Transição produziu diagnóstico para nada

O documento de 100 páginas apresentado ontem (22) pelo futuro presidente Lula é pífio nas áreas de Ciência e Tecnologia e Comunicações. Não traduz a realidade daquilo que o governo irá pegar nos próximos anos, não trata da situação de caos em determinadas áreas e da falta de objetivos em outras. O documento contém uma série de frases soltas, discursos de palanque e não reflete o diagnóstico que as equipes fizeram em cada setor.

Ontem publiquei o “resumo” do GT de Comunicações que virou uma obra prima da inutilidade, não serve para avaliar nada do setor. Ficou claro que o enxugamento do conteúdo foi tamanho, que até se esqueceram citar a Telebras como principal estatal, que está pronta há anos para executar políticas públicas de inclusão digital. Resta saber se esse “esquecimento” foi proposital ou não. Os coordenadores desse grupo são suspeitos em relação à essa estratégia. Foram os idealizadores do PNBL – Plano Nacional de Banda Larga, que no Governo Dilma jogou a Telebras ao limbo político para facilitar um projeto ruim de conectividade com o apoio das empresas de telefonia.

O esquecimento da Telebras agora é mais um indício de que esse mesmo grupo continua operando dentro dos governos do PT em favor das empresas, mesmo sabendo (parece que não aprenderam) que há anos elas já deixaram claro que não farão conectividade em locais onde não tiver lucro. Como alternativa, esse mesmo grupo fala agora em “subsídios” para empresas baratearem o custo dos aparelhos celulares e construírem redes, misturado com fabricantes de computadores que querem novamente empurrar milhares de “PCs conectados”, sem nenhuma política publica educacional embutida neles. Voltam a defender redução de impostos como o ICMS, mesmo sabendo que ele é um imposto estadual e, portanto, sem os governadores aceitarem essa perda de receita, nada sairá do campo das boas intenções. Aliás, quero ver os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que não são da “situação”, apoiarem tal ideia.

Já o resumo do GT de Ciência e Tecnologia foi pelo mesmo caminho. Não traduz a realidade orçamentária da pasta, não explica a situação de descalabro em diversas unidades de pesquisa científica, em programas estratégicos para o país. No máximo embute a ilusão de que as bolsas dos cientistas serão reajustadas graças à folga de caixa que a pasta ganhou com a PEC da Transição.

O que mais chama a atenção no resumão do GT de Ciência e Tecnologia, foi que o texto também ignorou as 83 páginas de diagnósticos e recomendações produzidas pelo braço de “Tecnologia Informação”, a partir de uma análise superficial que fizeram da situação do Governo Bolsonaro na área.

Certamente a coordenação da Transição não quis esconder a situação do Governo Bolsonaro dos olhos da opinião pública, ao decidir que não forneceria para a imprensa os relatórios completos, optando pela divulgação de um documento de 100 páginas risível, sem nenhuma informação.

O que a coordenação da Transição quer esconder são os alertas e as sugestões de soluções extraídos dos diagnósticos, que os GTs fizeram para o Governo Lula adotar nos primeiros 100 dias. Isso é típico de todos os governos, não é invenção do PT ou da coalizão de partidos que apoiam Lula.

Esconder da imprensa essa parte dos relatórios, significa não se comprometer a futuro, quando passarem os 100 dias e a imprensa começar a avaliar o que foi prometido pelo novo governo e o que foi possível cumprir nesse período. É quando os próceres do PT acreditam que o “namoro” com o novo governo acabará junto à imprensa.

O relatório de 100 páginas divulgado ontem não passa de uma estratégia de “controle de danos”. Pois é muito diferente um ministro dizer agora o que pretende fazer, sem ter sentado ainda na cadeira, com o que ele poderá efetivamente fazer quando estiver confortavelmente nela.

*Palavras ou bravatas se diluem ao vento com o tempo. Relatórios postos no papel, não.