A primeira no setor de TI, que sofreu todo tipo de preconceito, mas continua firme e lutando contra eles

Aproveito as comemorações do Dia Internacional da Mulher, para lembrar uma das pioneiras do setor de TI brasileiro e em Brasília: Cristina Boner. Já que as entidades do setor na capital preferem ficar caladas e não prestar as devidas homenagens para ela. Comecei minha carreira no jornalismo “especializado” de TI nos anos 90 acompanhando a ascensão de Cristina Boner, que da sua pequena lojinha e provedor de Internet na Quadra 111 Norte, chamada TBA Informática, evoluiu para um grupo de grandes empresas brasileiras de tecnologia.

Cristina, não é santa, não se trata aqui de beatificá-la. Apenas tenho o interesse de conceder à ela um mérito por tudo o que já fez no setor de TI e o direito de se ver na imprensa não como uma vilã. Ela sempre ocupou um papel de relevância na TI brasileira e sobretudo Brasília, mas pagou o preço alto por conta do machismo característico do setor, misturado com uma concorrência desleal. Que não teve escrúpulos todos esses anos em mentir, propagar infâmias sobre ela e até expor sua vida privada, com o objetivo de tirá-la do mercado.

Quando ela começou a empreender, após 1985, o mundo da informática estava recém conhecendo um novo sistema operacional, que já tinha a imagem de ser revolucionário: o “Windows”, da Microsoft. Cristina aproveitou uma visita ao Brasil de Bill Gates nos anos 1990, e quando ele passou por Brasília conseguiu uma aproximação com o empresário.

Ela foi uma das precursoras da venda do sistema da MS ao governo federal. Seu desempenho surpreendeu a companhia norte-americana, que logo a concedeu o ‘status’ de ‘revenda exclusiva’ da Microsoft para o governo. A partir daí começou o seu inferno no mercado de informática. Outros “empreendedores”, quando viram que o negócio era bom, judicializaram a questão. Cristina perdeu a exclusividade no mercado governamental, mas seu tino comercial ainda superava os concorrentes.

O que fazer com essa “mulher”, que teimava em afrontar um mundo formado por grandes empresários, todos homens, de família, bem sucedidos e reputação ilibada?

Se em 2022 um político é capaz de fazer o que fez com pobres mulheres ucranianas que enfrentam os horrores de uma guerra, imaginem o que não fariam nos anos 90 contra Cristina Boner? Sua vida privada foi parar nas páginas de jornais através de notinhas plantadas na imprensa. Uma mulher que teimava em brigar de igual para igual com homens, teve a sua reputação jogada no lixo do setor de informática.

Não vou entrar em detalhes de toda a sordidez de notícias que foram plantadas na imprensa nos últimos 20 anos contra ela. Quem me acompanha já leu muita coisa sobre o que ocorreu. Ela continua no mercado, lutando, gerando empregos e impostos. Tentando convencer novos clientes que foi vítima da infâmia e da inveja alheias.

Apenas digo às mulheres que agora estão desbravando o mercado de TI, rompendo velhos laços e lutando contra novos preconceitos, que foi graças à ela e outras poucas mulheres espalhadas no país, que vocês puderam chegar aonde estão.

*Se Cristina Boner não puder ser uma referência de ‘empreendedorismo’ para vocês, que pelo menos ela sirva de alerta sobre o que eles serão capazes de fazer contra vocês, se tiverem a ousadia de disputar o mercado de igual para igual com eles.