A Terra ficará radioativa!

Por Jeovani Salomão* – Sou um otimista nato. Esta é uma condição presente em qualquer empreendedor. Seja o comerciante de rua, o dono de um pequeno negócio ou um grande empresário, todos somos otimistas. Não pode ser diferente, porque empreender requer acreditar em um futuro favorável.

Quando um indivíduo consegue um emprego, ele tem a certeza de trabalhar o mês inteiro e, ao final, está completamente seguro de que vai receber seu merecido salário. Mas quando se abre um negócio, cria-se a expectativa de que alguém vai entrar ali e consumir o produto ou serviço da prateleira, ou seja, só existe remuneração se o ideário daquele que investiu for concretizado. Nem sempre ocorre assim. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, mais de 70% dos negócios fundados no país não sobrevivem por mais de 10 anos.

Este longo preâmbulo é apenas para, em contraste com o meu natural, fazer uma previsão pessimista: a Terra ficará radioativa.

Tudo começa com uma notícia alvissareira, este ano o Astrofísico Dr. Erik Lentz publicou um artigo na renomada revista “Classical anda Quantum Gravity”, no qual afirma que é possível atingir velocidades superiores à da luz utilizando os conceitos, materiais e teorias da física convencional conhecida. As abordagens anteriores sempre necessitavam de um componente hipotético, como a “energia exótica”, o que levava o assunto mais para o campo do imaginário do que da prática.

Para aqueles que gostam de ficção científica, trata-se do mesmo dispositivo utilizado na série “Star Trek”: os motores de dobra. Em uma comparação grosseira, mas que tem como mérito ser compreensível, imagine que um objeto queira viajar de um lado ao outro de uma folha de papel. Normalmente, ele deveria percorrer a extensão inteira da superfície e, na melhor das hipóteses, poderia efetuar o percurso na velocidade da luz. Imagine que, ao invés disto,  tal objeto pudesse dobrar o papel, de forma que o ponto de partida tocasse o ponto de chegada. Assim, a viagem seria muito mais veloz.

Considerando as tecnologias dos foguetes atuais – ainda muito inferiores à da luz -, uma viagem de ida para Próxima Centauri, distante 4.243 anos-luz do nosso sol,  levaria algo em torno de 50 mil anos. Com a aplicação da teoria de dobras, a mesma viagem poderia se realizar em 2 ou 3 anos.

O que o mencionado estudioso e uma startup chamada “Física Aplicada” asseguram é justamente a possibilidade de fazer com o espaço-tempo algo parecido com o que se fez com o papel, em nossa reconstituição caseira do fenômeno. O problema, no caso real das aventuras galácticas, é a enorme quantidade de energia que se deve gerar em um artefato tão pequeno quanto uma nave espacial.

Com os materiais e procedimentos conhecidos atualmente, o único caminho possível, embora ainda muito distante, é o de fissão nuclear. Tal fenômeno ocorre quando átomos com núcleos muito grandes, como no caso o urânio, desestabilizam-se, desintegram-se e criam átomos com núcleos menores – no caso específico, em geral, bário e criptônio. A transformação libera uma gigante quantidade de energia. A associação com a bomba nuclear é imediata e, infelizmente, correta.

O ímpeto da humanidade para expandir suas próprias fronteiras irá provocar, cedo ou tarde, mais uma corrida espacial. Sob este pretexto, as potências mundiais intensificarão o enriquecimento do Urânio, além de provavelmente encontrarem outros elementos químicos com propriedades similares. Em síntese, a corrida pela energia virá antes da espacial, de maneira voraz, dado que energia pode se utilizar para diversas finalidades.

No caminho, as disputas pela supremacia podem levar a guerras nucleares ou a imprudências que acarretem acidentes graves. Tanto uma hipótese quanto a outra, colocam o habitat do nosso pequeno planeta em ameaça.

Em Star Trek, tão logo uma raça desenvolva os motores de dobra, ocorre o primeiro contato com aquelas que já dominam a tecnologia. No caso dos terráqueos, nossos interlocutores, na obra de ficção, foram os vulcanos, cujo personagem mais icônico talvez seja o senhor Spock, aquele de orelha pontuda, também conhecido pelo alto padrão de racionalidade e supressão das emoções. O episódio fictício levou nosso planeta a um governo central e ao uso pacífico da fissão nuclear.

Acredito que em nosso universo, povoado por mais de 10 sextilhões  de estrelas, organizadas em mais de 100 bilhões de galáxias, exista vida além daquela que nós conhecemos. No entanto, se houvesse vida inteligente, a ponto de dominar conhecimentos tão avançados, creio que já teríamos sido encontrados. O motor de dobra é muito mais provável que uma raça que se pareça com os vulcanos e, sem orientação externa, imparcial e construtiva, infelizmente, as disputas pelo poder tendem a nos levar a fazer besteiras. Sendo assim, contrariando meu costumeiro otimismo, termino como comecei: a Terra ficará radioativa!

*Jeovani Salomão é fundador e presidente do Conselho de Administração da Memora Processos SA e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.