
Por Ricardo Recchi* – Pressionados pelas demandas crescentes de eficiência, transparência e melhor atendimento ao cidadão, os órgãos públicos começam a investir no potencial da Inteligência Artificial Generativa (GenAI) como alavancar para modernizar seus serviços e processos.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça ( CNJ ), o número de projetos com IA no Judiciário cresceu 26% em 2023, alcançando 140 iniciativas mapeadas em 94 órgãos, incluindo tribunais e conselhos. Em 2025, esse movimento ganhou força com a publicação de normas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE), com foco em garantir o uso ético, seguro e responsável da tecnologia.
Alinhado a esse panorama, o Governo Federal, em parceria com o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) lançou uma cartilha como guia de uso e boas práticas da IA Generativa no setor público. O objetivo é instruir os servidores a utilizar uma ferramenta de forma correta para usufruir de seus benefícios.
Na prática, vemos um movimento de adoção da GenAI para acelerar a inovação na esfera pública. Um exemplo é o atendimento ao cidadão, por meio de assistentes treinados em bases normativas e regulatórias, que esclarecem dúvidas sobre benefícios sociais, como Bolsa Família ou INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), ou ainda orientam sobre agendamentos de serviços, como emissão de documentos. O grande trunfo dessas soluções é permitir que os visitantes dos sites de órgãos públicos façam perguntas e recebam respostas imediatas, informações que, normalmente, estariam disponíveis apenas após longas pesquisas em perguntas frequentes ou navegação por diversas páginas. Isso reduz filas, sobrecarga de call centers e melhora a experiência do cidadão.
Já para os servidores, os assistentes podem ser aplicados para obter informações sobre políticas comerciais em empresas de energia, por exemplo. Ao invés de revisar manualmente um grande volume de documentação, o que consome um tempo valioso que pode ser investido em tarefas mais produtivas, um assistente de IA pode auxiliar a equipe, agilizando as consultas sobre documentos internos, além de melhorar a eficiência e o acesso às informações.
Além dos assistentes, os agentes de IA também vêm ganhando espaço dentro dos órgãos públicos para automatizar tarefas como triagem de documentos, acompanhamento de prazos administrativos, identificação de inconsistências em bases de dados e emissão de alertas preventivos sobre riscos como inadimplência, fraude ou descumprimento de metas. O CREA-RS (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul), por exemplo, inovou incorporando comandos de voz e IA Generativa no processo de emissão de Anotações de Responsabilidade Técnica (ART) – documento essencial para o início de obras ou projetos para os quais engenheiros do Estado foram contratados. Essa funcionalidade acelerou significativamente o procedimento, que antes era manual e suscetível a erros de digitação.
Outro campo promissor é o de gestão orçamentária e de compras públicas, que pode contar com agentes de IA para analisar históricos de licitações, avaliar padrões de consumo e sugerir melhorias nos processos de aquisição, combatendo desperdícios e promovendo uma alocação de recursos mais eficiente. Além disso, com o apoio de agentes preditivos, órgãos públicos já iniciaram análises automatizadas de risco de fraude ou evasão escolar, usando dados históricos e modelagem preditiva para antecipar problemas e agir preventivamente.
Mesmo com um horizonte cheio de possibilidades, existe uma percepção de que a adoção de soluções de IA precisa enfrentar barreiras como as deficiências de equipes de TI, orçamentos restritos e a complexidade de integração com sistemas legados.
Para superar esses desafios, as plataformas especializadas em IA Generativa, que possuem estruturas completas de serviços, frameworks e componentes de IA corporativa, suportam a adoção de assistentes e agentes de maneira ágil, eficiente e independente de modelos e fornecedores.
Essas soluções, projetadas para acelerar a criação e a implantação de soluções baseadas em IA Generativa, PLN (Processamento de Linguagem Natural) e Machine Learning, oferecem integração robusta com ambientes corporativos complexos, como os dos órgãos públicos, fornecendo uma tração significativa no tempo de implementação, assim como considera a segurança e a privacidade dos dados em sua manipulação e processamento. Outro atributo é a eficiência e a precisão no processamento de grandes quantidades de documentação sem comprometer o desempenho, permitindo escalabilidade e atualização da base de documentos de forma contínua.
A aplicação de agentes e assistentes de IA no setor público não é apenas uma inovação tecnológica, é uma resposta concreta à exigência da sociedade por serviços mais eficientes, acessíveis e transparentes. Com o suporte de plataformas especializadas e modelos de entrega que combinam tecnologia e consultoria, os governos podem escalar essas inovações com segurança, governança e velocidade.
O futuro da administração pública será definido não apenas pela digitalização dos serviços, mas pela inteligência com que esses serviços são especializados, inovadores e aprimorados continuamente, sempre com o cidadão no centro.
*Ricardo Recchi é gerente regional Brasil-Portugal da GeneXus, empresa especializada em plataformas Enterprise Low-Code que simplificam o desenvolvimento e a evolução de softwares por meio da Inteligência Artificial.