
O Diretor-Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Alvaro Prata, apresentou uma radiografia dos principais entraves que dificultam o avanço da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico no país. Segundo ele, burocracia, insegurança jurídica e falta de previsibilidade financeira ainda comprometem a transformação do conhecimento científico em inovação industrial. “O Brasil é pródigo em ciência de qualidade, mas essa ciência precisa estar mais próxima da sociedade e das demandas da indústria. É essa a missão da Embrapi: levar a boa ciência para a indústria”, afirmou.
Criada há 11 anos, a Embrapii consolidou-se como uma das principais ferramentas de conexão entre universidades, institutos de pesquisa e o setor produtivo. Atualmente, 91 unidades credenciadas atuam em 18 estados das cinco regiões do país, apoiando o desenvolvimento de soluções tecnológicas de ponta. Desde sua fundação, a empresa já contratou cerca de R$ 7 bilhões em projetos de inovação, envolvendo 2.400 empresas e mais de 3.500 projetos tecnológicos.
O modelo de financiamento é baseado na tríplice hélice: governo, indústria e instituições científicas.
A Embrapii entra com 34% dos recursos não reembolsáveis, as unidades parceiras com 16%, e a indústria com 50% dos investimentos. “Essa estrutura garante o equilíbrio entre o interesse público e o compromisso empresarial com resultados”, explicou Alvaro Prata.
Em 2014, a instituição iniciou com apenas nove projetos e um volume de R$ 20 milhões; em 2024, saltou para 647 projetos contratados e R$ 1,2 bilhão investido, demonstrando a escalada do modelo. “Nosso processo é ágil: entre a demanda da empresa e o início do projeto, passam-se apenas 42 dias. É inovação com pouca burocracia e foco em resultado”, destacou o executivo.
Para Alvaro Prata, o êxito da Embrapii se deve à boa governança, gestão eficiente e agilidade operacional, fatores que reduzem entraves e estimulam o ambiente inovador. A entidade mantém parcerias com o MCTI, o MEC, o Ministério da Saúde, o BNDES e o Sebrae, que aportam recursos e programas prioritários. “O segredo é acompanhar de perto as unidades, atender suas necessidades e permitir flexibilidade para que a indústria encontre soluções rápidas. É um modelo que deveria inspirar o restante do sistema nacional de ciência e tecnologia”, defendeu.
Obstáculos estruturais e recomendações
Apesar dos avanços, o representante da Embrapii alertou para gargalos persistentes no sistema científico brasileiro. Segundo ele, o país investe apenas 1% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, quando deveria destinar pelo menos o dobro. Além disso, há baixa formação e retenção de pesquisadores, carreiras pouco competitivas e infraestrutura científica defasada.
Entre as medidas estruturantes, destacou duas propostas prioritárias: Ampliar o uso das encomendas tecnológicas, mecanismo previsto no Marco Legal da Inovação, mas ainda subutilizado, que permite ao governo contratar soluções específicas da indústria para desafios estratégicos nacionais.
Fortalecer políticas públicas orientadas pela demanda, e não apenas pela oferta de recursos. “É preciso que o Estado aponte direções claras para o sistema de ciência e tecnologia perseguir, alinhadas a prioridades nacionais”, observou.
Alvaro Prata participou de audiência pública nesta terça-feira (04) na Subcomissão Especial da Câmara dos Deputados, destinada a avaliar os “Impactos dos Entraves Burocráticos sobre a Atividade de Pesquisa Científica no Brasil”.







