Google: defina “conteúdo de alta qualidade” e informe sobre quem deseja pagar?

Circulou nesta segunda-feira (17) em grupos de discussão da profissão de jornalista uma informação de junho deste ano, que bate de frente com uma proposta que circula ainda de forma acanhada no meio, que fala sobre propor ao Legislativo a remuneração do conteúdo jornalístico pelas plataformas de aplicação.

Essa proposta ainda está em fase embrionária entre os profissionais, mas bastante avançada entre as empresas do setor, inclusive com apoio dos veículos publicitários e da cadeia produtiva que orbita em torno da notícia.

As principais entidades que representam os jornalistas estão mudas, não disseram o que pretendem fazer no Brasil até o momento. Embora o assunto esteja sendo amplamente divulgado na imprensa internacional através de notícias que chegam da Austrália, França, Espanha, Irlanda, entre outros.

Mas voltando ao assunto, a notícia que circulou hoje foi dada em junho pela repórter de mídia Sara Fischer no site “Axios” , diz que o Google resolveu criar um “programa de licenciamento para pagar as editoras por conteúdo de alta qualidade”.

Começo o questionamento com as seguintes indagações:

1 – Que critério o Google usará para definir, no Brasil, o que é “conteúdo de qualidade”?

2 – Quem conferiu ao Google poderes no Brasil para definir que o conteúdo “A” é de qualidade e o conteúdo “B” não?

3 – E, com base neste obscuro critério, que ninguém sabe exatamente qual é, por que caberia ao Google definir a quem “pagar”?

Na notícia publicada pelo Axios aborda ainda que, algumas empresas já estariam assinando acordos com a plataforma para serem remuneradas dentro do critério “Google de qualidade”. Inclusive no Brasil. ( A reportagem de Sara indica quais).

Volto a indagar: e os jornalistas? Aqueles que por falta de espaço nas redações brasileiras estão empreendendo sozinhos? Venho colecionando casos de fracassos que ocorreram no país, com diversas boas iniciativas criadas por jornalistas, que até ontem eram as principais estrelas de seus jornais e revistas, entre outros veículos. Mas na Internet não deram certo.

O fracasso não estava ligado ao conteúdo ou ao jornalista. Estava justamente na incapacidade deles virarem empreendedores, numa Internet que não compreendiam direito o novo modelo de estrutura de remuneração. Um modelo no qual as plataformas de aplicações definem o que pagar, como pagar e quem irá receber. Mas ganham muito dinheiro com eles.

Há casos fantásticos de denúncias de fraudes que teriam sido cometidas por esses provedores de aplicações, para não remunerar ou remunerar menos do que o previsto através das métricas que impõem aos detentores autorais deles.

Por exemplo, já ocorreram casos de redes sociais simplesmente desaparecerem com um determinado número de seguidores de uma página de notícias, para evitar que esta alcance a meta de remuneração ou amplie essa faixa de remuneração pelo conteúdo jornalístico que veicula.

Agora vem o Google e anuncia um programa que não chamou ninguém para discutir. Simplesmente está impondo essa nova regra, como se fosse um benefício ou uma “preocupação com a situação do mercado”, porque pela primeira vez está preocupado com um mal maior: ter de pagar, na marra, por força de leis que alguns países já iniciaram o debate para votar. Coisa que poderá ocorrer no Brasil.

*Eu continuo acreditando que os jornalistas brasileiros, sobretudo, os mais jovens, ainda acordarão para essa questão. Sei lá, sou um otimista.