideram, respectivamente, Instituto Doando Vida por Rafa e Clara e Instituto Reciclando Sons, com os quais contribuímos de forma muito singela. Caso você ainda não tenha familiaridade com esses projetos belíssimos, minha sugestão é que utilize alguns minutos do seu tempo para conhecer e se emocionar. No âmbito dos negócios, apesar da economia apontar para desafiadores 5% a 7% de depressão no Brasil, temos várias oportunidades surgindo. Desde as pequenas, como o caso das pessoas que começaram a produzir máscaras, lenços de colocar no rosto, para quem conhece o ditado, até grandes corporações como a Zoom e outras tantas da economia digital que conseguiram surfar nesse momento de ampliação de consumo virtual. Se você ainda não decolou, a sua hora é agora. Olhe para os pioneiros e faça melhor. Suas chances de sucesso são grandes, acredite!
*Jeovani Salomão é empresário do setor de TICs e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.