Teletrabalho na Dataprev pode provocar a primeira greve em estatal no Governo Lula

O Acordo Coletivo de Trabalho entre trabalhadores e a direção da estatal está emperrado. E não por conta do reajuste dos salários. Essa questão em princípio já está superada, embora ainda prossiga em negociações. O que ainda está causando problemas é a questão do teletrabalho. A direção quer passar para um modelo híbrido, mas há um temor dos trabalhadores de que possa ocorrer demissões durante esse processo. Se não houver um acordo logo, as regionais da Dataprev poderão acabar deliberando pela realização de uma greve de caráter nacional, que será a primeira em uma estatal no Governo Lula.

Nas negociações do novo acordo de trabalho, os negociadores da Dataprev não aceitam inserir o teletrabalho e argumentam que essa é uma decisão pessoal do presidente, Rodrigo Assumpção (foto). Sem passar pelo texto do acordo a ser assinado entre as partes, nada impede que o presidente amanhã promova demissões na empresa, sobretudo contra os trabalhadores de 20 regionais que foram extintas em 2020 e passaram a trabalhar em casa.

Na indecisão desse ponto, os sindicatos e a Fenadados começam a articular assembleias estaduais para deliberar sobre a proposta do ACT e o que fazer com a decisão da empresa em não tornar clara, no papel, que não pretende demitir trabalhadores. Há uma série possibilidade delas aprovarem uma greve geral, causando prejuízos para o funcionamento da estatal. Quanto mais demora para a direção da empresa tornar clara essa questão, a chance de uma greve cresce. No governo Bolsonaro os trabalhadores realizaram duas com sucesso.

Um abaixo-assinado está circulando na rede interna da empresa e, segundo um quadro de apuração parcial enviado ao blog, a adesão à proposta de teletrabalho foi unânime até agora.

Histórico

Em janeiro de 2020, no Governo Bolsonaro, a direção da Dataprev decidiu extinguir 20 regionais e mandar os trabalhadores dessas unidades para o olho da rua. Havia a intenção na época de enxugar todos os custos da empresa, pois a meta era privatizá-la. Para efetivar essa medida chegaram a criar um “PAQ” – programa de incentivo ao desligamento de funcionários da estatal. Que não agradou aos funcionários.

Os trabalhadores das regionais só restavam como alternativas, aderir a esse programa, ou sair de seus estados e ir trabalhar na regional do Rio de Janeiro. Porém, com a chegada da pandemia essa decisão foi revertida e todos os trabalhadores da estatal foram para o home office. Alguns foram parar no INSS, que teve problemas com seus quadros após a política de demissão em massa aplicada no órgão. A instituição entrou em colapso no atendimento ao cidadão.

Porém agora com o fim da pandemia, a direção da empresa quer a retomada do trabalho presencial por pelo menos três dias da semana. Só não explica o que fará com 493 funcionários que não têm como trabalhar presencialmente, pois suas regionais foram extintas ( números de trabalhadores que seriam demitidos na época da extinção).

Essa confusão leva ao blog indagar o seguinte: por que a direção da Dataprev quer demitir funcionários? Se a razão é enxugar quadro agora porque eles são desnecessários, por que contratar outros 200 via concurso, sem contar outros 90 extra quadros? Não daria para reaproveitá-los remotamente?

(Foto José Cruz – Agência Brasil).