Por João Amato Neto *– As inovações revolucionárias relacionadas às novas tecnologias associadas à chamada Indústria 4.0 estão provocando profundas transformações nas formas de se produzir e comercializar bens e serviços, assim como no contexto do trabalho das empresas. Segundo a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) a estimativa de redução de custos industriais no Brasil, a partir da incorporação destas inovações pela indústria será de cerca de R$ 73 bilhões/ano (R$ 34 bilhões/ano ganhos no processo produtivo, R$ 31 bilhões/ano com redução de custos de manutenção de máquinas e equipamentos e R$ 7 bilhões/ano com economia de energia. Por outro lado, ainda segundo a ABDI, os níveis de automação e sensorização na indústria brasileira ainda estão bem aquém dos padrões da indústria 4.0: apenas cerca de 5% das empresas industriais haviam atingido este nível (pesquisa com 214 empresas de diversos portes e cadeias produtivas, realizada entre março de 2019 e maio de 2018).
A Indústria 4.0 é marcada por uma nova ruptura no paradigma tecnológico e expressa uma transição entre a Terceira Revolução (que durou cerca de 40 anos-1969-2010) e a Quarta Revolução Industrial, cujo maior protagonista é a Internet. Sob esta nova realidade os sistemas de automação industrial serão orientados a maior integração de máquinas e equipamentos. Para isso a plataforma técnica deve estar estruturada com redes industriais, sistemas de otimização e banco de dados. Em síntese, o modelo de produção da Indústria 4.0 será baseado em 2 grandes vertentes: Internet das Coisas (IoT) – ambiente onde todos os equipamentos e máquinas estarão conectadas em redes e disponibilizando informações de forma única; Utilização de Big Data – para geração, transmissão, armazenagem, envio e análise de dados na modelagem para tomada de decisões autônomas.
Este fenômeno tem sido analisado por diversos autores e sob diferentes ângulos, priorizando, via-de-regra, a realidade das grandes empresas. Entretanto, sabe-se que o contexto econômico da maioria dos países latino-americanos, e em particular o Brasil, é marcado pela predominância de pequenas e médias empresas, que respondem por grande parte da renda gerada e pelo nível de ocupação da força e trabalho. No Brasil existem 6,4 milhões de estabelecimentos., e desse total, 99% são micro e pequenas empresas (MPE).
Como parte de um projeto maior da Comissão Europeia de Pequena e Média Empresas (EUROMIPYME) chamado “Melhores políticas para micro, pequenas e médias empresas na América Latina”, financiado pela União Europeia, foi realizada uma pesquisa sobre a adoção e uso de novas tecnologias digitais em Micro, Pequenas e Médias Empresas – MPMEs industriais em um grupo selecionado de países da América Latina e liderado pela Universidade Nacional de Rafaela (UNRaf) da Argentina, sob a supervisão metodológica da Divisão de Desenvolvimento Produtivo e Empresarial da Comissão Especial para a América Latina (CEPAL), este trabalho de pesquisa faz parte do projeto.
No caso do Brasil, foi selecionada uma amostra intencional de 15 empresas brasileira de pequeno e médio portes de várias cadeias produtivas (metalomecânico/autopeças, têxtil/confecção, produtos para agricultura de precisão, equipamentos eletrônicos, produtos para a agricultura de precisão para a produção de alimentos, etc.) pode-se constatar que: 8 delas já adotam projetos de sensores e Internet das coisas; 8 delas também utilizam computação em nuvem; 3 PMEs incorporaram soluções de robótica avançada; 3 destas também adotaram implementações de impressão aditiva/3D; 3 empresas já estavam implementando soluções de inteligência artificial, enquanto 1 das empresas da amostra utilizava análise de “Big Data”, enquanto outra utilizava aplicativo de realidade virtual aumentada.
Ainda que restrita à esta amostra de apenas 15 empresas, pode-se constatar que o processo de incorporação das novas tecnologias revolucionárias pelas PMEs deverá se acelerar nos próximos anos, tendo em vista as necessidades de aumento da produtividade e maior poder de competitividade das empresas.
Em parceria com a Universidade Nacional de Rafaela (UNRaf) da Argentina, a Fundação Vanzolini desenvolveu um programa da “Formação em Indústria 4.0 para Pequenas e Médias empresas” no formato on-line, que se destina especialmente aos líderes e gestores de pequenas e médias empresas (PMEs), tendo em vista oferecer conceitos, métodos e ferramentas para que consigam contextualizar, interpretar e responder melhor à transformação digital da indústria de manufatura, denominado modelo Indústria 4.0. Os estudos de caso e exemplos de aplicação do mundo real permitirão que os alunos se envolvam com os desafios da indústria e desenvolvam uma compreensão das tecnologias e inovações que estão revolucionando o desenvolvimento futuro dos negócios.
*João Amato Neto – Coordenador da Pesquisa no Brasil pela Poli/USP e Presidente da Diretoria Executiva da Fundação Vanzolini