Jogar é preciso, viver também

Por Jeovani Salomão* – – “Eu adoro jogar, porque quando eu erro e perco, sei que posso começar novamente” – Autor quase desconhecido.

Para a alegria de muitos e a tristeza de outros, as plataformas de streaming proliferaram. Em especial, por causa do enorme sucesso da Netflix, muitos players, alguns novos e outros egressos de diferentes áreas do setor de diversão, adentraram na disputa pelo público. Com planos variados, as empresas oferecem opções diversas que possibilitam uma ampla gama de alternativas para os usuários. Muitos, inclusive, optam por pagar várias plataformas simultaneamente.

Sem a intenção de ser exaustivo, faço abaixo uma lista dos principais serviços que estão disponíveis atualmente:

Impressionante, não é? Opções para gostos dos mais variados. Isto sem contar o Youtube e o Twitch – mais importante canal de streaming para jogos. O setor vem crescendo mundialmente e investindo em produções de diferentes regiões geográficas. Para exemplificar, segundo o site Maiores e Melhores, as cinco séries mais assistidas no mundo são:

  1. Squid Game – Round 6
  2. The 100
  3. La Casa de Papel
  4. Lupin
  5. Bridgerton

A primeira é uma produção sul-coreana, a segunda e quinta são americanas, a terceira é espanhola e quarta francesa. A diversidade é sem dúvida um dos pontos altos do entretenimento e os streamings conseguiram internalizar este conceito extremamente bem. Por aqui, algumas boas obras foram feitas e têm alcançado projeções mundiais, como é o caso de “Coisa mais Linda” , “3%” (sob a qual escrevi em um artigo recente) e “Sintonia”.

Todo este universo fantástico, com investimentos robustos ao redor do planeta e uma audiência crescente, representa um faturamento de 61 bilhões de dólares anuais, segundo o site Statista. E as projeções são animadoras, estima-se que a indústria vai continuar a se expandir nos próximos anos e, em breve, superar a casa de 100 bilhões de dólares anuais.

É possível que as informações não sejam completamente novas para você, leitor. Talvez, inclusive, você já pudesse imaginar a importância das séries e filmes na economia global, até porque os streamings começaram a fazer parte do nosso dia a dia. Falei deste mercado, mais conhecido, para comparar com outro titã, o setor de games, cujo faturamento global é, simplesmente, quase três vezes maior que o de streaming. Estamos falando de 178 bilhões de dólares em 2020, segundo o site Olhar Digital.

Os jogos consumidos são dos mais variados, desde os clássicos, como xadrez, damas, poker e jogos de cassino, até aqueles em primeira pessoa, onde o jogador vive uma imersão cada vez mais real em suas aventuras. A diversidade, pluralidade, heterogeneidade estão em seus níveis máximos no mundo dos games. Sem dúvidas, este é um dos fatores que leva a popularização.

A brasileira Loud, organização de e-sports, possui mais de 7,7 milhões de seguidores nas redes sociais. Apenas para se ter uma ideia do que isto significa, somente 8 times brasileiros de futebol têm números melhores: Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Vasco e Atlético mineiro.

A tendência deste mercado é de expansão ainda mais acentuada do que aquele previsto para os streamings. O site Olhar Digital aponta um crescimento de até 70% nos próximos 4 anos. Atualmente, ao redor do mundo, as arenas reservadas aos esportes tradicionais são cada vez mais invadidas pela nova onda. E-sports como League of Legends – LOL, Call of Duty, Counter Strike, Dota e Fortnite arrastam multidões de fãs. O primeiro da lista, LOL, já teve picos de 100 milhões de expectadores únicos em suas finais, feito equiparável ao Super Bowl – partida final da principal liga de futebol americano dos Estados Unidos.

A citação que mencionei no início do artigo, talvez seja uma das razões pelas quais tantas pessoas adoram jogar. É uma distração, um entretenimento, algo que oferece desafios, mas permite que você recomece e tente novamente sem maiores consequências. O autor era um conhecido que partilhava comigo o gosto pelo Go e pelo Xadrez, cujo nome não me lembro, afinal a passagem dos anos tem o dom de apagar algumas informações.

Com o Metaverso, os games vão ganhar dimensões adicionais. Haverá jogos dentro de outros jogos. O nível de abstração será cada vez maior e o vício, mal de muitos jogadores, pode trazer prejuízos para uma vida saudável. Ao contrário do pensamento célebre de Fernando Pessoa, há época das grandes navegações, acredito que jogar é preciso, mas viver também.

*Jeovani Salomão é fundador e presidente do Conselho de Administração da Memora Processos SA, Membro do conselho na Oraex Cloud Consulting, ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional e escritor do Livro “O Futuro é analógico”.