Caiado critica regulação europeia de IA e defende modelo brasileiro de “código aberto”

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, aproveitou sua participação em um encontro sobre inovação para fazer um duro discurso contra o que classificou como “legislação retrógrada” de inteligência artificial inspirada no modelo europeu. Para ele, o Brasil não pode se prender a normas que, em suas palavras, “já estão sendo abandonadas pelos próprios criadores” e que correm o risco de frear a criatividade nacional.

“Não podemos criar uma legislação superada. A União Europeia não é referência em inteligência artificial. Lá fizeram uma lei que funciona como carro com freio, mas sem motor. Nós precisamos de motor e freio”, disse, sob aplausos da platéia que participou do 3º Brasília Summit, evento que reuniu autoridades, empresários e representantes do setor de tecnologia e inovação, promovido pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais.

O governador relatou visitas à China e à Índia como experiências que deixaram claro o atraso brasileiro. “Na China, já estão tão distantes que não dá para alcançar. E quando fui à Índia, percebi que, se não fizermos algo, não teremos mais com quem competir na área de inteligência artificial”, afirmou.

Segundo Caiado, enquanto potências emergentes adotam modelos de código aberto e estímulo à inovação, o Brasil corre o risco de impor barreiras que afastam investidores e desestimulam jovens talentos.

Dependência crítica e soberania digital

O governador também chamou atenção para a vulnerabilidade estrutural do país. Segundo ele, 60% da carga de dados brasileira está concentrada nos data centers da Virgínia (EUA), o que coloca em risco serviços estratégicos como Pix e SUS. “Se amanhã essa estrutura não estiver disponível, nada funciona. Precisamos investir em nossa própria capacidade, desenvolver data centers e avançar em inteligência artificial com base no que temos: energia limpa, biometano, água e capital humano”, destacou.

Educação e mudança de vocação

Caiado comemorou mudanças no perfil educacional de Goiás, apontando que, pela primeira vez, cursos ligados à tecnologia superaram medicina nos vestibulares. “No último Enem, o curso mais disputado foi Inteligência Artificial, seguido de Ciência da Computação. Medicina ficou em terceiro. Isso mostra que a juventude já percebe para onde caminha o futuro”, disse.

O governador, que está em campanha para a presidência da República, citou exemplos de inovação desenvolvidos em Goiás, como ônibus movidos a biogás e startups de combate à violência apoiadas pelo governo estadual. Mencionou ainda a transformação no agronegócio, onde o uso de dados permite monitorar pragas com precisão de centímetros. “Estamos mostrando que tecnologia brasileira existe e pode ser referência. Mas precisamos de ambiente regulatório que incentive, não que puna”, reforçou.

Governo federal

Em tom político e crítico, Caiado criticou a falta de prioridade do governo federal na área de tecnologia. “Enquanto o mundo anda a 200 km por hora, o Brasil fica preso em fofocas e debates sobre 8 de janeiro. A pauta deveria ser educação, saúde e inteligência artificial”, disparou.

Para ele, o futuro do país depende de uma legislação moderna, aberta e voltada para a inovação, capaz de atrair cérebros e investimentos. “Se insistirmos em regras restritivas, vamos continuar perdendo cientistas para os Estados Unidos e a Europa”, concluiu.