Devíamos aprender com os guias turísticos

Por Jeovani Salomão* –  Nesse final de semana estive em Florianópolis, em um evento promovido pelo resort Costão do Santinho. A pandemia impingiu severos desafios ao setor de turismo, o que pode ter levado a falência muitos empreendimentos. O Costão, no entanto, é um estabelecimento sólido, reconhecido nacionalmente. Sentiu sim os impactos como os demais, mas ao contrário de apenas reclamar da situação, promoveu uma reflexão que trouxe alternativas que até então não haviam sido contemplas. Ao invés de explorar somente seus espaços internos, a COVID fez refletir sobre a possibilidade de arenas alternativas, em locais externos. Assim, foram criadas estruturas que permitem que você usufrua do seu evento ao som das ondas do mar, da brisa da região e ouvindo os pássaros ao fundo. Pode, também, estar próximo da floresta com seus encantos.

A tecnologia, como sempre, entrou em cena. Para ter um espaço de eventos vizinho a, por exemplo, áreas de lazer, as palestras são transmitidas diretamente um aparelho receptor, que sintoniza vários canais, e fones de ouvido individuais. Dessa forma, o animador da hidroginástica da piscina ao lado pode fazer seu trabalho sem se preocupar com qualquer interferência no evento. Os desafios foram transformados em novas oportunidades de negócios. Além de ampliar a variedade, e por consequência a atratividade, aumentaram a capacidade de eventos simultâneos, o que ao longo dos anos trará mais resultado do que no cenário anterior.

Os serviços impecáveis, que estiverem presentes em toda minha estada,  começaram com o transporte do aeroporto para o evento. Fomos acolhidos pelo Sr. Ronaldo, que além de nosso motorista, mostrou-se um verdadeiro guia turístico. Como tal, a cada ponto da bela ilha, ele fazia suas observações entusiastas. Não nasceu ali, é paulista, mas vive no local por mais de vinte anos. Já se considera um nativo, um “manézinho”, como carinhosamente são chamados os que nascem por lá.

Devíamos aprender mais com esses profissionais, eles possuem a extraordinária característica de apresentarem, repetidamente e com ânimo, os pontos fortes da sua terra. Conseguem transformar a construção de um mero shopping, em um verdadeiro marco de desenvolvimento econômico. Contemplam suas reservas e belezas naturais, conhecem a histórias dos homens e mulheres da região, sabem da origem de cada monumento, de cada cor da aquarela. Supostamente conhecem, inclusive, os nomes dos ilustres que moram nos condomínios de luxo da região. Os famosos emprestam credibilidade para os empreendimentos imobiliários. Curioso, nesse quesito, que alguns mais conhecidos, como Luciano Huck e Xuxa, possuem tantas propriedades que eu já perdi as contas.

Muitas vezes, na nossa correria do dia a dia, deixamos de apreciar os pontos positivos da nossa cidade, da nossa empresa, da nossa família. O cotidiano, por vezes,  faz com que nosso foco se vire para os defeitos ao invés das virtudes das pessoas amadas.

Voltando ao nosso tour, sendo eu do setor de tecnologia da informação e conhecendo o fantástico desempenho das empresas de Santa Catarina, em especial de Florianópolis onde estávamos, perguntei ao guia sobre quais eram as vocações econômicas da região. Sem pestanejar, mencionou o setor de tecnologia, que já superava o setor de turismo. Não demonstrei qualquer conhecimento sobre o assunto e ele continuou a mencionar empresas, parques tecnológicos, estabelecimentos de ensino, em especial a universidade, e entidades da área. Falou sobre os bons salários que são pagos pelo setor e da potência que é o estado e a cidade.

Tive orgulho. Há em mim um senso de pertencimento ao setor pelos muitos anos que me dediquei voluntariamente a ele, além de ser empresário da área. Possuo uma forte crença que esse é o futuro do Brasil. Louvo o agronegócio e os resultados que trazem constantemente para o país, assim como também outros nichos econômicos de grande vulto, como os relacionados ao petróleo, minérios, a indústria de transformação. Mas não podemos colocar nosso destino exclusivamente nas mãos de commodities. O mercado mundial controla as commodities, não nós. As sociedades mais prósperas e autônomas precisam ter como base da economia o conhecimento.

O sucesso da área, no entanto, depende de planejamento e de políticas públicas adequadas. Santa Catarina não está aí por acaso. Lembro-me, desde o começo da década de noventa, das delegações “barrigas-verdes” em feiras importantes, como a saudosa FENASOFT. Estavam lá, animados, trazendo inovações, cooperando, com o apoio de entidades como o SEBRAE e os governos estaduais e municipais. Fizeram seu próprio caminho pensando no longo prazo. Sinto-me lisonjeado de conhecer alguns desses valentes desbravadores do setor no estado e tenho a honra de poder chamá-los de amigos. Hugo Dietrich, Victor Kochella, Gerson Schmitt e Daniel Leipnitz são alguns dos protagonistas dessa história de sucesso, a eles, e a tantos outros, rendo minhas homenagens e meus aplausos.

Meu desejo é que possamos apreciar constantemente o que existe de bom em torno de nós, como fazem os guias turísticos, e que possamos ter a mesma capacidade desses heróis de Santa Catarina de transformar, com planejamento e trabalho árduo, nosso futuro em algo de tanto sucesso quando o setor de Tecnologia da Informação catarinense.

*Jeovani Salomão é empresário do setor de TICs e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.