Por Jeovani Salomão* – Depois da frustrante derrota da seleção brasileira para a Bélgica na Copa do Mundo de 2018 e considerando o pífio desempenho do meu time do coração, que mais uma vez foi parar na segunda divisão, tenho assistido muito poucas partidas de futebol. Neste mês de julho, no entanto, ocorreram duas finais muito interessantes, Brasil e Argentina pela Copa América e Inglaterra e Itálica pela Eurocopa. Para minha tristeza, nossa seleção perdeu e logo para nosso maior rival.
Como já temos um número imenso de especialistas do esporte no país, vou me abster, mas não totalmente, dos comentários futebolísticos e dedicar-me a outros fatores que rondaram as partidas. Em primeiro lugar, chamou muita atenção a diferença da presença do público. Em Wembley, em torno de 60 mil pessoas assistiram a final, número que corresponde a 75% da lotação do estádio. Houve outras aglomerações tanto em Londres quanto em Roma, demonstrando uma de duas coisas. Ou os Europeus confiam na vacina, ou tanto os governantes quanto a população são tão fanáticos por futebol que colocaram suas vidas em risco para assistir uma partida. Embora a realidade possa refletir um pouco de cada coisa, acredito que majoritariamente a primeira afirmação é a que teve mais peso. Na Inglaterra, aproximadamente 3 quartos da população adulta já foi vacinada com pelo menos 1 dose.
O Maracanã, por sua vez, recebeu apenas 10% de sua capacidade. A ideia era manter um afastamento mínimo de 2 metros entre as famílias, mas quem acompanhou o espetáculo sabe que a medida foi inefetiva, pois as pessoas se juntaram em blocos para poder torcer. No Brasil, 40% da população adulta já foi vacinada no mínimo com a primeira dose.
A diferença de público em eventos esportivos pode não ser tão relevante, mas estudos da Austin Rating apontam que os países que conseguiram combater o coronavírus de forma eficaz estão se recuperando mais rapidamente em termos econômicos. Embora no caso do Reino Unido isto não tenha ocorrido. O país ocupa apenas a 43ª posição em crescimento no último trimestre, das 50 economias analisadas, enquanto o Brasil está em 19º, segundo a agência.
Outro aspecto relevante é atração de eventos esportivos para o país. As nações mais desenvolvidas já compreenderam a importância de realizar competições de alto desempenho em seu território. Apenas como exemplo, no mesmo dia da final da Eurocopa, Londres foi palco de mais uma final do Grand Slam de Wimbledon, um dos eventos mais tradicionais do Tênis profissional. Exposição na mídia, turismo, movimento no comércio da cidade sede, promoção da imagem do país são apenas alguns dos pontos relevantes.
No Brasil, algumas vezes por falta de compreensão e outras por objetivos políticos, parte do público se rebela contra iniciativas desta natureza. Ocorreu nas Olimpíadas, na Copa do Mundo e agora na Copa América. Curiosamente, alguns que defenderam os eventos anteriores estavam atacando o último e vice-versa. Estamos com uma mania terrível de associar nossos pensamentos com a simpatia ou antipatia ao político do momento. Espero que um dia a população compreenda que Estado e Governo são conceitos distintos e haja uma convergência maior quanto a estratégia e as necessidades do primeiro, mesmo que as divergências quanto o segundo estejam presentes.
Detestei perder em nossa final, mas não se pode deixar de comentar a postura do grande craque argentino, Messi, antes durante e depois da partida. Apesar da rivalidade, o talento do atleta, que obteve seu primeiro título pela seleção, merece destaque. O Brasil jogou melhor, foi combativo, teve mais oportunidades, demonstrou disciplina tática, mas perdeu. Futebol é assim e talvez por isto seja o esporte mais adorado do mundo. Na decisão de lá, o técnico inglês, ao final da prorrogação, colocou 2 jogadores em campo com a finalidade exclusiva de escalá-los para a cobrança de pênaltis. Estes dois exímios cobradores erraram e contribuíram para a derrota da sua seleção para a Itália. Após o jogo, o treinador assumiu a responsabilidade e disse estar confiante nos atletas e na equipe para o mundial. Podem imaginar o que aconteceria com o sujeito se ele fosse técnico da seleção brasileira? Diferenças culturais que merecem ser analisadas.
Para concluir, assim com tem ocorrido em todos os setores, a tecnologia está invadindo o futebol. Seja na melhoria das transmissões, na preparação dos jogadores, no estudo dos adversários, mas também na garantia de uma melhor arbitragem com a adoção do já famoso VAR, sistema dos árbitros de vídeo. Segundo a UEFA, o dispositivo foi utilizado 276 vezes em 51 jogos, corrigiu apenas 18 decisões, ou seja, os árbitros de campo apresentaram um índice de acerto de 93,5%. Após o evento, as revisões foram analisadas e a entidade divulgou nesta semana o nível de acertos: 100%. Ressalto que as rápidas e acertadas intervenções com o uso da tecnologia no momento da partida, bem como os estudos posteriores, foram efetuadas de forma integralmente eletrônica, sem qualquer papel impresso das imagens para garantir a legitimidade do ocorrido.
*Jeovani Salomão é fundador e presidente do Conselho de Administração da Memora Processos SA e ex-presidente do Sinfor e da Assespro Nacional.