Por Gabriel Pavão* – O conceito de Indústria 4.0, ou Quarta Revolução Industrial, há tempos assumiu um papel central nas discussões industriais, inclusive no contexto brasileiro. Desde a sua introdução, o setor pode se beneficiar da ascensão de novas automações e a integração de tecnologias inovadoras capazes de promover avanços significativos que não apenas elevam a eficiência, mas também impulsionam a produtividade das operações industriais, marcando um avanço significativo na maneira como as empresas conduzem suas atividades.
Dentro deste contexto, a Internet das Coisas (IoT) emerge como uma alternativa estratégica, impulsionando a progressão do setor no que diz respeito à Indústria 4.0. Para se ter uma ideia, de acordo com o relatório da Research and Markets, o mercado de IoT industrial atingirá U$ 276 bilhões até 2029, refletindo o seu potencial para os próximos anos.
No Brasil, este impulsionamento será movido, principalmente, pelo investimento governamental no plano “Nova Indústria Brasil”, aliado à crescente demanda das indústrias por iniciativas que visem a redução de custos, o aumento de produtividade e a otimização de processos.
Apesar do cenário promissor com relação a IoT, desafios como custos de implementação, falta de infraestrutura com relação a conectividade no Brasil, e ainda, escassez de mão de obra qualificada são fatores que podem desacelerar essa tendência.
Outro gargalo está relacionado à integração dos dispositivos de IoT com os sistemas legados das empresas. Caso este processo não seja realizado de maneira efetiva, os dados coletados pela tecnologia podem se tornar subutilizados, comprometendo a assertividade e a utilidade das informações obtidas.
Além disso, é importante ter em mente que a maturidade das indústrias brasileiras por este tipo de tecnologia varia consideravelmente. Há setores no Brasil, por exemplo, que já são considerados maduros quanto a implementação da IoT. É o caso do agronegócio, em que a IoT está sendo utilizada para monitorar o clima, a saúde das plantações e o desempenho do maquinário. Outro bom exemplo é o setor de Utilities, que tem se apoiado em recursos tecnológicos para otimizar as redes de energia e reduzir perdas.
Benefícios da IoT além da teoria
Já está mais do que evidente que a Internet das Coisas conta com o potencial de transformar a maneira como as empresas operam e competem no mercado. Isto porque, com os sensores de IoT é possível obter o monitoramento em tempo real das máquinas, processos e produtos, permitindo a identificação e resolução de problemas de forma ágil e segura. Desta forma, a IoT se traduz em uma oportunidade estratégica, uma vez que por meio deste tipo de recurso as organizações capacitam-se para prever falhas e realizar a manutenção preventiva, evitando paradas não planejadas.
Outra possibilidade da IoT é garantir o controle da qualidade dos produtos em tempo real, assegurando que os mesmos atendam aos padrões exigidos, além de permitir a sua rastreabilidade, acompanhando a origem e o destino, facilitando, assim, a identificação de problemas.
A adesão dos sensores de IoT pode corroborar, ainda, para que as empresas sejam mais sustentáveis, já que pode monitorar o impacto ambiental das operações industriais, fazendo com que as organizações realizem as ações necessárias para otimizar o uso de recursos como energia, água e materiais. Além disso, os dispositivos podem mapear a segurança de ambientes industriais, prevenindo acidentes e protegendo os colaboradores.
A implementação dos sensores de IoT nas indústrias
A adoção da IoT no segmento industrial envolve certa complexidade e, para garantir um processo efetivo é necessário um faseamento, com etapas bem definidas. A começar pelo planejamento, que contempla a definição dos objetivos, a análise de necessidades, a seleção de fornecedores e a definição da arquitetura, incluindo os dispositivos, a conectividade, a plataforma de dados e os aplicativos em questão.
Na sequência, a fase de implementação é realizada, com a instalação e configuração dos dispositivos. Depois, é feita a integração com os sistemas existentes na indústria, seguido do treinamento dos colaboradores para utilizar a solução IoT.
Após essas etapas, é crucial realizar o monitoramento do dispositivo em questão, para garantir que o mesmo esteja funcionando de forma adequada, sem esquecer de sempre manter a sua manutenção e atualização constante.
Por fim, é imprescindível implantar medidas de segurança para proteger a solução IoT contra ataques cibernéticos, além do gerenciamento de acessos para garantir que apenas os usuários autorizados possam utilizá-la.
Como mensurar os ganhos da IoT?
Diversos métodos podem ser utilizados para quantificar os benefícios da IoT. Por meio desses dispositivos, é possível mensurar a redução do tempo de parada dos equipamentos, a economia de energia em kwh, além do controle de produtos defeituosos e das perdas. No que diz respeito aos colaboradores, há a possibilidade de quantificar a redução de custos com acidentes e com relação a sustentabilidade, a diluição da emissão de gases poluentes.
Desta forma, adquirindo os dispositivos de IoT, é possível criar novos serviços com base nos dados coletados, personalizando e otimizando a experiência dos clientes. Sendo assim, a Internet das Coisas torna-se um dos pilares fundamentais da Indústria 4.0.
Por meio da conexão de máquinas, dispositivos e sensores à internet, a IoT impulsionará cada vez mais a Transformação Digital das indústrias. No entanto, para acelerar a sua adoção, é imperativo que mercado e governo caminhem em conjunto, apostando em inovações e incentivos que garantem que a IoT se torne mais acessível. Essa colaboração estratégica é a chave para criar um ambiente propício ao desenvolvimento tecnológico, garantindo que as vantagens da IoT sejam amplamente aproveitadas em diversos setores, impulsionando, assim, o progresso industrial do país.
*Gabriel Pavão é Co-founder e Head of Partnerships da Fracttal Brasil, startup que está revolucionando a manutenção e a gestão de ativos por meio de tecnologia de ponta.