O estranho monitoramento de funcionários do Serpro com o Office 365

A área de Desenvolvimento do Serpro (mas pode estar ocorrendo em outros setores da empresa) está sob uma espécie de “controle” que tem cara de ação policialesca. Com a desculpa de “avaliar para melhorar” o desempenho dos profissionais que estão em home office, a estatal vem se valendo de ferramentas do Office 365, da Microsoft, para saber o que eles andam fazendo dentro e fora da rede da empresa, com quem interagem e se estão supostamente ociosos ou trabalhando fora de hora.

Este blog obteve uma imagem de correspondência que cada funcionário da área de Desenvolvimento vem recebendo, com uma avaliação do seu desempenho. Que deixa claro que a direção vem monitorando, sabe-se lá se por desejo de obter ganhos de produtividade no trabalho ou para exercer pressão contra eventuais vazamentos de informações. Até agora não houve registros oficiais de que o Serpro tenha sido alvo dessas ações, ainda mais contando com a iniciativa de funcionários.

Para evitar perseguições, este blog rasurou o documento com retângulos vermelhos onde deveria aparecer os porcentuais analisados pela direção para definir se o trabalhador está ocioso, se poderia atuar mais ou se estaria “silencioso” (?).

O Office 365 aprimorou suas ferramentas do “MyAnalytics” após a pandemia, como forma de permitir que as empresas possam avaliar o desempenho de suas equipes. Porém essa avaliação não é setorial, feita por área e anonimizada. A empresa invade o Outlook do funcionário e recolhe todos os dados sobre o comportamento dele.

As ferramentas de análise permitem, por exemplo, que se extraia porcentagens de cada usuário que salva conteúdos na nuvem da Microsoft ou que compartilham arquivos com usuários externos. Fornece ainda informações técnicas sobre os PCs dos funcionários, se eles armazenam dados em discos rígidos convencionais ou por meio de SSDs.

Empresas podem e devem avaliar o desempenho de suas equipes. Mas saber com quem interage fora do ambiente da empresa tem amparo legal?

O Office foi instalado em outubro do ano passado em todo o Serpro. O pacote Office 365 substituiu a plataforma de comunicação “SerproMail”, fruto de uma “parceria” com a Zimbra, que nunca ficou clara quanto rendeu financeiramente para a estatal e para o parceiro.

*Fica a indagação: se fazem isso com funcionários, o que não farão com os dados dos cidadãos brasileiros? Ainda mais depois que a Receita Federal autorizou a liberação de informações de contribuintes pessoas físicas ou jurídicas, desde que “autorizadas” pelo dono das informações. Decisão questionável, que só beneficiaria bancos e outros segmentos do mercado financeiro.